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Despoluição da Baía para além das Olimpíadas

O Globo, Opinião, p. 18
09 de Ago de 2015

Despoluição da Baía para além das Olimpíadas
É preocupante a possibilidade de, após medidas paliativas evitarem o vexame internacional, a limpeza das águas da Guanabara ser esquecida pelas autoridades

A preocupação com a limpeza da água na Baía de Guanabara para as competições em 2016 é legítima. Afinal, trata-se de um cartão-postal da cidade que estará em momento de superexposição no mundo inteiro, e os atletas precisam disputar as medalhas sem riscos à saúde ou qualquer outro entrave a seu desempenho.

Mas os Jogos Olímpicos são a prioridade de curto prazo, e é possível adotar medidas paliativas para 2016. A instalação de raias em trechos com níveis de poluição menores, a formação de ecobarreiras e barcos captadores de resíduos sólidos podem evitar que as provas sejam um desastre para imagem do Rio, devido à contaminação das águas por coliformes fecais, vírus e bactérias - constatada em análise feita a pedido da agência de notícias Associated Press para divulgação mundial.

Mais preocupante é a hipótese de, evitado o vexame internacional nas Olimpíadas, a despoluição da Baía de Guanabara - empreendimento de longo prazo e que exige vultoso investimento, inclusive da iniciativa privada - seja mais um projeto a ficar no papel, frustrando os cariocas.

O histórico não é animador. Nos últimos 20 anos, o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara, administrado pelo estado, consumiu entre R$ 2,7 bilhões (dados oficiais) e R$ 10 bilhões ( segundo o ambientalista Mário Moscatelli), sem alcançar os objetivos.

Ao mesmo tempo em que questionou o resultado da análise (comportamento que pouco contribui para resolver o problema), o governador Luiz Fernando Pezão deu um passo no sentido de fazer do medo do vexame nas Olimpíadas um marco zero para limpar as águas da Guanabara. Assinou um acordo de cooperação técnica com sete universidades e três centros de pesquisa, para a despoluição em 20 anos, e anunciou a intenção de criar a Agência de Governança da Baía de Guanabara, com acadêmicos, instituições científicas e representantes da sociedade civil.

Um bom começo, mas não é com canetadas que se vai resolver o problema. Sem a participação da iniciativa privada, é grande o risco de a despoluição da Baía morrer na praia. Segundo o secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, serão necessários R$ 12 bilhões para concluir o trabalho, quantia de que o governo não dispõe. A experiência bem-sucedida da concessionária Águas de Niterói - a cidade, entre as cem maiores do país, com o melhor saneamento do estado e um dos dez do país, segundo o Instituto Trata Brasil - aponta nessa direção.

Igualmente inútil será priorizar áreas turísticas, já que o saneamento da Baixada e de São Gonçalo é pré- requisito para uma Baía de Guanabara limpa. Sem isso, o Rio até poderá esconder as mazelas durante as Olimpíadas. Mas, com o passar dos anos, não terá construído um bom legado.

O Globo, 09/08/2015, Opinião, p. 18

http://oglobo.globo.com/opiniao/despoluicao-da-baia-para-alem-das-olimp…

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