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23 de Abr de 2021
Discurso é alvo de questionamentos
Parlamentares e especialistas apontam incosistências entre ações do governo e promesssas feitas por ele na cúpula
Por Matheus Schuch, Marcelo Ribeiro e Daniela Chiaretti
De Brasília e São Paulo 23/04/2021
Parlamentares envolvidos com a causa ambientalista e especialistas em políticas públicas criticaram ontem o discurso do presidente Jair Bolsonaro na Cúpula do Clima. Para eles, as promessas de redução de desmatamento e compromisso ambiental estão descoladas de medidas práticas adotadas até agora pelo governo. Alguns parlamentares, entre eles a presidente da Comissão de Relações Internacionais do Senado, Kátia Abreu (PP-TO), elogiaram o tom moderado de Bolsonaro. A senadora, no entanto, defendeu metas mais ambiciosas.
Coordenador da frente ambiental na Câmara, Rodrigo Agostinho (PSB-SP) interpretou o tom moderado como uma reação de quem está, segundo ele, encurralado. "De um lado, pela União Europeia por causa do acordo com o Mercosul, de outro, o [presidente dos Estados Unidos, Joe] Biden, que nem sequer ficou para ouvir a fala do Bolsonaro", disse o deputado. "Na mão dos Estados Unidos está a possibilidade da entrada do Brasil na OCDE e muitos acordos comerciais que estavam sendo gestados com o [Donald] Trump. O Brasil está com um problema de credibilidade na área ambiental. Não basta propor novas metas. Precisa agir", acrescentou. O presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, Jaques Wagner (PT-BA), opositor do governo, considerou a fala de Bolsonaro "vazia" e marcado por mentiras. "Falou em aumentar a fiscalização sobre o desmatamento ilegal quando medidas do seu governo dificultam a tarefa, tentando permitir grilagem nas unidades de conservação e terras indígenas." "É importante que o presidente tenha reafirmado compromissos ambientais do Brasil", afirmou Maria Laura Canineu, diretora no Brasil da Human Rights Watch (HRW). "O problema é que ele tem zero credibilidade, especialmente considerando como seu governo tem ativamente desmantelado a capacidade do Brasil de cumprir esses compromissos e proteger a Amazônia."
Para Adriana Ramos, coordenadora do programa de política e direito socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA), não está claro o que realmente o governo fará contra o desmatamento. "Apesar de uma tentativa de demonstrar uma mudança de rumo para angariar apoio aos seus pleitos financeiros, o discurso do presidente não foi capaz de apontar concretamente qual é o movimento que vai ser feito para retomar uma efetiva política de controle do desmatamento." O coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista no Senado, Fabiano Contarato (Rede-ES), criticou a postura defendida pelo pelo presidente e pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de mencionarem ajuda financeira internacional como algo necessário para a proteção ambiental no Brasil. "O governo sabe que não receberá esses recursos sem uma agenda ambiciosa e metas claras de redução do desmatamento. Sua intenção real, porém, ao que parece, é terceirizar a culpa". A nova presidente da comissão, deputada Carla Zambelli (PSL-SP), uma das principais aliadas do presidente, elogiou o discurso dele na cúpula: "Grande sinalização de compromisso com o meio ambiente, desmatamento ilegal para 2030 e a grande novidade foi a antecipação de 2060 para 2050 a neutralização de carbono", afirmou ela.
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