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Desnutrição mata 70% dos indígenas

Correio do Estado-Campo Grande-MS
Autor: Joselina Reis
11 de Jul de 2002

A desnutrição, provocada pela má qualidade de vida em que vivem os índios em Mato Grosso do Sul, é responsável por 70% das mortes de crianças indígenas até 5 anos. Ao longo dos anos, a Funasa vem conseguindo diminuir o índice de morte por 1.000 nascimentos. Em 2000 era 81/1000, 2001 passou para 73/1000 e este ano, por enquanto, está em 50/1.000.
Entretanto, esse número ainda é maior em relação ao último registro do IBGE em Mato Grosso do Sul, em 1999 era de 24,4. No Censo 2000, o índice apontado entre a população branca no Brasil era de 29,6/1.000 e 21,2/1.000 registrado no Centro-Oeste. Na Capital, o último balanço da prefeitura, em 2001, aponta 15,67/1.000.
Com esse dado em mãos, a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) está treinando as equipes de saúde durante essa semana para melhorar o atendimento nas aldeias, porém o próprio coordenador da assistência à saúde indígena da Funasa, Wanderley Guenka, admite que isso não vai ajudar muito, pois as dificuldades dos indígenas são muito grandes.
"Só o curso não resolve se eles sofrem com outros fatores como a discriminação e desestruturação familiar", lembra o coordenador. Além da desnutrição, diarréias e doenças infecciosas do aparelho respiratório e a falta de cuidados durante o pré-natal estão fazendo com que crianças morram ou nasçam com má formação.
Quem consegue sobreviver aos cinco primeiros anos e chega à adolescência encara outro perigo: o desejo súbito de suicídio. Este ano 27 índios se mataram, dos quais a maioria era adolescente, segundo a Funasa.
O curso que está sendo oferecido em Campo Grande a 26 dos 50 profissionais de nível superior que formam as equipes de saúde da Funasa termina na amanhã e pretende diminuir a mortalidade infantil nas aldeias.
Wanderley Guenka acredita que é possível continuar diminuindo as mortes de crianças indígenas, no entanto a péssima qualidade de vida dos indígenas, principalmente dos caiuás-guarani em Dourados, pode impedir que esse objetivo seja alcançado. Ele cita como pontos desfavoráveis a desestruturação familiar, a briga por terras e o grande número de pessoas na mesma família. "É uma realidade deprimente", ressalta.
Pelo menos um desses pontos poderia ser mudado caso a Funasa pudesse promover o controle de natalidade. O assunto é prontamente abolido pelo coordenador, alegando que é polêmico e recusado por antropólogos e ONGs. A idéia de que o nascimento indiscriminado de índios (todos os anos mais 1,2 mil índios nascem no Estado) seria bom para evitar o fim das etnias e que isso reduziria a dívida do povo branco contra eles ainda é muito defendida por esse grupo de estudiosos.
Mas a realidade é que, enquanto a idéia prevalece, os índios continuam vivendo cada dia em péssimas condições. Recentemente o Correio do Estado denunciou que os caiuás-guarani de Dourados trocam produtos da cesta básica doada pelo Governo do Estado por bebida alcoólica.
A miséria entre os quase 60 mil índios em Mato Grosso do Sul, 2ª maior população indígena do País, perdendo apenas para o Amazonas com 73 mil, é vista não só nas aldeias rurais, mas também na zona urbana. Neste caso, acrescenta o coordenador, o problema é que na cidade os índios estão dispersos e a participação da Funasa é mais difícil.

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