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Dia sem carro tem adesão abaixo da esperada

O Globo, Rio, p. 25
23 de Set de 2010

Dia sem carro tem adesão abaixo da esperada
Cerca de 105 mil viagens em carros particulares deixaram de ser realizadas; expectativa era de 150 mil

Isabel de Araújo, Taís Mendes e Rafael D'Angelo

O pedido para o carioca deixar o automóvel em casa não surtiu o efeito esperado no Dia Mundial Sem Carro, ontem, no Rio. De acordo com dados da Secretaria municipal de Transportes, 105 mil viagens em carros particulares deixaram de ser realizadas, o que representa 3,5% do total. A expectativa do subsecretário municipal de Transportes, Romulo Orrico, era de que a adesão chegasse a 5% (150 mil viagens). Mesmo assim, ele fez um balanço positivo:
- O resultado foi satisfatório. No Centro, com a proibição do estacionamento, o tráfego ficou mais civilizado, parecia Manhattan. Na Avenida Rio Branco, um terço do tráfego é de carros particulares, e, ontem de manhã, o trânsito estava tranquilo. Essa é uma iniciativa que tem como objetivo estimular o uso racional do automóvel.

Emissão de monóxido de carbono cai no Centro
Na Zona Sul, o trânsito nas principais vias foi marcado pela lentidão. Os motoristas e usuários dos ônibus que seguiram pelas avenidas Nossa Senhora de Copacabana e Princesa Isabel, ambas em Copacabana, tiveram o silêncio de suas viagens interrompido pelo som das buzinas dos condutores mais apressados.

- Levei mais de duas horas para ir de Copacabana ao Galeão e retornar ao ponto, em Copacabana. Nunca levei tanto tempo - reclamou o taxista Ramon Barbosa.

No Centro, porém, o impacto foi sentido principalmente no polígono entre as avenidas Rio Branco, Presidente Vargas e Presidente Antônio Carlos e das ruas Santa Luzia e Primeiro de Março, onde 2.100 vagas de estacionamento foram interditadas. Na região, segundo a Secretaria municipal de Meio Ambiente, a emissão de monóxido de carbono aumentou 76%, um terço do aumento habitual. Em Copacabana, a emissão do gás cresceu 96%, também abaixo da média.

- Decidimos medir o monóxido de carbono porque é um gás proveniente dos veículos a gasolina. Houve uma redução significativa. Há uma tendência ao aumento das partículas de gás no ar durante a semana, e a redução não ocorre de um dia para o outro, mas houve um forte impacto. Em Vicente de Carvalho, por exemplo, o aumento de monóxido de carbono na atmosfera foi de 400% - afirmou o subsecretário municipal de Meio Ambiente, Altamirando Moraes.

Pela manhã, o prefeito Eduardo Paes pedalou da Mesa do Imperador, no Parque Nacional da Tijuca, quintal da Gávea Pequena, até o Palácio da Cidade, em Botafogo. Ele percorreu os 20 quilômetros em 35 minutos, desta vez, sem cometer infrações: ano passado, Paes pedalou pela calçada, em trechos de contramão, o que não é permitido pelo Código de Trânsito Brasileiro.

- Costumava vir de bicicleta duas ou três vezes na semana. Mas agora chego cedo e saio muito tarde. Não dá. É preciso criar o hábito de pedalar. O Rio é uma cidade amigável para andar de bicicleta.

Tem uma rede boa de ciclovia.

Não há mais condições de suportar tantos carros nas ruas.

Reduzir é melhorar a qualidade de vida - comentou Paes.

O prefeito ressaltou a importância de o carioca ajudar e colaborar com o trânsito na cidade:
- Dobrar a malha cicloviária, como estamos fazendo, é fundamental. Investir nos corredores expressos de ônibus articulados é outra medida importante, como a implantação do bilhete único. Não tenho dúvida de que o poder público tem um papel a cumprir, mas esse papel nunca funciona sem a conscientização da população.

Secretária enfrenta uma 'corrida de obstáculos'
A secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos, também aderiu ao Dia Mundial Sem Carro. O esforço da secretária foi um pouco maior: ela pedalou de Ipanema ao Centro em uma hora e meia.

- Vim pela ciclovia até o Museu de Arte Moderna. A partir de lá, tive que seguir pelas ruas e calçadas. Vira um pouco corrida de obstáculos, mas esperamos que, no futuro, com o projeto do Porto Maravilha, tenha ciclovia até a Zona Portuária - disse.

Na Enseada de Botafogo, na altura do Morro do Viúva, Marilene se encontrou com o secretário estadual de Transportes, Sebastião Rodrigues, que saiu de Niterói, de barcas, e depois seguiu de bicicleta. Foi a primeira vez que a secretária pedalou de casa até o trabalho, no Centro:
- A população tem que se conscientizar da importância de usar bicicleta ou caminhar curtas distâncias. É bom para a saúde e para o meio ambiente. Também seria bom que as empresas estivessem preparadas para um ciclista, oferecendo vestiários onde o trabalhador possa tomar um banho depois de pedalar - sugeriu.

Este é o segundo ano em que a prefeitura adere ao Dia Mundial Sem Carro, movimento criado na França, em 1998.

Baixa participação em outras cidades
No Brasil e no exterior, trânsito continuou pesado

Cidade com a maior frota de veículos do país (cerca de cinco milhões, São Paulo teve congestionamento dentro da média ontem, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Às 9h, o congestionamento se estendia por 75km. Na véspera, o índice chegara a 86km no mesmo horário, acima da média, devido ao incidente que causou a paralisação da Linha 3 do metrô.

No fim do dia, não foi diferente. Por volta das 19h, a lentidão chegou a 112km, também dentro da média para o horário. A CET informou que o Dia Sem Carro não teve impacto positivo sobre o trânsito. Na Avenida Paulista, um grupo de vaqueiros e cavaleiros também participou do Dia Sem Carro e disputou espaço com os carros.

Eles fizeram uma cavalgada pela avenida.

Também participaram do Dia Sem Carro cidades brasileiras como Curitiba, Brasília, Goiânia, Florianópolis, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Manaus, Recife e Niterói, onde os motoristas também não participaram com grande entusiasmo. No exterior, o movimento teve adesão, igualmente fraca, de Nova York, Paris, Roma, Berlim, Madri e Londres. Na capital da Rússia, por exemplo, o número de carros nas ruas era enorme, apesar de muitos funcionários do governo terem deixado seus automóveis em casa.

Apesar de o evento durar apenas um dia e ser ignorado pela maioria das pessoas, organizadores esperavam que motoristas considerassem meios de transportes alternativos, na tentativa de diminuir os danos causados pelo aquecimento global.

Em Moscou, ciclistas organizaram um passeio pela Floresta de Khimki, ameaçada por uma avenida que liga a capital a São Petesburgo.

Em Winnipeg, no Canadá, diversas ruas foram fechadas aos carros, e partidas de hockey foram organizadas nas avenidas.

Já na Carolina do Norte, Estados Unidos, residentes receberam passes ilimitados de ônibus.

Na Espanha, 567 municípios aderiram ao evento, tornando o país o de maior participação na União Europeia. Mas a adesão complicou o trânsito nas principais regiões, dificultando o acesso às grandes cidades espanholas, como Madri, Barcelona e Sevilha. Na capital, por exemplo, houve uma redução de apenas 0,11% dos carros nas ruas.

CET-Rio reduz vagas na Buenos Aires e Alfândega
Prefeitura reboca 78 veículos e multa 330 durante operação

A prefeitura anunciou ontem que vai manter a proibição de estacionamento nas ruas Buenos Aires e Alfândega, no trecho entre a Avenida Rio Branco e a Rua Primeiro de Março.

As vias integraram o polígono de proibição de estacionamento no Centro, que interditou 2.100 vagas. A medida passa a valer hoje.

- Serão cortadas 46 vagas. É mais uma medida para estimular o uso racional do automóvel - disse a presidente da CETRio, Cláudia Secin.

No Centro, ontem, 78 veículos foram rebocados e 330, multados por estacionar na área proibida. Nas Zonas Sul, Norte e Oeste, 367 veículos foram multados por estacionamento irregular nas áreas com limite de velocidade de 30km/h, implantadas ontem.

O Globo, 23/09/2010, Rio, p. 25

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