O Globo, Sociedade, p. 24
12 de Set de 2019
Desmatamento cai, mas queimadas crescem 44% no Cerrado
Segundo maior bioma do país teve queda no desmatamento, mas aumento de queimadas
VINICIUS SASSINE E RAFAELA D'ELIA*
sociedade@oglobo.com.br
BRASÍLIA E RIO
Os alertas de desmatamento no Cerrado, o segundo maior bioma brasileiro, apontam uma redução de 10,4% na área devastada até agosto deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. As queimadas, no entanto, cresceram 44,35% entre 1o de janeiro e 10 de setembro, em relação ao mesmo período de 2018. Ambos os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ( Inpe).
O fogo na região fez os governos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul decretarem situação de emergência e levou também ao fechamento do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (MT), por motivos de segurança. Brigadas anti-incêndio estão atuando para tentar debelar as chamas.
Em nota sobre o parque, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, afirmou que" ainda não foram concluídos os cálculos de área atingida, mas estima-se que neste novo evento o fogo consumiu cerca de 5 mil hectares" -espaço equivalente ao de 5 mil campos de futebol.
Segundo Claudio Almeida, coordenador do programa de monitoramento de biomas do Inpe, as queimadas no Cerrado nesta época do ano não têm necessariamente ligação com o desmatamento. Ele atribui os focos de fogo a práticas agrícolas para limpeza de pasto e queima de restos de cultura. Almeida disse ainda que fogo no Cerrado em época de seca é "algo comum".
No que tange ao desmatamento na região, um fenômeno vem chamando a atenção de pesquisadores que acompanham os mapas de satélite das áreas de fronteira agrícola: a derrubada da vegetação para não colocar absolutamente nada no lugar.
A prática foi detectada por uma pesquisa em curso no Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Ela vem ocorrendo principalmente na região chamada Matopiba, uma área de Cerrado mais preservada abrangendo o Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, que vem se transformando em uma nova fronteira agrícola para a expansão do cultivo de soja.
No Cerrado, a destruição somou 3.931 km² até agosto deste ano, enquanto no mesmo período no ano passado foram 4.391 km². Muitas das áreas abertas permanecem sem qualquer uso.
É o que ocorreu em Sebastião Leal (PI), conforme constataram os pesquisadores do Lapig. Na região, eles acompanharam uma área desmatada de 127 km². Imagens de satélite de 2015, 2016 e 2018 mostram que a área permaneceu sem uso consolidado durante todos esses anos. Um drone sobrevoou a área e fez a mesma constatação, inclusive com regeneração de parte da da vegetação. O fenômeno,comum no Piauí, é replicado em outros lugares do Matopiba.
Pesquisador no Lapig e responsável pelo estudo, Sérgio Nogueira aponta a especulação fundiária como uma hipótese para os desmatamentos que não dão origem a nada.
Especular em cima de uma área aberta explicaria os altos custos para se desmatar e abandonar em sequência grandes territórios.
-Outra hipótese é o alto risco climático da região, bem suscetível a quebras de safras. Além disso, há muitas áreas de pastagem com boa aptidão para a agricultura, e há uma discussão sobre como aumentar a produtividade dessas áreas, seja para a agricultura ou a pecuária -diz Nogueira.
Os alertas do Deter, programa do Inpe, mostram uma queda expressiva do desmatamento do Cerrado em todo o Matopiba: de 3.476 km² entre maio e agosto de 2018 para 1.452 km² neste ano.
Segundo Nogueira, isso se deve à consolidação da noção de que o desmate não é vantajoso para o setor agropecuário, pressionado por grandes empresas que buscam diferentes certificações ambientais para seus produtos.
Outra explicação para essa redução é o já elevado índice de perda de cobertura vegetal do Cerrado, onde mais da metade do bioma já foi devastada.
Apesar da queda do desmatamento em todo o Matopiba, os alertas do Deter mostram aumentos expressivos da devastação neste ano em Formosa do Rio Preto (BA) e Luís Eduardo Magalhães (BA), os principais polos da fronteira agrícola em curso.
Entre maio e agosto deste ano, os alertas mostram um desmate de 100 km² em Formosa, quase o dobro do registrado no mesmo período do ano passado. Em Luís Eduardo Magalhães, foram 31,9 km², quase o triplo do que ocorreu nos mesmos meses de 2018.
* Estagiária, sob orientação de Flavia Martin
O Globo, 12/09/2019, Sociedade, p. 24
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