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Diamantes dos cinta-larga vão para o exterior

O Globo-Rio de Janeiro-RJ
Autor: Jailton de Carvalho
06 de Mai de 2002

. Boa parte do diamante extraído dentro da reserva Roosevelt, dos índios cinta-larga, está sendo contrabandeada para os Estados Unidos, Canadá, alguns países da Europa e Israel. A Polícia Federal descobriu a conexão internacional depois de prender, há dois meses, os israelenses Yair Asiss e Royi Menahem Riger, que estariam comprando diamante em Cacoal e Pimenta Bueno para lapidar e, depois, revender o material no exterior.

A PF suspeita que outros estrangeiros estejam atuando na região. A extração de minério em área indígena é ilegal.

- Os prejuízos são enormes. Além de perder o diamante, a União deixa de arrecadar os impostos - disse o delegado Márcio Valério, da Polícia Federal.

Israelense foi preso com 44 pedras tiradas de reserva

Yair Asiss foi preso no dia 25 de fevereiro em Pimenta Bueno, em companhia dos brasileiros Carlos César Manhas, Francisco Sales Santana e Paulo Henrique dos Santos. O grupo estava com 44 pedras de diamante extraídas, segundo a PF, da reserva Roosevelt. Pelas investigações iniciais, Asiss trocou cerca de US$ 100 mil numa casa de câmbio do Rio de Janeiro e, com a ajuda de Manhas, estava fazendo negócios com garimpeiros que invadiram a reserva dos índios cinta-larga.

Autoridades israelenses já solicitaram a deportação de Asiss. Mas a Polícia Federal se opõe ao pedido e defende que Asiss fique detido em Porto Velho até o fim da apuração do caso. Ele não tem endereço fixo no Brasil.

Desde que foi preso, Asiss responde a inquérito por receptação de material roubado. Duas semanas antes do flagrante, a Polícia Federal prendeu no noroeste de Rondônia Royi Menahem, que também estaria negociando diamantes com os garimpeiros.

Royi foi indiciado por receptação de produto de origem ilícita. Porém, como mora em Curitiba e tem um filho brasileiro, foi solto e terá direito a responder ao inquérito em liberdade. Segundo Márcio Valério, a venda de diamantes para estrangeiros é facilitada por Manhas.

PF suspeita do envolvimento de ex-senador com garimpo

A PF também abriu inquérito para apurar a denúncia de que o ex-senador Ernandes Amorim (PRTB) está incitando os garimpeiros expulsos de Roosevelt a voltar à reserva. A polícia suspeita que Amorim tenha interesses financeiros no garimpo.

O inquérito foi aberto depois que Amorim foi flagrado numa reunião de garimpeiros em 24 de abril, em Espigão do Oeste. Candidato ao governo de Rondônia, ele teria orientado um de seus advogados a dizer aos garimpeiros que, se quisessem, poderiam retornar ao garimpo na reserva.

A partir daí, a reocupação do garimpo voltou a crescer, apesar do bloqueio montado pela Polícia Federal, com a ajuda das polícias Civil e Militar, nas principais entradas da reserva indígena.

- Estamos num ano eleitoral e alguns políticos tentam tirar proveito do garimpo. Mas não vamos permitir que se cometam ilegalidades - disse o superintendente da PF em Rondônia, Marcos Moura.

Onze caciques enriqueceram com garimpo ilegal

O garimpo ilegal dentro da reserva de Roosevelt transformou 11 dos caciques da tribo cinta-larga em barões do diamante, conforme foi publicado em reportagem de O GLOBO de ontem. Com vastos poderes sobre uma legião de mais de três mil garimpeiros, os caciques têm o controle das máquinas de extração e uma fortuna em pedras.

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