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Desde o início, Igreja tenta livrar índios do domínio

O Estado de S. Paulo-SP
04 de Nov de 2001

Com os indígenas é diferente. Desde o padre Antônio Vieira, no século 17, a Igreja Católica tenta livrar o silvícola do domínio do europeu conquistador. Desastrosos episódios interferiram em nossa história em razão disso. O padre Bartolomé de Las Casas, jesuíta como Vieira, pregou nas cortes ibéricas e italianas contra a escravização do índio americano, que vivia "como se estivesse no paraíso terreal", propondo que se levasse para as Américas uma gente "por sua natureza íntima" mais afeita à escravidão e ao trabalho: os negros africanos. Os esforços do padre Las Casas são conhecidos e estão resumidos na História Universal da Infâmia, do escritor argentino Jorge Luís Borges. As "reduções" que os mesmos jesuítas espalharam por toda a fronteira oeste do território brasileiro e que foram atacadas pelos bandeirantes paulistas (muitas vezes financiados com dinheiro eclesiástico) demoliram, ou tentaram demolir, boa parte da cultura silvícola, principalmente a dos guaranis. Nas "reduções", os padres tentavam criar um regime teocrático (a ser controlado por eles) eliminando práticas contrárias ao cristianismo, como a poligamia, a antropofagia, o uso de ervas abortivas para controle da natalidade e o culto a Tupã, ensinando ofícios úteis e tentando estabelecer um sistema de organização do trabalho. A idéia de uma "República Guaranítica", que certamente inspirou o primeiro Lopes, perdura até hoje no Paraguai. Alguns estudiosos crêem que essa idéia vem sendo trabalhada no Brasil, notadamente na fronteira do Mato Grosso do Sul. Conjectura ou não, o fato social que mais cresce na região é o conjunto de demandas por terras reclamadas pelos descendentes dos guaranis, povo nômade também presente no sul da Bolívia e no Paraguai, onde sua língua é mais falada do que o castelhano. "Não são descendentes, são guaranis verdadeiros", protesta o assessor jurídico do Cimi em Campo Grande, Maucir Paoletti. "Eles mantêm sua língua, suas tradições, seus costumes; eles têm o direito sagrado e constitucional de reaver as terras que lhes pertenciam." Maucir tem posições afirmativas e uma retórica empolgada. "O centro-sul do Mato Grosso do Sul sempre foi dos guaranis; no final do século 19, a República entregou a região para o senhor Thomas Larangeiras, um argentino que criou a Companhia Matte Larangeiras; essa companhia explorou os índios até a década de 1940, destruiu suas aldeias e contou com os olhos fechados do antigo Serviço de Proteção aos Índios (SPI); nos anos 40 e 50, Getúlio Vargas dividiu uma área de 300 mil hectares em 10 mil lotes de 30 hectares, passando por cima de aldeias indígenas, sem levar em consideração direitos imemoriais." Ele lembra que na década de 70 havia cerca de 175 mil índios no Brasil e que hoje o número saltou para cerca de 400 mil. "Com a ingerência do branco, com os programas de saúde da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), mais os programas de subsistência e mais o surgimento das Organizações Não-Governamentais (ONGs), a partir dos anos 70, a taxa de natalidade e a expectativa de vida dos índios aumentou bastante", ressalta o advogado. E conclui: "Está claro que as terras em que eles estão confinados não são suficientes; se o Estado, vendeu para particulares o que não podia, ele que agora pague o pato."

Folha On line 2/11

Índios libertam reféns em Ubatuba

da Folha de S.Paulo

A Funasa (Fundação Nacional de Saúde) marcou uma reunião para a próxima terça-feira com representantes dos índios guaranis que fizeram quatro funcionários do órgão e dois da Secretaria da Saúde de Ubatuba reféns durante cinco horas na aldeia Renascer ontem.

As seis pessoas foram retidas pelos índios, que cobram assistência médica e regularização fundiária da área, quando realizavam uma avaliação médica na aldeia de Ubatuba, no litoral norte de São Paulo.

Durante o cadastramento, eles foram rendidos pelos índios. Um grupo colocou um carro na entrada da aldeia, impedindo a saída dos agentes de saúde.

Eles foram liberados no final da tarde de anteontem e não sofreram agressões. A cidade abriga cerca de cem índios guaranis, que vivem nas aldeias Boa Vista e Renascer.

Domingo, 4 de novembro de 2001

Uma Ouvidoria contra ataques e ocupações Ataques de índios contra fazendas abriram discussão sobre criação de um órgão de controle CARLOS SOULIÉ DO AMARAL Especial para o Estado A ameaça de novos ataques por parte dos índios guaranis e terenas contra fazendeiros e colonos, no Mato Grosso do Sul, levantou a proposta de criação de uma Ouvidoria Indígena, nos moldes da Ouvidoria Agrária que vem tratando, com bons resultados, dos problemas fundiários do Estado. A proposta foi debatida na quarta-feira entre membros da Fundação Nacional do Índio (Funai), do governo estadual, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e do Conselho Indígena. Ficou definido que a Funai e o governo do Estado vão firmar um convênio para agilizar a demarcação de terras. A ouvidoria será criada em seguida. "Os ataques, protestos e reivindicações de grupos indígenas em todo o País, visando à conquista de terras produtivas, seguem as táticas desenvolvidas e aplicadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST); se estes foram guiados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), agora a orientação emana do Cimi", afirma o deputado estadual José Teixeira (PFL). Tanto a CPT quanto o Cimi são órgãos auxiliares de política-executiva da Igreja Católica. Curiosamente, o MST nasceu a partir de um despejo de pequenos agricultores do Rio Grande do Sul estabelecidos em terras reclamadas pelos caingangues, na região do antigo Território das Missões, norte do Estado. Os desalojados acamparam na Encruzilhada Natalino e reivindicaram a área da fazenda Anoni para retomar suas atividades e recompor suas vidas. Isso foi no tempo do governo Geisel. Um grupo de seminaristas, entre os quais se perfilava João Pedro Stédile, prestou auxílio aos agricultores despejados pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e, mais tarde, passou a liderar grupos diferentes até realizar, em 1986, no governo Sarney, o primeiro Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, em Curitiba. Pregação - Atualmente, não interessa mais ao MST a luta pela terra. O governo FHC assentou milhares de famílias superando, com seu programa de reforma agrária, a soma de tudo o que se fez antes dele. O MST definiu-se pela luta política revolucionária, por meio da mobilização de massas e da pregação marxista, mantendo de pé a prática de invadir e depredar propriedades públicas ou privadas, bloquear estradas e atuar no meio universitário para chamar a atenção da mídia e veicular mensagens que mantenham viva "a chama revolucionária", conforme definem os manuais dos seus cursos de formação de militantes.

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