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Desnutrição mata mais uma criança

O Progresso/ Clipping Funai
Autor: Maria Lucia Tolouei
12 de Fev de 2007

DOURADOS - Um menino indígena de dois anos morreu na tarde do último sábado, na UTI pediátrica do Hospital Universitário, onde estava internado há cerca de dez dias. De acordo com o atestado de óbito número 1014903, assinado pelo médico Paulo Marsura, as causas da morte de Nandinho foram insuficiência renal aguda, acidose metabólica, desidratação, desnutrição e enterocolite.

O garoto, que resida na Aldeia Jaguapiru, morreu por volta da 13h45 e foi enterrado ontem. O pai Aguinaldo Sanches, 25 anos, e a mãe Rafaela Fernandes, 20, disseram em entrevista ao O PROGRESSO, que o filho não passava fome e que nunca faltou comida.

O casal contou que a criança estava em casa, quando passou mal. Ele começou a rejeitar a alimentação, ficou prostrado, foi levado para o Centrinho, da Missão Caiuá, e depois removido para o HU.

O médico da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Zelik Trajber, disse ontem ao O PROGRESSO, que vai fazer um levantamento de todos os prontuários de Nandinho, que vinha recebendo atendimento da equipe de Saúde em casa antes de ser internado.

A primeira morte por desnutrição deste ano, vitimou um outro menino de nove meses e meio, que morava na Aldeia Bororó. Ele morreu dia 24 de janeiro, com um quadro de infecção decorrente de desnutrição, segundo o atestado de óbito.

No Centrinho de Recuperação de Desnutridos, há 36 crianças internadas; oito são de Dourados. Os casos mais graves são encaminhados para o HU. Os indígenas com desnutrição severa são pesados diariamente e os casos moderados, uma vez por semana.

Só nas Aldeias Bororó e Jaguapiru, há 2.500 crianças com menos de cinco anos. Conforme o médico da Funasa, cerca de 16 delas têm desnutrição severa e pelo menos 80% estão bem de saúde. Zelik explica que o Programa de Vigilância Nutricional, vem dando certo. No entanto, acaba esbarrando no atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que já não consegue contemplar a demanda crescente. "As vagas são limitadas, inclusive na UTI neonatal. Isto ocorre porque Dourados é referência para toda região, que acaba buscando o atendimento aqui", diz.

De acordo com a Funasa, em 2002 o número de mortos em decorrência de várias doenças, para cada mil nascidos vivos era de 46,31. Em 2003 e 2004 subiu, respectivamente, para 51,75 e 66,01. No ano de 2005, registrou queda, com 36,28 e, em 2006, ficou abaixo da média nacional, com 24,12. Já as mortes por desnutrição, nos últimos três anos registraram queda. Foram 21 em 2004; 12 em 2005; e uma em 2006.

CESTAS BÁSICAS
A Funasa vai assumir a responsabilidade pelo fornecimento de cestas básicas às comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul. O corte nessa entrega, responsabilidade do governo estadual até o fim do ano passado, gerou protestos de movimentos sociais na semana passada. O governo de Mato Grosso do Sul, alega dificuldades de caixa para manter o programa, já que enfrenta problemas para rolar a dívida do Estado.

O acordo para que a Funasa assuma a responsabilidade pelo fornecimento das cestas, foi fechado após encontro do governador André Puccinelli com o presidente da Funasa, Paulo Lustosa.
Segundo a assessoria da Funasa, devido à situação de grave insegurança alimentar de parte da população indígena do Estado, o órgão já vinha assumindo informalmente a responsabilidade pela distribuição em algumas regiões do Estado.

Mas a partir de agora, a situação se complica. Sem o apoio de outros organismos, como a Funai, o trabalho todo recai sobre a Funasa que até agora não recebeu informações sobre adicionais de recursos e de pessoal para receber as toneladas de alimentos, empacotar e estabelecer critérios para distribuição das cestas, entre outros.

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