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Das mãos dos artesãos direto para as boas lojas

O Globo, Razão Social, p.17
03 de Out de 2005

Das mãos dos artesãos direto para as boas lojas
Tok & Stok valoriza as produções artesanais que seguem os conceitos de responsabilidade

Por Paulo Ricardo Moreira

Há décadas, os Baniwa, um conjunto de 22 povos indígenas que vivem em aldeias às margens do Rio Içara e em comunidades no alto do Rio Negro, na Amazônia, produzem cestaria de arumã para vender por dinheiro ou trocar por bens de consumo. Desde 1999, os cestos, feitos a partir de um tipo de palmeira, não saem das prateleiras da Tok&Stok em todo país. Assim como os índios, outras comunidades tornaram-se fornecedoras da empresa, que tem valorizado a produção artesanal seguindo os conceitos de responsabilidade social e ambiental.
- Nossa meta é oferecer ao cliente produtos de qualidade e custo adequado. A parceria com as cooperativas agrega valor aos nossos conceitos, e pretendemos ampliá-la - diz a gerente de produtos da Tok & Stok, Lúcia Pinto.
Para virar fornecedor da Tok&Stok, é preciso cumprir uma série de exigências. Primeiro, uma equipe de design estuda os produtos fabricados pelas comunidades e faz um levantamento sobre a sua capacidade de produção. Elas devem produzir em escala necessária para abastecer as 25 lojas da rede e virar empresa, emitindo nota fiscal.
- Depois de ver se a comunidade está estruturada, um comitê analisa a qualidade e o custo do produto-conta Lúcia. - Em geral, somos procurados pelo Sebrae, que organiza as cooperativas, monta o projeto e faz o acompanhamento até a comunidade tornar-se auto-sustentável e passar a negociar diretamente com a empresa.
0 projeto Arte Baniwa foi oferecido à Tok&Stok pelo ISA (Instituto Socioambiental), em parceria com organizações indígenas. Coube ao instituto apenas identificar nichos de mercado para comercialização dos produtos e divulgados. A empresa compra da OIBI (Organização indígena da Bacia do Içara), que representa 16 comunidades baniwa. Com os recursos, a OIBI cobre os custos operacionais, remunera os artesãos e investe em projetos de interesse dos índios.
- Fizemos uma oficina com mestres de cestaria arumã e documentamos esse trabalho em fotos. É uma arte feita apenas pelos homens e de uso no processamento da mandioca - conta Beto Ricardo, antropólogo e coordenador do "Programa Rio Negro do ISA, que desenvolve projetos ligados aos índios desde os anos 90.
No total, a Tok & Stok mantém parceria com cerca de 20 comunidades. Entre elas, a de artesões do Rio Grande do Sul (Projeto Mão Gaúcha), que fornece produtos em cerâmica, cestaria, papelaria e tapeçaria De Minas, Projeto Ouro Preto, que visa revitalizar a pedra sabão e o artesanato em taquara, chegam vasos, luminárias e cestarias. Em Alagoas, numa iniciativa da ONG Bambuzeria Cruzeiro do Sul, moradores do município de Cajueiro fazem cabides à mão usando como matérias-primas o bambu e o bagaço da cana-de-açúcar.
- É interessante quando um produto tem apelo social - diz Lúcia Pinto. - Se ele for um sucesso de venda, a reposição ë proporcional.
Outro parceiro, o instituto ProAves desenvolveu o projeto das aves de pano e apresentou à TS. Tel.: 11 3021-2825

Quem ganha

'Os índios fazem cestaria há séculos. Esta arte estava desvalorizada. Hoje, eles ganham um dinheirinho com o qual podem comprar alguns bens de consumo. Mas não há só o benefício monetário. É a valorização de sua cultura, porque estimula os jovens a aprender a atividade. Já foram vendidas mais de duas mil dúzias de cestas. Quando começamos o projeto em 1998, tínhamos 19 artesãos. Hoje, são 230 mestres de cestaria de várias comunidades ao longo do Rio Içara. Eles recebem R$ 150 por dúzia de cestas. Nosso programa é voltado para a valorização da cultura indígena e o desenvolvimento ambiental.'
Beto Ricardo, Antropólogo e coordenador do "Programa Rio Negro", do ISA (Instituto SocioAmbiental)

O Globo, 03/10/2005, Razão Social , p. 17

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