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Desenvolvimento sem degradacao

CB, Brasil, p.10
21 de Fev de 2005

Desenvolvimento sem degradação
Experiências bem-sucedidas provam que é possível fixar o homem no campo e garantir seu sustento sem agredir o meio ambiente. No Pará, mais de mil famílias vivem da extração responsável do açaí

Existe solução para os intermináveis conflitos sociais envolvendo uso e propriedade de terras no Amazonas. E a resposta está mais perto do que se pode imaginar. O desenvolvimento da região com culturas tradicionais, feito de maneira responsável e sem degradar o meio ambiente, garante a fixação do homem na sua terra e ainda diminui a desigualdade social. Foi assim com as 1,1 mil famílias que vivem da produção de Açaí no Pará, estado que atualmente mais sofre com a tensão em virtude da regularização fundiária. O objetivo aqui é garantir o sustento das pessoas, mas também respeitar as condições ecológicas e reconhecer as tradições de cada local”, explica Patrícia Lucena Mourão, técnica da organização não-governamental (ONG) Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase).

Quando começaram a atender os catadores de açaí, os técnicos da Fase encontraram uma estrutura precária. Muitos trabalhavam sem equipamentos, outros ignoravam as frutas e cortavam apenas os palmitos e havia aqueles que desmatavam ao redor dos açaizais. Era comum para os catadores que eles cortassem tudo o que não era açaizal. Mas a monocultura é muito ruim porque diminui o ecossistema e ainda deixa os agricultores na mão”, argumenta Patrícia. Em caso de falta de açaí, eles vão viver de quê?”

A solução veio com muita conversa. Cada uma das famílias descobriu que a preservação do meio ambiente pode ser, antes de mais nada, lucrativa. Três anos depois da entrada da Fase em quatro comunidades do sul Pará que vivem da frutinha roxa, o açaí produzido lá foi transformado em produto com certificado orgânico. Toda produção, que tem selo de garantia, é vendida para os Estados Unidos. Os números não mentem. Em 2001, foram vendidas 1,6 mil toneladas de açaí. Ano passado, 3,2 mil toneladas. Para 2005, o pessoal de Igarapé Mirim, um dos municípios atendidos pelo projeto da Fase, tenta segurar a expectativa, mas conta com a adesão de países europeus entre seus clientes. Esta semana, o açaí orgânico do Pará será apresentado numa feira de agricultura na Alemanha.

Para o presidente da Fundação Banco do Brasil, Jacques Pena, a desigualdade social é responsável pelo aumento no clima de tensão e conflito social nas regiões pobres do Brasil, principalmente Norte e Nordeste. Se trabalharmos para melhorar a qualidade de vida dessas comunidades, vamos diminuir as crises e os níveis de conflito”, argumenta. A fundação terá este ano orçamento recorde para investir em projetos de desenvolvimento de comunidades carentes. Serão R$ 130 milhões, 35% a mais do que foi gasto em 2004.

Agora, Jacques Pena vai trabalhar em outra frente. De hoje até quarta-feira, ele vai ajudar a grupos sociais a conseguir recursos com entidades estrangeiras. O encontro Diálogo de Fundações, Redes Sociais, Governo Brasileiro e Banco Mundial acontece em Brasília, de hoje até quarta-feira, e é uma chance de ouro para ONGs e representantes de comunidades carentes de conseguir recursos para seus projetos. Temos uma demanda enorme em lugares em que há uma total ausência do poder público”, argumenta a presidente da ONG Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), Maria Araújo de Aquino. Temos que apelar a outras parcerias.”

Reconhecimento
A história das mulheres pobres da região do semi-árido maranhense se mistura com a do babaçu. Ali desde cedo elas aprendem um ofício que é passado de mãe para filha: o de quebradeira de coco. No Maranhão e também no Piauí, Pará e Tocantins, cerca de trezentas mil pessoas vivem da extração do coco do babaçu, 90% dos quebradores são mulheres. Uma delas é a Zumira de Jesus Mendonça, de 32 anos. Ela começou a quebrar babaçu com nove anos. A gente começava cedo, antes das 6h, e ia até começar a cair o dia”, lembra. Minha família caminhava léguas no meio do mato alto para conseguir nosso sustento.”

O trabalho era no meio do mato e muitas vezes o babaçu estava dentro de uma propriedade privada. Não era raro que elas fossem retaliadas por fazendeiros ou por seus campangas. Hoje, a história das quebradeiras muda de acordo com o município em que vivem. Dez cidades do Maranhão adotaram a Lei do Babaçu Livre, que está em vigência no estado desde 1997. Nesses lugares, é permitido a extração mesmo em terras privadas. Agora, não temos mais vergonha. Depois de tanta luta começamos a conquistar nossa identidade”, orgulha-se Zumira, que é uma das coordenadoras do movimento de Mulheres Quebradeiras de Babaçu no Maranhão.

Mas ainda não conseguimos nem 1% do que esperamos para nosso desenvolvimento”, explica a quebradeira. Na topo da lista está a preservação da palmeira de babaçu. No Maranhão, muitos pecuaristas acreditam que a planta deve ser arrancada para não prejudicar o pasto. Alguns arrancam porque o palmito é bom, mas a maioria tira por tirar. É uma pena.”

O babaçu é 100% aproveitado. Da amêndoa é extraído o azeite, de forma artesanal, para consumo alimentício, e o óleo é vendido para indústrias de cosméticos. Do coco ainda pode ser usado no preparo da farinha rica em nutrientes, chamada na região de fubá. Da casca prepara-se o carvão; e da palha das fibras ainda é feito o artesanato e a cobertura das casas. Uma trabalhadora quebra, em média, 1 0 quilos de coco numa jornada. No restante do dia, as quebradeiras de coco ainda cuidam da roça, da casa e dos filhos.

Assistência médica chega a Anapu

Anapu (PA) – O Exército inicia hoje uma missão destinada a prestar assistência à população carente de Anapu. Trata-se de uma Ação Cívico Social (Aciso), operação organizada para levar apoio médico e odontológico aos moradores do município. Levantamento feito nos últimos dias pelos militares revelou alta incidência de malária, leishmaniose, febre amarela, verminose, problemas ginecológicos e ortopédicos.

O atendimento médico-odontológico também tem o objetivo de aproximar o Exército da população para facilitar a busca de informações úteis para a captura dos homens acusados de participação do assassinato da missionária americana Dorothy Stang, ocorrido no dia 12 de fevereiro. Dos quatro suspeitos, três continuam soltos.

Os primeiros integrantes da equipe enviada para a realizar a operação chegaram ontem à cidade. Um helicóptero do Exército chegou no final da manhã com um cirurgião, um clínico geral, um pediatra, um ginecologista, um farmacêutico, um oficial enfermeiro, dois dentistas e cinco soldados auxiliares de enfermagem, todos de Marabá (BA). Na próxima quarta-feira chega a Anapu mais material para reforçar a Aciso. O tipo de equipamento é adequado para utilização em guerras. No passado, foi usado numa missão do Exército Brasileiro em Moçambique, na África.

Medicamentos
A equipe da operação levou material e equipamento para exames básicos de urina, hemogramas, raios-x e diagnóstico de malária. Serão ainda distribuídos remédios para verminose, hipertensivos e antibióticos. Mais de 30 mil pessoas vivem no município de Anapu. Os militares ainda não sabem quantos terão interesse no atendimento.

A equipe de Marabá fica dez dias na cidade. Depois, será substituída por outra da mesma cidade ou, mesmo, de Marabá. O Exército estuda a possibilidade de estender a Aciso para outros municípios do Pará, como Pacajá e Paraopebas. Com a chegada da equipe, mais de 120 militares encontram-se acampados em Anapu.

Fazem parte da Operação Pacajás, que movimenta mais de dois mil homens para ajudar na caçada aos assassinos de Dorothy. O governo vai disponibilizar um número telefônico com prefixo 0800 para receber informações sobre o paradeiro dos criminosos. Também serão feitos apelos divulgados pelas rádios da região para estimular a população a auxiliar na captura.

CB, 21/02/2005, Brasil, p.10

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