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Dignidade para o índio

A Crítica (Manaus - AM)
07 de Out de 2001

Amazonino cria projetos revolucionários que resgatam a cultura dos povos da floresta do Amazonas

Após anos de injustiças com a cultura indígena, o Governo do Amazonas está resgatando essa dívida com os índios em todo o Estado. E um dos principais ícones é o projeto Pira-Yawara, que consiste na formação de professores indígenas para assegurar e implantar o ensino fundamental e médio. O diferencial da iniciativa é adotar a língua mãe das diversas comunidades como primeira língua. Segundo o governador Amazonino Mendes, serão essas escolas indígenas que vão garantir uma educação específica e bilíngüe para as diversas etnias. Qualquer cultura, por mais primitiva que pareça, deve ser preservada sobre tudo pela riqueza inestimável de conhecimentos, disse. O ensino, juntamente com a grafia da cultura oral, é uma forma de eternizar este patrimônio das últimas nações indígenas do mundo. Para completar o ciclo educacional da população indígena do Amazonas, o governador criará a Universidade Indígena. Pelo menos 100 mil índios de 65 etnias do Estado, detentor da maior população nativa em diversidade e densidade étnica do País, terão com o projeto a oportunidade de concluir uma escola de nível superior. Amazonino determinou ao presidente da Fundação Estadual de Política Indigenista, Ademir Ramos, a criação da Universidade em São Gabriel da Cachoeira. Dentro dessa estrutura será instalado o Centro de Formação Cultural Indígena, conveniado à Universidade do Estado do Amazonas (UEA). A previsão do Governo é de oito meses para que a Universidade Indígena seja implantada. Hoje, 523 professores índios do projeto Pira-Yawara estão em processo de formação e, em cinco anos, eles, pertencentes as 62 etnias existentes da Amazônia, passem a ser responsáveis diretos pela formação de 22.678 alunos, distribuídos em 580 escolas dos 48 municípios do Estado. Alguns municípios saíram na frente e já executam a primeira fase do projeto. É o caso de Lábrea (a 837 quilômetros de Manaus) e que por meio da Secretaria Estadual de Educação e Qualidade do Ensino (Seduc), está proporcionando a quase 2 mil índios a oportunidade de resgatar sua própria cultura. A grade curricular é um dos pontos fortes do projeto, que prevê 14 disciplinas para o ensino fundamental e matérias como História do Amazonas, Ciências da Natureza e língua indígena Sateré-Mawé. Para o ensino médio são 20 disciplinas e na matéria Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, os professores aprendem a formular uma política cultural para seu povo. O importante é que a língua indígena é o instrumento de ensino que deverá ser perpetuada através da educação. No início das aulas, os índios professores mostram aos instrutores da Seduc como aplicar o conteúdo das disciplinas em suas escolas. Com prática em pesquisas baseadas na experiência, os trabalhos mostram a visão de cada etnia sobre os mais diversos assuntos, desde o aprendizado da língua até as matérias tradicionais. A música também é uma prática usada pelos índios Jarawara para demonstrar o conhecimento em sua língua. Nesse caso, eles cantam o hino de sua tribo e falam sobre temas como natureza, os animais e a relação do índio com o homem branco. O trabalho é tão sério, que os índios fazem questão de executar músicas de domínio popular na língua indígena, como por exemplo, a canção natalina Noite Feliz.

DEMOCRACIA
Modelo das escolas sofrerá influência direta das etnias
Precisamos ajudar mas sem prejudicar a cultura dos índios, principalmente a influência arquitetônica, devendo seguir suas próprias características

O secretário de Educação do Estado, Vicente Nogueira, garante que o projeto Pira-Yawara é um sucesso sobretudo porque permite que o trabalho seja feito de forma saudável, com as organizações não-governamentais e as comunidades indígenas e não-indígenas. Essa troca é importante, disse Nogueira, que desenvolve o projeto - um marco do governador Amazonino Mendes - com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Queremos uma escola bilíngüe que respeite a cultura do índio e permita que ele não tenha vergonha de ser índio. A professora Arlene Bonfim, gerente de Educação Escolar Indígena do Estado do Amazonas, explica que a construção das escolas, a exemplo da metodologia, deve respeitar os costumes dos índios. Precisamos ajudar mas sem prejudicar a cultura dos índios, principalmente a influência arquitetônica, devendo seguir suas próprias características, analisa a professora, referindo-se aos espaços físicos onde serão construídas as escolas dos índios. Não podemos recomendar a utilização de amianto ou zinco na construção, materiais completamente fora dos padrões indígenas e que podem ser uma agressão contra os seus costumes. Outro fator importante que deve ser levado em conta, segundo ainda a professora, é o local de construção das escolas. Para a Seduc, elas precisam ser feitas em lugares agradáveis. Assim, garante, evitar casos constantes de escolas construídas de alvenaria - por diferentes instituições - que estão completamente abandonadas e destruídas. Um bom exemplo aconteceu no município de Borba, onde uma escola construída em um prédio de alvenaria está completamente abandonada. Nesse local existe um barracão de chão batido, coberto por palhas e sem parede, mas que os índios não cansam de dizer que é a escola. Segundo a professora Arlene, esse fato acontece pelo simples fato desse barracão ser o espaço mais democrático da aldeia, permitindo que a participação das pessoas não ocorra apenas durante nas aulas, mas também em reuniões e assembléias. Dessa maneira, todas as lideranças têm acesso ao local, servindo de mais um motivo de motivação para os alunos freqüentarem a escola. Esse exemplo de democracia em Borba, permitiu que dona Estér, uma senhora indígena com mais de 80 anos, seja a principal professora da língua nativa daquela etnia.

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