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Dia da Amazônia: região está ameaçada por conta de desmatamentos, queimadas, garimpos e invasões

Revista Cenarium - https://revistacenarium.com.br
05 de Set de 2022

Dia da Amazônia: região está ameaçada por conta de desmatamentos, queimadas, garimpos e invasões

05 de setembro de 2022
Gabriel Abreu - Da Revista Cenarium

BOA VISTA - Um dos maiores patrimônios do mundo, a Amazônia, desde 2019, vem perdendo milhares de hectares por conta do desmatamento desenfreando na região. Nesta segunda-feira, 5, se comemora o Dia da Amazônia, uma data criada por Dom Pedro 2o, em 5 de setembro de 1850, para lembrar a população da importância da preservação da maior floresta tropical para o planeta. Mas há o que se celebrar hoje?

Todo esse patrimônio está ameaçado por conta da invasão de grileiros, fazendeiros e garimpeiros que atuam, de forma ilegal, na região sem licenciamento ambiental e sem a fiscalização adequada, já que os órgãos de controle estão sendo esvaziados por conta da política ambiental do Governo Bolsonaro. Mas especialistas ouvidos pela REVISTA CENARIUM afirmam que os benefícios da Amazônia, para o ser humano, é mantendo-a em pé e não derrubada ou explorada de forma ilegal.

A Amazônia abrange, no Brasil, nove Estados, são eles: Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Pará, Mato Grosso, Maranhão e Tocantins; cerca de 59% de todo o território brasileiro, sendo 67% de todas as florestas tropicais do mundo, mais de 6.700 mil quilômetros quadrados de floresta. Além do Brasil, a Amazônia está presente em outros países da América do Sul como: Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa.
O novo mapa também apoia análises das Cidades Intermediárias da Amazônia Legal (Divulgação)
Maior desmatamento: queimadas em décadas

De acordo com dados divulgados pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a Floresta Amazônica viveu, em 2021, o seu pior ano em uma década. De janeiro a dezembro, foram destruídos 10.362 quilômetros quadrados de mata nativa, o que equivale à metade de Sergipe. Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) que monitora a região por meio de imagens de satélites. Apenas em relação a 2020, ano em que o desmatamento na Amazônia já havia ocupado a maior área, desde 2012, com 8.096 quilômetros quadrados de floresta destruídos, a devastação em 2021 foi 29% maior.

"O Governo Bolsonaro tem promovido uma política antiambiental", afirma Raul Valle, especialista em Justiça Ambiental e Direito dos Povos, do WWF-Brasil. "Inúmeras ações do governo de Jair Bolsonaro contribuíram para a escalada das queimadas nos últimos anos - e para o aumento do desmatamento e da degradação florestal. Durante toda sua gestão, Bolsonaro repetiu - no Brasil e no exterior - que não há queimadas na Amazônia, negando dados incontestáveis, enfraquecendo os mecanismos de controle e comando na região, e espalhou um clima de permissividade para os crimes de destruição, apoiando desmatadores e garimpeiros", explicou Valle.

Em 2019, já no primeiro ano da gestão, os elevados números de incêndios na Amazônia produziram uma crise internacional de imagem para o governo. Em agosto, produtores rurais combinaram, para o mesmo período, queima de pasto e de áreas em processo de desmatamento - episódio que ficou conhecido como "dia do fogo".
Área desmatada dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes (ONG SOS Amazônia)

A postura do governo foi questionar os dados oficiais e demitir Ricardo Galvão, diretor do Inpe, à época. Bolsonaro também reduziu o orçamento e a capacidade de ação de órgãos como o Ibama - que reduziu as operações de fiscalização e viu cair, drasticamente, o número de multas aplicadas a infratores ambientais.
Queimadas

Em todos os quatro anos que correspondem à atual gestão federal, o número de focos de queimadas na Amazônia teve valores próximos ou superiores a 40 mil, entre janeiro e agosto. Já nos 10 anos anteriores (2009-2018), a média de focos, no mesmo período, foi cerca de 28 mil.

"O descontrole das queimadas, observado nos últimos quatro anos, está estreitamente associado a um aumento do desmatamento e da degradação florestal nesse período", explica Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil. Ela completa: "A Amazônia é uma floresta tropical úmida e, ao contrário do que ocorre em outros biomas, o fogo não faz parte de seu ciclo natural. Os incêndios não surgem de forma espontânea no bioma e suas ocorrências estão sempre associadas a ações humanas - em especial ao desmatamento e à degradação florestal".
O Greenpeace realizou sobrevoos no sul do Amazonas e no norte de Rondônia para monitorar desmatamento e queimadas na Amazônia em julho de 2022 (Reprodução)
Garimpo Ilegal

Outro problema enfrentado é a invasão do garimpo ilegal nas terras indígenas, o que acaba deixando comunidades indígenas doentes por conta da gestão de alimentos contaminados pelo mercúrio utilizado para extração do ouro do fundo do rio. Relatório divulgado pela Hutukara Associação Yanomami mostrou que o garimpo ilegal tem criado um cenário de terror e medo nas mais de 350 comunidades existentes no território, que sofrem com fome, exaustão, doenças e violência, incluindo abuso sexual de mulheres e crianças em troca de comida.

Só na Terra Indígena Yanomami, a Polícia Federal afirma que possam existir mais de 20 mil garimpeiros trabalhando, ilegalmente, na extração de ouro. Em 2021, a destruição provocada pelos invasores cresceu 46% em relação a 2020, um incremento de 1.038 hectares, atingindo um total acumulado de mais de 3 mil campos de futebol devastados, a maior taxa anual desde a demarcação da área, em 1992.
Consequências

Um estudo lançado no mês passado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Socioambiental (ISA), Instituto Evandro Chagas e Universidade Federal de Roraima (UFRR) mostrou que o peixe consumido pela população de Roraima apresenta concentrações de mercúrio maiores ou iguais ao limite estabelecido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O estudo foi desenvolvido em quatro pontos da Bacia dos Rios Branco, Mucajaí e Uraricoera. Esse aumento de mercúrio, na água e no pescado, segundo pesquisadores, tem a ver com o garimpo ilegal na maior terra indígena do Brasil, a Yanomami. As amostras coletadas entre 27 de fevereiro e 6 de março de 2021 revelaram índices altos de contaminação em trecho do Rio Branco, na cidade de Boa Vista (25,5%), Baixo Rio Branco (45%), Rio Mucajaí (53%) e Rio Uraricoera (57%).
De acordo com estudos técnicos, os níveis de contaminação por mercúrio já atingiram índices graves (Divulgação)

De acordo com os dados divulgados, de cada 10 peixes coletados, seis apresentaram níveis de mercúrio acima dos limites estipulados pela OMS. Segundo um dos pesquisadores da Fiocruz, Paulo Basta, o mercúrio que é utilizado pelo garimpo ilegal pode sobreviver na natureza até 100 anos.

"Esse mercúrio fica retido na natureza. A gente costuma dizer que é um metal pesado, pois o mercúrio tem efeitos tóxicos e uma longa permanência no ambiente. O metal transita por diferentes compartimentos e se deposita no fundo do rio. No fundo do rio, por intermédio da ação de microrganismos, o mercúrio metálico se transforma em metilmercúrio, a forma mais tóxica do metal, que ingressa na cadeia trófica", destaca.

E continua: "Ou seja, penetra em todos os seres vivos que habitam nas águas e nos animais que vivem no rio e no solo. Desta forma, o mercúrio pode permanecer no ambiente por até 100 anos. Então, isso quer dizer que, se nossa sociedade e nossas autoridades tomarem providências, hoje, e o garimpo for interrompido, ainda assim nós vamos ter problemas de contaminação por mercúrio para manejar por décadas", finaliza o pesquisador Paulo Basta.

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