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Desastres multiplicados

O Globo, Ciência, p. 33
13 de Nov de 2013

Desastres multiplicados
Prejuízos nos últimos 20 anos chegam a US$ 2,5 trilhões, com 530 mil mortes

MARIA CLARA SERRA
maria.serra@oglobo.com.br

RIO - Nos últimos 20 anos as condições meteorológicas extremas mataram 530 mil pessoas no mundo, causando prejuízos econômicos que chegam a US$ 2,5 trilhões, de acordo com o Germanwatch, instituição financiada pelo governo alemão. Este ano, somente o supertufão Haiyan, a 24ª tempestade tropical que assolou as Filipinas em 2013, pode ter matado 10 mil pessoas, embora o presidente Benigno Aquino agora negue a informação. Apesar dos números crescentes de fenômenos naturais extremos, muitos especialistas ainda temem traçar uma ligação direta com as mudanças no clima. A pergunta que muitos se fazem é até quando essa negativa vai continuar emperrando uma negociação mais contundente sobre as reduções das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), ainda apontados como principal motivo das alterações climáticas.
Em 2012, os países mais afetados por desastres naturais foram o Paquistão, o Haiti e justamente as Filipinas, divulgou ontem a Organização das Nações Unidas.
- A tragédia humana causada pelo desdobramento do Haiyan só será capturada em relatórios futuros - afirmou Soenke Kreft, coautor do documento divulgado nos bastidores da 19ª Conferência do Clima (COP-19), que acontece desde a última segunda-feira na Polônia.
Durante a abertura do evento, o delegado filipino Naderev Sano anunciou greve de fome até o final da conferência, e ontem foi seguido por 30 ativistas num ato tido como o mais importante do segundo dia de debates.
- Vamos fazer um jejum em solidariedade à delegação filipina, com as vítimas do tufão, e até que se concretizem ações políticas reais nesta COP-19 - disse Angeli Apparedi, coordenadora da iniciativa que uniu ONGs de todo o mundo para a causa filipina.
Sano lembrou a urgência de medidas concretas contra o aquecimento global para evitar tragédias como a do Haiyan e pediu para que os países desenvolvidos reduzissem as emissões e aumentassem seu comprometimento com o Fundo Verde do Clima, que deveria repassar US$ 100 bilhões aos países em desenvolvimento para a mitigação das emissões e adaptações aos impactos das mudanças climáticas em 2020. Até 30 de julho deste ano, o fundo, que foi criado em 2010, tinha apenas US$ 9 milhões.
Os desastres e o clima
Apesar do receio do mundo científico em afirmar que essas tragédias estão ligadas às mudanças climáticas, alguns efeitos causados pelo aumento das temperaturas do planeta já são apontados como a principal causa da maior intensidade dos ciclones tropicais.
- Uma coisa é bastante concreta - afirmou Will Steffen, diretor-executivo do "Australian National Climate Change Institute" à Reuters. - A mudança climática está causando o aquecimento das águas da superfície, o que, por sua vez, aumenta a energia deste tipo de tempestade.
Ontem, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou que a média mundial de temperatura entre janeiro e setembro deste ano foi meio ponto superior à registrada entre 1961 e 1990, o que faz de 2013 o ano mais quente da História. Além do aquecimento das águas, o aumento do nível do mar também é outro potencializador do tufões, dizem os especialistas. O relatório da OMM apontou que o nível dos mares e oceanos aumenta em média 3,2 milímetros por ano desde 1993.
- Não podemos afirmar que um fenômeno específico está ligado ou não às mudanças climáticas, pois eles naturalmente sempre aconteceram - diz André Ferretti, coordenador de estratégias de conservação da Fundação Grupo Boticário e também do Observatório do Clima, que acompanha as negociações na Polônia. - Mas já é possível dizer que eles estão mais fortes e frequentes por causa das alterações do clima. Infelizmente isso não deve pressionar os governos para um acordo na COP-19.

Opinião
INCENTIVO
A PASSAGEM do supertufão Hayan pelas Filipinas serve de trágica ilustração para a 19ª conferência de clima (COP-19), em curso na Polônia.
DEVERIA SERVIR de incentivo a que a comunidade mundial, enfim, comece a colocar em prática todas as promessas feitas de combate ao aquecimento global.

O Globo, 13/11/2013, Ciência, p. 33

http://oglobo.globo.com/ciencia/mudancas-climaticas-impulsionam-tragedi…

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