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Diretor nacional fica refém de índios em Manaus

Amazonas em Tempo-Manaus-AM
Autor: Beth Menezes
17 de Dez de 2004

Ontem à tarde, após mais de três de muita reclamação e alguns momentos de tensão, indígenas, inclusive crianças, que ocuparam a sede da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) decidiram continuar o movimento e manter como reféns o diretor nacional do Departamento de Saúde Indígena (Desai), Alexandre Padilha e o coordenador regional da Funasa, o ex-deputado estadual Sebastião Nunes. Coube ao vice-presidente do Conselho Deliberativo e Fiscal da Coiab (Condef), José Mário, da etnia mura, explicar à imprensa, às 18h30, depois de alguns momentos de reunião deliberativa, que Padilha e Nunes não poderiam deixar o prédio até a confirmação do repasse de recursos de convênios e outras questões, para "aproveitar" a presença do representante nacional do órgão.

Eles não ficaram satisfeitos com a explicação de que, das seis organizações indígenas, quatro já estavam com os repasses assegurados, publicados no Diário Oficial, no valor total de R$ 5.850.752,27 (ver quadro), a ser liberado ainda hoje. Querem ver também "no papel", além da liberação de recursos dos convênios das duas outras organizações, a comprovação de que será construída a Casa do Índio, em Manaus, além de várias outras questões. Em certos momentos, Padilha, sempre calmo, ouviu palavras iradas e até palavrões, além de críticas contundentes à Funasa, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Partido dos Trabalhadores (PT), em quem os índios votaram e para quem o governo agora vira as costas, segundo eles. Alguns desabafaram: que apenas a Funasa cuide da saúde indígena e não conte mais com eles.

Apenas a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e o Conselho Geral Tribo (CGTT) ainda não tiveram o repasse dos recursos, o que deve acontecer hoje. Padilha explicou: o compromisso da Funasa era repassar os recursos (o atraso deveu-se ao "maior rigor" na prestação de contas) até o dia 21 e está sendo cumprido. A demora, na verdade, aconteceu porque as próprias lideranças indígenas optaram por receber todas as parcelas atrasadas de uma só vez, obrigando o órgão a mudar o organograma de reembolso. A demonstração de que Padilha estava sob o controle dos indígenas, exatamente 107 ontem à tarde, segundo José Mário, foi dada durante a reunião para saber o que decidiriam, depois de ouvirem as explicações: ao celular, concedendo entrevista a uma rádio, ele foi cercado o tempo todo por quatro jovens, todos ornamentados e segurando arco e flecha.

Tranqüilidade

Sentado à mesa com indígenas que compunham a mesa dos trabalhos, Padilha tinha, atrás de si, também indígenas com suas tradicionais armas. Mesmo depois de ser informado de que permaneceria com os índios, para continuar a reunião depois do jantar (que chegou em forma 'quentinha'), Padilha, que é médico, petista e já trabalhou em área indígena, demonstrou tranqüilidade. "Vamos sentar logo depois do jantar, conversar com eles, vamos ver as outras reivindicações. Estou muito tranqüilo. Temos de acabar com essa imagem de que as lideranças indígenas são agressivas. O movimento foi pacífico, o governo Lula respeita a democracia e a organização dos movimentos sociais", afirmou, explicando que tinha passagem de avião marcada para o início da madrugada.

Sebastião Nunes foi no mesmo tom. Disse que permitiu a entrada dos indígenas, na terça-feira. A suspensão dos recursos com as organizações parceiras que prestam serviço médico aos indígenas prejudica os funcionários, que ficam sem receber salário e aí entra a Justiça do Trabalho, a quem os trabalhadores recorrem. A Funasa é responsável apenas pela saúde dos indígenas que vivem dentro das aldeias. No Amazonas, são 126 mil índios em aldeia e no Brasil todo, 430 mil. Às 21h , a reportagem ligou para o celular do mura José Mário (do Condef). Ele explicou: Nunes e Padilha seriam liberados mais tarde, depois de assinar termos de compromisso com eles e que o Ministério Público compareceria hoje à sede da Funasa. Só depois disso os indígenas desocupariam o prédio.

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