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Descaso com saúde pode causar genocídio dos povos indígenas do Vale do Javari

Amazonia.org
10 de Abr de 2007

A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e o Conselho Indígena do Vale do Javari (Civaja) vão formalizar acusação contra o governo brasileiro junto à Organização dos Estados Americanos (OEA), Organizações das Nações Unidas (ONU) e Anistia Internacional.

As duas organizações acusam o governo federal de descaso e omissão com as populações indígenas da região do Vale do Javari, onde vivem três mil indígenas de cinco etnias (Kanamari, Marubo, Mayoruna, Matis e Kulina), além dos povos de pouco contato (mais conhecidos como isolados).

Previsão da Coiab e do Civaja aponta que em menos de dez anos toda a população indígena da região do Vale do Javari pode desaparecer, caso a saúde crítica daquela região não receba um atendimento de saúde adequado do poder público. O detalhamento do quadro de saúde dos povos indígenas do Vale do Javari estará reunido e sistematizado em um dossiê de autoria da Coiab previsto para ser finalizado até junho deste ano.

No Vale do Javari, próximo aos municípios de Atalaia do Norte e Tabatinga, praticamente toda a população está contaminada de hepatite A, B e D e têm crescido os casos de pessoas com a hepatite C, que não tem cura.

A malária é outra doença que atinge toda a população. Muitos indígenas nas aldeias já pegaram a doença mais de 20 vezes. Registros feitos pelos agentes de saúde indígenas constataram que crianças e até mesmo recém-nascidos são vítimas das doenças. O temor das famílias indígenas é que estas crianças cresçam debilitadas e venham a óbito precocemente.

Vulneráveis com as doenças que os atingem sem trégua, os indígenas, apesar dos pífios tratamentos que o poder público lhes oferece, acabam sendo vítimas de outras enfermidades - anemia, baço inchado, úlcera, etc. Há situações em que uma gripe já é capaz de exterminar toda uma família.

Coiab e Civaja acusam não apenas o poder público federal, responsável pela administração dos recursos destinados à saúde indígena, mas também o governo estadual, de alarmar, através de recente sorologia feita naquela região, de que não existe malária no Vale do Javari.

As duas organizações afirmam que todas as denúncias de descaso com a saúde indígena do Vale do Javari jamais foram sequer investigadas pelas autoridades públicas. Essa indiferença e omissão das instituições, apesar das inúmeras denúncias na imprensa e dos documentos oficiais enviados às instituições, entre elas Polícia Federal e MPF, vêm contribuindo para o genocídio silencioso dos povos que vivem na região do Vale do Javari.

Até o dia 15 deste mês, 15 representantes dos kanamari, mayoruna, marubo, matís e kulina vão a Brasília participar de uma audiência na Funasa. A comissão espera dar início a uma solução para a saúde indígena do Vale do Javari. A visita fará parte das programações do Abril Indígena, que acontece em Brasília, por ocasião do dia 19 de abril, Dia do Índio.

A Coiab e o Civaja lembram que o governo brasileiro recentemente foi acusado pela ONU de "ter fracassado na proteção das populações indígenas do país". De acordo com o relator da ONU, Rodolfo Stavenhagen, "os índices de desenvolvimento humano dos povos indígenas continuam muito inferiores ao do resto das comunidades, as violações contra esses povos não diminuem e a pressão sobre as terras dadas por diferentes governos é cada vez maior".

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