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Desde 2003, governo tem relatorio que liga politicos a rede de crimes no Para

OESP, Nacional, p.A4
23 de Fev de 2005

Desde 2003, governo tem relatório que liga políticos a rede de crimes no Pará
Documento da Procuradoria-Geral menciona também empresários e pistoleiros na grilagem de terras e os vincula a parlamentar

BRASÍLIA - Relatório de agosto de 2003, produzido pelo Ministério Público Federal, informou ao governo federal a escalada do crime organizado na Terra do Meio, no Pará, onde foi assassinada a freira norte-americana Dorothy Stang. O documento responsabiliza pela violência na região seis empresários - Moisés Carvalho Pereira, Walteir Gomes Rezende, Antônio Lucena Barros, Osmar Alves Ferreira, Leonardo Dias Mendonça e Wilson Moreira Torres -, todos acusados por exploração ilegal de mogno e tráfico de drogas. O relatório vincula todos eles ao deputado federal Jader Barbalho (PMDB-PA), da base aliada do governo Lula. "É nítida a participação de Jader Barbalho na exploração madeireira na região, especialmente do mogno", diz o texto.
O documento, ao qual o Estado teve acesso, deixa evidente a omissão das autoridades federais e estaduais na expansão da violência na região. Ele explica a reação indignada do procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, ao assassinato da freira Dorothy Stang. Fonteles fez o relatório chegar às autoridades um mês depois - portanto, há um ano e cinco meses - mencionando os empresários e pistoleiros.

Dos seis nomes envolvidos, Leonardo está preso em Goiânia por tráfico de drogas. Ele é ligado a Fernandinho Beira-Mar e foi investigado por ter também uma rede de influência no Judiciário e no Legislativo.

Fonteles e o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, reuniram-se reservadamente ontem à noite para discutir as resistências surgidas à federalização do inquérito sobre a morte da freira. O governo constatou que as quadrilhas que atuam na Terra do Meio estão amparadas em forte esquema econômico e político. Outro empecilho à federalização das investigações é que a rede de proteção à máfia da terra envolve, além de autoridades estaduais e funcionários instalados em órgãos federais, como o Ibama, o Incra e a Funai.

Essas constatações estão também no relatório reservado, encomendado por Fonteles e entregue em 14 de setembro de 2003 às autoridades do Executivo, às Forças Armadas, ao Judiciário e à Polícia Federal. Desse trabalho do Ministério Público Federal participaram o Ministério do Trabalho, o Ibama e a Polícia Federal. As constatações ali apresentadas também levam à conclusão de que, desde sua apresentação, há um ano e cinco meses, o governo federal foi tão omisso quanto o governo estadual no enfrentamento da questão.

Segundo o documento (ver alguns trechos ao lado), a região visitada, entre os municípios de São Félix do Xingu e Altamira, "encontra-se dominada pela presença ativa do crime organizado", que teria se estruturado em duas fases. A primeira consistiu na exploração intensiva do mogno e outras madeiras nobres em terras da União e do Estado do Pará por grupos de pessoas físicas e jurídicas, muitas delas ligadas a Jader. Na fase seguinte, com o escasseamento da madeira, foi montada uma vasta rede de grilagem para fins especulativos.

À frente desses grupos, conforme o relatório do MPF, estariam os empresários Walteir Gomes Resende, Moisés Carvalho Pereira, Antônio Lucena Barros e Osmar Alves Ferreira, além de Leonardo Dias Mendonça e Wilson Moreira Torres, classificados como "testas-de-ferro" de Jader. O deputado é mencionado também na questão da pistolagem. Diz o documento que o jagunço conhecido como "Pé de Cobra", descrito como "homem de posses", controla uma rede de pistolagem e "é ligado a Jader Barbalho".

A suspensão dos planos de manejo na região, determinada no ano passado pelo governo, fez os grupos criminosos migrarem para uma nova atividade igualmente rentável: a grilagem das terras. Partiram assim para a limpeza da área, com expulsão ou eliminação dos colonos e apropriação das terras públicas.

A estrutura montada pela máfia da terra, segundo o documento, teria três eixos, o primeiro deles formado por fazendeiros e grileiros, os chefões. Seriam expoentes desta célula na região os fazendeiros João Cléber e Francisco Torres, que teriam a seu dispor um regimento calculado em mais de cem jagunços prontos para as tarefas de sabotagem, intimidação e assassinato de trabalhadores rurais, dirigentes sindicais e militantes de direitos humanos.

O segundo eixo criminoso seria a própria pistolagem. O capataz Pedro Pereira da Silva, conhecido como Pedro Cagão, seria o responsável pela contratação e gerenciamento do pelotão de pistoleiros. Desse tropa de jagunços constariam nomes famosos da pistolagem, conhecidos pelas alcunhas de Cipó, Gongo, Cheiro Preto, Olho de Gato, Raul, Juvenal, Ciba, Baianinho, Xexém, Alberto Bala, Pé de Cobra, Pedro Mandi, Carlão e Sansão, entre outros. O segundo eixo agiria na limpeza das áreas a mando do primeiro.

O terceiro eixo criminoso seria integrado por agentes públicos, responsáveis pela legitimação da grilagem e por conceder empréstimos e financiamentos com dinheiro público aos criminosos.

OESP, 23/02/2005, Nacional, p.A4

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