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Divisão disseminará o caos no Pará

O Liberal - www.orm.com.br
25 de Abr de 2010

Um caos capaz de se estender a 244.830 mil km². Assim define o que pode acontecer com o Pará, se a fragmentação do Estado se tornar uma realidade, o economista e atual presidente da Cooperativa da Indústria Pecuária do Pará (Socipe), Afonso Chermont. A partir de hoje, O LIBERAL começa a publicar uma série de entrevistas que reforça a campanha liderada pelas Organizações Romulo Maiorana (ORM) e Associação Comercial do Pará (ACP) contra a divisão do Pará, retalhamento que resultaria na criação dos Estados do Tapajós e de Carajás. Nesta entrevista, a primeira da série, fica o alerta para o perigo dos marketings duvidosos a favor da divisão e para o exemplo de Estados próximos que fizeram sua força através da união. "Em dez anos, o Amazonas conseguiu um Produto Interno Bruto (PIB) praticamente igual nosso. Antes, não passava da metade quase, e eles superaram isso unindo políticos, governantes e toda a sociedade em uma política de desenvolvimento bastante efetiva e ainda respeitosa para com o meio ambiente", destaca Chermont, em entrevista à repórter Carolina Menezes. "Somos de um Estado rico com povo pobre. A separação não eliminaria a pobreza, mas criaria mais três outros Estados pobres", acrescenta o economia. A seguir, a íntegra da entrevista:

Primeiramente, o que significaria a divisão do Estado em termos gerais?

A divisão do Pará significa o caos para todo o Estado. Fazendo um raciocínio simples, imagine o que é dividir uma família, um divórcio, por exemplo. Os bens não são divisíveis e se tentasse vendê-los uma parte sairia perdendo ou todas as partes seriam prejudicadas. Pensemos no caso de uma empresa: a divisão em duas ou mais partes significaria prejuízo para todos.

Quais seriam os segmentos ou populações ou áreas mais afetadas?

O maior dano seria para a população de baixa renda. Os mais sofridos é que seriam mais afetados.

Existe um forte motivo que justifique a divisão de fato, a seu ver?

O Pará atravessa um período onde se registra uma incongruência: um Estado rico com um povo pobre. De fato, o Pará tem imensas riquezas naturais, uma pecuária que se observa exuberante, tem tradicionalmente superávit na balança comercial mas, lamentavelmente, seu povo não fez parte desse processo. O Estado do Amazonas, com uma política de incentivos do governo federal, acabou tendo um crescimento com melhor distribuição de renda, tanto que o PIB per capita dos amazonenses é 1,64 (uma vez e sessenta quatro) maior que o dos paraenses. Isso não justificaria a divisão do Estado. Muito pelo contrário: nesse caso, a união dos políticos, empresários, governo, a sociedade como um todo, seria fundamental para que o Pará impusesse uma forma de desenvolvimento pelo seu povo e para seu povo.

A idéia de trazer plebiscitos para que a população decida sobre a divisão ou não é válida, na sua opinião?

Essa idéia é perigosa, imaginando que a população pode se influenciar pela atuação de partícipes interessados no separatismo que tragam, via marketing, com propostas que podem acabar não deixando claro os graves problemas do separatismo. Recentemente, o Brasil elegeu um presidente que tinha, à época, concorrentes de muito boa qualificação politica. Entretanto, uma campanha ousada e com muito peso de marketing o fez o mais votado. Esse fato levou o Brasil a atravessar um período delicado no seu desenvolvimento social, econômico e politico. Isso poderá acontecer e novo aqui. Essa possibilidade é real, é uma decisão irreversível e, a meu ver, uma decisão que interessa pouco ou quase nada à sociedade paraense.

O senhor de fato não identifica nenhuma vantagem na separação da área territorial em três Estados?

Eu me lembro da separação do Amapá. Isso se deu faz 50 anos passados. Com a descoberta do manganês na Serra do Navio, o governo criou o território federal do Amapá para dotar a estrutura necessária para exploração do minério. O minério se exauriu e, hoje, o que se vê é que o povo não foi contemplado com essa separação. Não houve desenvolvimento econômico, e o Amapá só cresceu guiado pelas benesses do governo federal. Acho que pode ter havido um crescimento político: o Estado do Amapá tem hoje três senadores, um deles é presidente do Senado, possui nove deputados federais e uma estrutura política formidável. E quem paga isso tudo?

Pessoalmente, enquanto empresário e economista, por que o senhor é contra a divisão do Pará?

Vantagens, eu não vejo. Acho que a separação nos faria ter três Estados pobres: seríamos Carajás, Tapajós e Pará, Estados com PIB muito baixo. Seríamos, seguramente, um novo Amapá, igual a Sergipe, na pobreza e na dificuldade. A união é que nos faz forte. Está aí o exemplo do Amazonas. Em pouco mais de três décadas, o Estado saiu de um estágio de pobreza e seu PIB, que era apenas um pouco mais da metade do PIB do Pará, se multiplicou. Considere-se, também, que o desenvolvimento do Amazonas foi processado com respeito ao meio ambiente. O Estado vizinho tem uma região industrializada no eixo de Manaus-Itacoatiara e seu imenso território, que constitui o maior do Brasil, está bem conservado. O fato é que o Amazonas teve a ventura de adotar uma política que lhe permitiu atingir um patamar de desenvolvimento bastante razoável.

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