VOLTAR

Degradacao amplia fome e pobreza

OESP, Vida, p.A23
31 de Mar de 2005

Degradação amplia fome e pobreza
Relatório diz que mundo não atingirá metas da ONU se não mudar rapidamente o modo como trata a natureza
Lisandra Paraguassú
A degradação ambiental prejudica a saúde dos homens,,aumenta a pobreza, dificulta o acesso aos alimentos e a água potável. Os efeitos críticos são maiores justamente para as populações mais pobres, vulneráveis a variações climáticas e problemas na produção de alimentos. O relatório da Avaliação Ecossistêmica do Milênio, encomendado pelas Nações Unidas e apresentado ontem, traça um quadro negro para a situação mundial e decreta: o mundo não vai atingir as metas do milênio - um conjunto de objetivos para redução da pobreza nos próximos dez anos, traçado pela ONU e pelos governos - se não mudar, e rápido, a maneira com que trata a natureza.
Apesar de reconhecer que alterações significativas feitas no ambiente foram essenciais para aumentar a oferta de alimentos e água no mundo, o relatório aponta que as desigualdades de acesso ainda são enormes e justamente as populações mais pobres
são as que têm maiores dificuldades de ter um desenvolvimento sustentável e preservar a natureza para garantir o acesso a água limpa e alimentos. Hoje, 10% das doenças que matam no mundo têm relação com a desnutrição.
"Muitas dessas regiões incluem grandes áreas de terras secas, nas quais uma combinação de população em crescimento e degradação do solo está aumentando a vulnerabilidade das pessoas tanto em relação às mudanças econômicas quanto ambientais", diz o relatório.
A mortalidade infantil é um exemplo dessa vulnerabilidade. A média mundial em áreas de clima semi-árido, como o sertão brasileiro, é de 72,4 por mil nascidos vivos. Nas regiões áridas, de 74,2 por mil. Ao mesmo tempo, em áreas cultivadas cai para 46,2 por mil. "A degradação continuada dos ecossistemas significa uma barreira ao alcance das metas do milênio", disse Carlos Corvalan, da Organização Mundial de Saúde (OMS), um dos responsáveis pelo estudo Ecossistemas e Saúde, parte da avaliação.
Críticas aos ricos
A avaliação condena especialmente os países mais ricos e os subsídios e financiamentos dados a indústrias e agricultura como fonte de degradação e de pobreza nas regiões mais pobres. Ao incentivar a produção nas regiões mais ricas, esses países inibiriam uma produção sustentável em regiões mais pobres. "O `salário' de uma vaca na Europa é muito maior do que o salário mínimo brasileiro. O subsídio para a carne e o leite europeus causa desemprego aqui e pode levar à degradação ambiental", disse Fernando Almeida, presidente executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e uma das pessoas que participaram da avaliação.
Outro exemplo dado por Almeida é o fato de a indústria de barcos européia ser subsidiada e construir embarcações para a indústria pesqueira que vai atuar na costa da África. "Competem com a pesca artesanal daquelas populações e retiram alimento de países da região que já é a mais miserável do mundo", afirmou.
Mal alimentadas, sem acesso a água potável, com dificuldade para tratar lixo e dejetos, as populações mais pobres tendem ainda a sofrer mais com doenças muitas vezes causadas justamente pelo mau trato dado aos ecossistemas. Quase 2 milhões de pessoas morrem por ano por males causados por falta de água potável, tratamento inadequado de dejetos e falta de higiene, num ciclo vicioso de pobreza e danos na natureza que levam a mais pobreza.

OESP, 31/03/2005, p. A23

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.