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Dinheiro para saúde indígena pagou jantares e viagens da UnB

Correioweb
11 de Abr de 2008

Sopa-creme de abóbora e queijo brie ou quiche de queijo de cabra, abobrinha e amêndoas na entrada. Salmão grelhado ao molho normanda, tirinhas de filé mignon ao molho de manga e tomates como opções de pratos quentes. Frutas frescas, tortinha morna de maçã e passas na sobremesa. Esse é o cardápio de um dos almoços oferecidos pelo reitor da Universidade de Brasília (UnB), Timothy Mulholland, com dinheiro que deveria ser usado em benefício dos índios. O evento, para 39 convidados do reitor, custou R$ 5.172,80. E foi pago com recursos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

O almoço ocorreu em 16 de julho do ano passado, no restaurante Alice Brasserie, na QI 17 do Lago Sul. A pedido da Reitoria da UnB, o restaurante, um dos mais badalados (e caros) de Brasília, foi fechado naquele dia para Timothy e os convidados dele. Somente o aluguel custou R$ 500. O almoço, incluindo bebidas, saiu a R$ 116,70 por pessoa. Além do Alice, a UnB cotou os preços apenas de mais um espaço, o restaurante do hotel Blue Tree Park, que pediu R$ 1,5 mil a mais pela exclusividade do espaço. Com isso, perdeu a concorrência.

Na lista de convidados do reitor, à qual o Correio teve acesso, há 18 funcionários da UnB. Os outros 21 são integrantes da Embaixada da Espanha no Brasil, do governo espanhol e do Instituto Cervantes. O almoço marcou a assinatura do acordo de intenções entre a UnB e o Instituto Cervantes, organismo público sem fins lucrativos da Espanha. Participou do encontro, como maior autoridade, o ministro de Cultura espanhol, César Antonio Molina. Acompanhado do secretário-geral do Instituto Cervantes, Joaquín de la Infiesta, Molina recebeu uma homenagem do reitor da UnB, que entregou a ele um documento de reconhecimento que a universidade reserva a personalidades internacionais.

Na época da visita dos espanhóis, o site da UnB destacou o encontro em diversas reportagens feitas pela equipe da Secretaria de Comunicação (Secom) da universidade. Mas em nenhuma das matérias informou que o convênio foi assinado em almoço oferecido pelo reitor e pago com recursos da Funsaúde. Muito menos o preço da recepção. Três jornalistas da Secom, nenhum concursado, estavam na lista de convidados oficiais de Timothy.

Na oportunidade, Timothy assinou o convênio de intercâmbio entre as instituições, criação de cursos de formação de professores e a realização de cursos, conferências e outras atividades dirigidas à promoção da língua espanhola. Nada em favor dos índios brasileiros ou da Funasa, de onde saiu o dinheiro do almoço.

Jantar mais caro

A UnB contratou os serviços do restaurante Alice Brasserie para outros almoços e jantares, também financiados pela Funasa. Um deles ocorreu um mês após a reunião dos espanhóis com o reitor e seus assessores. Em 15 de agosto, o fino restaurante do Lago Sul recebeu 15 convidados da reitoria para um jantar. Dessa vez não foi aberta concorrência. O evento custou R$ 3.025, R$ 200 por cabeça. A autorização de pagamento, assinada pelo então diretorexecutivo da Editora UnB, Alexandre Lima, não informa o motivo do jantar nem os convidados.

A Funasa assinou convênio com a UnB em 2006. A universidade transferiu o contrato para a Fundação Universitária de Brasília (Fubra). Desde 2007, o projeto era executado pela Funsaúde, sob a coordenação de Alexandre Lima. De acordo com o Ministério Público do Distrito Federal (MPDF), houve aumento de 5% para 7,5% na taxa de administração do contrato assinado entre UnB e Funsaúde. Essa diferença de 2,5%, segundo o promotor Antônio Ricardo de Souza, era depositada em conta administrada por Alexandre Lima.

Contradição

Para os promotores que investigam os contratos das fundações de apoio ligadas à UnB, almoços e jantares oferecidos pelo reitor com dinheiro da Funasa são ilegais. "É por causa de gastos como esses que o atendimento aos índios fica prejudicado. Está mais do que caracterizado o desvio de dinheiro público", afirma o promotor Ricardo de Souza, da Promotoria de Fundações e de Entidades de Interesse Social, do MPDF.

Souza considera uma contradição a reserva de espaços para eventos da reitoria. "O Timothy sempre alegou que o apartamento funcional (que ele ocupava) foi decorado de forma luxuosa para receber autoridades", destaca. Cerca de R$ 470 mil foram usados na decoração do apartamento da UnB, na 310 Norte, ocupado pelo reitor até o começo deste ano, quando os gastos vieram à tona e o MPDF tornou pública a investigação sobre os recursos da Finatec.

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