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Dirigido: centro reúne vasta produção cultural

Jornal do Commercio-Manaus-AM
Autor: Naira Araújo
25 de Fev de 2002

O Centro de Produção e Cultura Yakinó tem um acervo de aproximadamente cinco mil peças de artesanato, que são uma mostra da riqueza e diversidade da produção cultural indígena na Amazônia. Segundo o coordenador do centro, Bonifácio José Baniwa, o acervo contém variados tipos de produtos de diferentes povos indígenas da Amazônia, como os baniwas, ticunas, tarianos, tucanos e saterê-maués.

Os produtos são bijouterias, cestarias, adornos, esculturas e material de caça e pesca, que servem como objetos decorativos e de enfeite. De acordo com Bonifácio, as peças que compõem o acervo foram produzidas pelas associações que fazem parte da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).

Os produtos do acervo do Centro Yakinó podem ser adquiridos na sede da instituição, como também podem ser visitados. Bonifácio esclarece que a intenção é ter uma loja para comercialização e prestar assessoria para que as organizações indígenas possam divulgar e vender seus produtos para ouros Estados e países.

O projeto do centro está em processo de legalização para se tornar uma fundação, o que lhe permitirá ampliar suas formas de atuação e as fontes de recursos financeiros necessários a sua manutenção. Bonifácio informa que, além de servir como referência cultural e de divulgação do artesanato, o centro tem o objetivo de contribuir para o fortalecimento das organizações sociais indígenas.

De acordo com Bonifácio, o Centro Yakinó também tem a intenção de estender seu trabalho para além dos produtos culturais. "Queremos incluir a alimentação, a estética e as plantas medicinais". O centro integra atividades de pesquisa sobre a cultura e a ciência indígena na utilização de seus recursos naturais, com novas práticas e tecnologia apropriada.

O trabalho do Centro Yakinó foi divulgado em Londres, na Inglaterra. Como parte de uma exposição com o tema Amazônia organizada pelo governo brasileiro no Bristish Museum Company, em Bloomsbury St., de outubro do ano passado a abril deste ano, integrantes do Centro Yakinó estiveram em Londres no mês passado. Bonifácio conta que, a convite da Coiab, eles participaram de palestras, fizeram exposições sobre a produção cultural indígena.

Espaço para dança e rituais

A sede do Centro Yakinó também tem como objetivo servir de espaço para a preservação das manifestações culturais, como ritos e danças. Jovens indígenas que moram em Manaus ou nas proximidades da cidade, como os saterê-maués e ticunas, reúnem-se para dançar, reaprender a usar instrumentos musicais e treinar apresentações para exibição nos encontros que os povos indígenas realizam. A abertura desse espaço tem sido fundamental para que os jovens possam cantar, dançar, e ainda manter viva a preservação de sua cultura.

Comercialização pode contribuir para melhoria de vida

Fundado há dois anos como projeto da Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), o Centro de Produção e Cultura Indígena Yakinó tem se tornado um centro de referência da produção artesanal indígena. Localizado na rua Bernardo Ramos, 60 - Centro, o centro foi criado para contribuir com a melhoria da qualidade de vida nas aldeias, protegendo o patrimônio natural dos povos indígenas e divulgando suas alternativas socioeconômicas e culturais. Yakinó na língua do povo hexcariana significa 'trabalho em grupo'.

Segundo o coordenador do centro, Bonifácio José Baniwa, a demarcação das terras não é a única luta que os povos indígenas têm que enfrentar. "Além disso, temos que encontrar formas de garantir a alimentação, saúde e educação". Ele destaca que a valorização da produção cultural indígena e a comercialização do artesanato podem contribuir para a garantia da sobrevivência e a melhoria de vida nas aldeias.

Bonifácio esclarece que a comercialização dos produtos artesanais não é a única saída para resolver o problema de auto-sustentabilidade das aldeias. É apenas uma das alternativas. "O artesanato não é o emprego do índio. É uma atividade que ele executa quando não está pescando, caçando", ressalta. Bonifácio deixa claro que, ao incentivar a comercialização, o centro não quer interferir na vida das aldeias.

"A produção não pode ser feita em larga escala, tornando-se industrial. Pretendemos manter a normalidade da vida nas aldeias", afirma Bonifácio. A produção industrial tiraria do artesanato indígena sua característica de originalidade. O centro quer divulgar os produtos feitos artesanalmente, que utilizam matéria-prima essencialmente natural e que conservam as tradições e características de cada povo.

"O valor do artesanato indígena está na sua originalidade", diz Bonifácio. Além de serem mercadorias artesanais, o coordenador destaca que os produtos indígenas agregam os valores ambiental e cultural. Essa é a grande diferença entre o artesanato indígena e o artesanato produzido em larga escala.

O trabalho do Centro Yakinó também abrange a compreensão de que a arte indígena não deve apenas gerar renda às organizações produtoras, mas também à preservação das tradições culturais.

Venda direta ao consumidor final

Outra grande preocupação do Centro Yakinó, de acordo com Bonifácio, é praticar um comércio justo com os produtos indígenas, articulando mercados para os produtores. "A nossa intenção é estabelecer um preço que não explore o consumidor final e que a maior parte da renda fique nas mãos dos índios". O coordenador revela que a forma como o artesanato indígena vem sendo comercializado não é a ideal porque a renda é destinada principalmente aos atravessadores, pessoas que compram dos índios por preços baixos e revendem para donos de lojas e distribuidores ganhando 100%.

Segundo Bonifácio, o Centro Yakinó pretende promover a comercialização diretamente ao consumidor final e ao turista, o que não vem acontecendo. Para isso, o centro está pesquisando melhores formas de distribuição dos produtos para outros Estados e países.
Um dos projetos é da Associação Baniwa, em São Gabriel da Cachoeira (a 858 quilômetros de Manaus), que vende produtos feitos pelas aldeias da região do alto rio Negro para a loja Tok e Stok, uma das mais tradicionais de móveis e objetos para casa do Brasil. "A associação consegue negociar bons preços e maior parte das vendas é destinada aos índios que produziram as peças", conta Bonifácio.

Saiba mais

Yakinó na língua do povo hexcariana significa trabalho em grupo.
O Centro Yakinó está localizado na rua Bernardo Ramos, 60, Centro.
O horário de funcionamento é de 8h30 às 17h.
Telefone: (92) 622-9124/ 637-6703
E-mail: yakino@buriti.com.br

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