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Desenvolvimento sustentável

GM, Opinião, p. A3
Autor: ALTENFELDER, Ruy
06 de Mai de 2004

Desenvolvimento sustentável

Há hoje uma certa confusão no Brasil quando se fala em desenvolvimento sustentável, uma vez que muitos estão usando a expressão para designar a expectativa de que o país entre numa fase de crescimento que se mantenha ao longo do tempo, e não seja apenas uma bolha, como ocorreu outras vezes. Internacionalmente, a definição de desenvolvimento sustentável é a que está no documento "Our Common Future", conclusão dos trabalhos realizados em 1987 pela Comissão Mundial da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Unced). O documento diz que "desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer as futuras gerações". O relatório defende a continuidade do crescimento nos países industrializados e nos subdesenvolvidos, inclusive atrelando a superação da pobreza dos últimos ao crescimento dos primeiros. Busca conscientizar sobre a necessidade de cuidados para evitar a degradação ambiental como conseqüência do progresso. Trata-se de um posicionamento que interessa ao Brasil como país em desenvolvimento e com uma extraordinária biodiversidade que precisa ser preservada. O relatório deu seqüência a ações e pronunciamentos anteriores, decorrentes da percepção crescente, a partir da década de 60, de que os recursos do nosso planeta são finitos e que a recuperação dos danos ambientais é limitada. A Conferência sobre Meio Ambiente realizada em Estocolmo em 1972 e a publicação pelo Clube de Roma (Dennis Meadows e outros pesquisadores) do estudo "Limites do Crescimento" são marcos desse movimento. O estudo concluía que, mantidos os níveis de industrialização, poluição, produção de alimentos e exploração dos recursos naturais, o limite de desen-volvimento do planeta seria atingido no máximo em 100 anos, provocando diminuição da população e da capacidade industrial. Ele gerou reações contrárias pelo seu pessimismo, que impediria o desenvolvimento dos países subdesenvolvidos, mas serviu de alerta para a busca de processos de produção ambientalmente responsáveis e para a geração de novos conceitos. Surgiu assim em 1973, lançado pelo canadense Maurice Strong, o conceito de ecodesenvolvimento, cujos princípios foram formulados por Ignacy Sachs, envolvendo: satisfação das necessidades básicas; solidariedade com as gerações futuras; participação da população envolvida; preservação dos recursos naturais e do meio ambiente; elaboração de um sistema social que garanta emprego, segurança social e respeito a outras culturas; programas de educação.Esses princípios levaram ao conceito de desenvolvimento sustentável, que envolve os mesmos aspectos prioritários. Nesse mesmo ano o Brasil criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema) como resultado da Conferência de Estocolmo de 1972. Antes havia iniciativas importantes, como a criação de entidades, entre as quais a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (FBCN) e a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan). Na área oficial existiam organizações precursoras das atuais agências de controle ambiental, como a Comissão Intermunicipal de Controle da Poluição do Ar e da Água na Grande São Paulo. Nos anos seguintes o movimento ambientalista cresceu em todos os segmentos da sociedade, gerando entidades (ONGs) e ações em casos de poluição ou degradação ambiental ou de riscos, alguns dos quais se tornaram paradigmáticos. Na área empresarial a preocupação se generalizou e um grupo mais envolvido criou uma entidade voltada ao desenvolvimento sustentável, ligada ao movimento internacional de empresários com esse foco. Na área científica apareceram estudos de especialistas de vários setores (biólogos, geógrafos, químicos, físicos e especialistas sociais) mostrando os riscos do desenvolvimento ambientalmente inadequado e os caminhos da sustentabilidade. Assim, quando ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992, o país já tinha consciência da necessidade do desenvolvimento sustentável. A Rio 92 foi um grande evento, embora tenham faltado conclusões mais práticas, pela não-aceitação geral dos cronogramas para a eliminação da emissão de CO2 e da convenção sobre biodiversidade. Tal forma de desenvolvimento pressupõe expansão econômica permanente, com melhoria nos indicadores sociais, além da preservação ambiental, o que corresponde às necessidades do Brasil. Por isso, a Fundação Bunge decidiu que esse será um dos campos homenageados com os Prêmios Moinho Santista e Moinho Santista Juventude em 2004. A conclusão é que o desenvolvimento sustentável é o melhor caminho para o Brasil, possibilitando superar problemas que hoje enfrentamos nas áreas econômica, educacional, social e ambiental, permitindo que deixemos para as próximas gerações um Brasil com melhor qualidade de vida e com condições de continuar a se desenvolver de forma harmônica. kicker: É preciso cuidado para evitar degradação ambiental como conseqüência do progresso

Ruy Altenfelder - Superintendente-geral da Fundação Bunge.

GM, 06/05/2004, Opinião, p. A3

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