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Desmatar é pior que biopirataria, diz ONG

Estado De S.Paulo-São Paulo-SP
Autor: Herton Escobar
08 de Set de 2003

Para biólogo da CI, brasileiros destroem mais recursos genéticos que estrangeiros

Muito pior do que o estrangeiro que leva embora um punhado de sementes são os brasileiros que destroem anualmente milhares de hectares de floresta amazônica, diz o representante da Conservation International (CI) na Amazônia, José Maria Cardoso da Silva. "A quantidade de informações genéticas que estamos perdendo com cada hectare desmatado é enorme, muito maior do que com a biopirataria", diz o biólogo paraense, que também é vice-presidente de Ciência da organização não-governamental (ONG).

Silva reconhece que a biopirataria precisa ser combatida, mas considera a perda de hábitat um problema muito mais sério, e urgente. Segundo ele, para cada quilômetro quadrado de floresta desmatado, 1.700 aves, de aproximadamente 250 espécies, morrem ou são deslocadas de seu ambiente natural. "Isso sem falar nos outros animais, plantas e microrganismos que também são perdidos", aponta o ambientalista. "Se queremos explorar e usar nossos recursos genéticos, precisamos antes de tudo conservá-los."

A biopirataria é caracterizada pelo tráfico de plantas, animais e outros recursos biológicos para a indústria, visando ao desenvolvimento de drogas e cosméticos. Esse comércio movimenta cerca de US$ 60 bilhões por ano no mundo, segundo estimativas do Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), como destacou ontem reportagem do Estado. Só no Brasil, estima-se que o tráfico de animais silvestres movimente US$ 1 bilhão ao ano. As duas atividades têm finalidades diferentes, mas são praticadas de maneira semelhante. A biopirataria envolve lucros maiores e é mais difícil de detectar, pois o material traficado pode ser nada mais do que algumas sementes, a pele de um sapo ou um vidrinho com veneno de aranha.

Para Silva, que pesquisa aves na Amazônia há 20 anos, é preciso fortalecer a ciência nacional, para evitar a biopirataria, e aumentar as áreas protegidas, para evitar a perda interna dos recursos genéticos. E, para isso, é preciso mais investimentos. "Quem tem de fazer isso é o governo, não são as ONGs", diz. "O investimento precisa ser no mesmo nível de grandeza do desafio, que é enorme."

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