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Desastres anunciados

FSP, Tendências/Debates, p. A3
Autor: AZEVEDO, José Carlos de Almeida
25 de Nov de 2008

Desastres anunciados
Agora os videntes vieram com o "princípio da precaução", que manda fazer o que o IPCC quer mesmo sem provas do que ele diz

José Carlos de Almeida Azevedo

"Se não anunciar desastres, ninguém dará atenção"
(J. Houghton, segundo presidente do IPCC, 1994)

PARA CRITICAR o que escrevi nesta Folha ("Qual temperatura?",13/10), Luiz Pinguelli Rosa publicou no mesmo espaço, em 11/11, o artigo "Mudança do clima, Estado e Prêmio Nobel". Ele atribuiu a K. Popper a frase "Qualquer teoria é refutável, caso contrário, ela não é científica" e acrescentou: "mas o artigo de Azevedo cita o presidente da República Tcheca, que não tem base para refutar o aquecimento da Terra". A sua frase não tem sentido e Popper jamais faria essa afirmação.
Continua Rosa: "O presidente tcheco, (...) convertido ao capitalismo, ataca os ambientalistas em nome do mercado livre" e "Krugman ataca essa ideologia". Qual ideologia: a do capitalismo ou a do ambientalismo?
Ele afirma que relacionei o ambientalismo ao Estado nazista, mas eu disse apenas que tal movimento nasceu com E. Haeckel, que foi nazista. E concordo com o climatologista R. Lindzen, do MIT: para ele, muitos ambientalistas agem como membros da juventude hitlerista.
Disse Rosa: "Azevedo considera o IPCC menos autorizado cientificamente que um grupo dissidente nos EUA". É óbvio que é menos autorizado. Há milhares de cientistas que discordam do IPCC, entre eles os da petição liderada por F. Seitz, das declarações de Leipzig, Manhattan etc.; são uns 40 mil cientistas. Dissidentes são as pitonisas do aquecimento: dentre os 2.500 "cientistas" do IPCC, 51 compareceram à reunião para redigir o "Summary for Policy Makers", e só sete eram revisores.
Ele criticou o exemplo que tomei do artigo de C. Essex e outros sobre a impossibilidade de falar em "temperatura da Terra" e em "telefone médio". Mas Rosa diz ser possível somar números de telefones do Leblon e do Engenho de Dentro (?) e que "Nesse caso, sim, temos uma média". Todos sabem que quantidades extensivas são adicionáveis -como números-, mas que as intensivas não são: duas pessoas com temperaturas diferentes não estão em uma temperatura média; a soma de duas forças iguais pode ser zero, o dobro de uma delas ou um número intermediário. O que é telefone médio?
Afirma ele que "O artigo diz que efeitos naturais explicam o aquecimento global, mas afirma que não há como computar nem como medir a temperatura média da Terra. Ora, o que explicam, se nada pode ser previsto?". Rosa distorceu o que eu disse, não sabe a resposta, mas não me cabe lhe ensinar; estude as centenas de artigos, revistas e livros científicos e aprenda o que fazem o Cern e seu consórcio com mais de 40 universidades: eles ampliam as comprovações de Svensmark, Shaviv e outros sobre o efeito da radiação cósmica nas nuvens baixas e no clima, em qualquer escala.
Rosa pontifica: "A base da teoria do efeito estufa vem de Fourier, em 1824, e Arrhenius, em 1895" -os seus sábios são da pré-história.
Outros videntes do IPCC já deixaram de falar nesse efeito, pois aprenderam que o nome é impróprio: nele, não há convecção, mas na atmosfera há; mudaram para aquecimento global, outro erro; passaram para mudanças climáticas, um contra-senso, pois o clima só faz mudar. Agora vieram com o "princípio da precaução", que manda fazer o que o IPCC quer mesmo sem provas do que ele diz.
Bem antes do estudo "Celestial Climate Driver: a Perspective from Four Billion Years of the Carbon Cycle" ("Geoscience Canada", vol. 32, 1, 2005), de J. Veizer, e das prospecções em Vostok, até os maoris da Nova Zelândia sabiam que a temperatura aumenta séculos antes do CO2: é a temperatura que induz a variação da quantidade desse gás na atmosfera, e não o oposto. Rosa não sabe ainda.
Para alarmar ingênuos, veio ao Brasil o barão Stern of Brentford, responsável pelo "Stern Report", um bolodório encomendado pelo governo inglês, publicado em 2004 e que diz o que convém a muitos -inibir o crescimento dos países pobres e em desenvolvimento-, mas que perdeu toda a credibilidade após ter sido dissecado por cinco especialistas em clima e dez economistas ("The Stern Review, a Dual Critique", "World Economics", vol. 7, 4, 2006; 165 a 232).
Creio que esse barão e Rosa estudam com o príncipe Charles, da Inglaterra; para ele, o aquecimento global é a causa do mal da vaca louca.
As sondas e os satélites atmosféricos provam que, nos últimos 13 anos, a temperatura permaneceu constante nos dez primeiros e diminuiu nos três últimos. O novo ciclo de manchas solares está atrasado e, se elas não aparecerem, será porque a Terra iniciou um novo período muito frio; o último foi o de Maunder, de 1645 a 1715.

José Carlos de Almeida Azevedo, 76, é doutor em física pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA). Foi reitor da UnB (Universidade de Brasília).

FSP, 25/11/2008, Tendências/Debates, p. A3

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