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Distribuímos ou sucumbimos

A Crítica - https://www.acritica.com/opiniao/artigos
Autor: RADLER, Juliana
24 de Jan de 2023

Distribuímos ou sucumbimos
É hora de tributar os super-ricos

Juliana Radler
julianaradler@socioambiental.org
24/01/2023 às 15:15.
Atualizado em 24/01/2023 às 15:15

Desde 2020, o 1% mais rico do planeta abocanhou quase dois terços de toda nova riqueza gerada no mundo. Esse dado estarrecedor revela como a pandemia aprofundou a acumulação de capital pelas grandes fortunas e foi divulgado pela organização Oxfam, essa semana, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.
O relatório de 46 páginas chamado "A sobrevivência do mais rico: por que é preciso tributar os super-ricos agora para combater as desigualdades" é leitura obrigatória para quem quer entender as desigualdades do mundo atual com uma perspectiva de que há caminhos para diminuí-las. E a solução é taxar as grandes fortunas antes que seja tarde demais.
O relatório dá um exemplo claro e concreto da injustiça tributária: Elon Musk, um dos homens mais ricos do mundo, tem uma fortuna de quase 200 bilhões de dólares e paga impostos de pouco mais de 3%. Já a comerciante de Kampala, capital de Uganda, Aber Christine, lucra 80 dólares por mês com a venda de arroz, farinha e soja e paga 40% em impostos.
Porém, com um imposto de até 5% sobre os super-ricos do mundo seria possível arrecadar 1,7 trilhão de dólares por ano, o suficiente para tirar 2 bilhões de pessoas da pobreza e financiar um plano global contra a fome. Além disso, poderia ser recurso repassado à proteção das florestas e ao combate à emergência climática.
Lucros sem limites
As fortunas bilionárias estão aumentando seus lucros em 2,7 bilhões de dólares por dia! Esse dado do relatório da Oxfam mostra ainda que as multinacionais de alimentos e empresas de energia mais do que dobraram seus lucros ano passado, pagando 257 bilhões de dólares aos acionistas ricos, enquanto 800 milhões de pessoas foram dormir com fome em 2022.
Quem anda pelas ruas das capitais brasileiras, inclusive Manaus, se depara com muita gente pedindo comida, sem falar na fome invisível aos olhos, que é a de quem trabalha, mas não consegue colocar alimento de qualidade em quantidade suficiente na mesa. Essa é a realidade de milhares de brasileiros. Salsicha e macarrão é comida barata que estufa barriga e engorda, mas não supre necessidades nutricionais e a longo prazo envenena e mata. O aumento da diabetes, hipertensão e obesidade entre os mais pobres estão aí como prova.
O empobrecimento da maior parte da população mundial é visto como uma tendência que deve se intensificar nos próximos anos se medidas concretas e rápidas não forem tomadas. A análise da Oxfam sobre os dados de 96 países revela que, em 2022, pelo menos 1,7 bilhão de trabalhadores viviam em países onde a inflação estava superando o aumento dos salários, representando um corte real que poderá aprofundar a desigualdade e a pobreza.
Ministro da Economia, Fernando Haddad, e Marina Silva, ministra do Clima e do Meio Ambiente, estiveram em Davos. O governo Lula terá enorme trabalho a fazer no Brasil, que é o segundo país mais desigual entre os membros do G20, atrás apenas da África do Sul, segundo o World Inequality Lab. Uma amostra rápida dessa desigualdade: os 10% mais ricos do Brasil ficam com cerca de 60% da riqueza produzida pelo país.
José Antonio Ocampo, Ministro da Fazenda e Crédito Publico da nossa vizinha Colombia , diz que a "a justiça está no centro das reformas tributárias da Colômbia". Isso significa, conta Ocampo, um novo imposto sobre a riqueza, impostos mais altos para os ricos e grandes corporações que obtêm lucros gigantes nos mercados internacionais, além de incentivos fiscais que existem sem justificativa social ou ambiental convincente.
Ao abrir o relatório divulgado em Davos, o ministro colombiano escreveu: "Ao abolir privilégios fiscais e brechas que há décadas beneficiam apenas os mais ricos, haverá mais dinheiro para investir em serviços publicos gratuitos e de qualidade, como educaça~o e saude. Investir na agricultura. No clima e na natureza. E na paz. Isso na~o é algo simbolico; na~o se trata apenas de aumentar os impostos dos ricos para sustentar os pobres. E uma mudança historica. que já deveria ter sido feita há muito tempo".
O combate a desigualdade precisa ser prioritário e é a base para o enfrentamento da emergência climática. O relatório da Oxfam pode ser baixado gratuitamente na internet.

*Juliana Radler é jornalista com especialização em meio ambiente e analista de políticas socioambientais do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental (ISA)

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