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Daniel Dantas investe agora em mineração

O Globo, Economia, p. 26
26 de Jul de 2009

Daniel Dantas investe agora em mineração
GME4 é o único negócio do grupo Opportunity que ainda não está sendo investigado pela Polícia Federal

Liana Melo

Declarado réu nas investigações da Operação Satiagraha na última terça-feira, depois de já ter suas fazendas confiscadas, o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, finca pé num novo negócio. Dantas agora está de olho no subsolo brasileiro. O banqueiro quer virar minerador, mas não do tipo que lavra jazida. Seu projeto é transformar a sua Global Mine Exploration (GME4) no principal banco de ativos minerais da América Latina em 2010.

A empresa procura ouro, diamante, minério de ferro, zinco, alumínio, manganês, cobre, fosfato, cassiterita e níquel. São 2,1 milhões de hectares em 14 estados.

Enquanto tenta, com a ajuda de advogados, esgueirarse dos processos criminais, Dantas tem ainda uma cartada: 1.381 autorizações de pesquisa do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). É com esse ativo na manga que ele pretende atrair sócios. A GME4 entrou em operação em 2007.

- Estamos conversando com 20 grupos nacionais e estrangeiros, dos setores de siderurgia, mineração e empresas de investimentos - comentou o principal executivo da empresa, o baiano João Carlos de Castro Cavalcanti, admitindo que não está descartada a abertura de capital da GME4.

A entrada do Opportunity em mineração se deu pela Douro Participações, que é dona de 61,9% do capital da GME4.

Cavalcanti detém 22,3%. Os 15,8% restantes estão nas mãos de pequenos acionistas.

A investida de Dantas na mineração não assusta um de seus potenciais rivais, o empresário Eike Batista, da MMX.

- Não me interessa ficar sentado sobre milhões de hectares - cutucou Eike. - Tamanho não é documento.

Dantas não fala sobre este negócio, mas é sabido que vem apostando, nos últimos anos, em mineração e agropecuária. O interesse surgiu depois que ele deixou o setor de telefonia, após uma ruidosa disputa com os fundos de pensão. A mineração é, por enquanto, o único negócio do grupo Opportunity que não está no alvo da Polícia Federal.

O juiz Fausto De Sanctis, da 6aVara Criminal Federal de São Paulo, declarou-o réu nas investigações da Satiagraha, que apura desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro. E mandou bloquear as 27 fazendas da Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, alegando que os negócios com boi eram para lavar dinheiro.

Na sexta-feira, o juiz Marcio Millani, da 6aVara Federal Criminal Especializada em Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, suspendeu o sequestro de 450 cabeças de gado das 27 fazendas, que, no entanto, continuam bloqueadas.

Custo mensal das fazendas é de R$ 16 milhões Se a decisão fosse mantida, a empresa não teria dinheiro, no fim do mês, para "honrar seus compromissos", justificou a advogada das fazendas de Dantas, Dora Cavalcanti. Em pagamento de salários e de tributos, o custo mensal é de R$ 16 milhões.

Segundo um consultor de agropecuária, as fazendas iriam à falência em um mês caso a gado ficasse sequestrado.

Mas quatro fazendas do grupo no Pará - Maria Bonita, Espírito Santo, Cedro e Castanhais - receberam, em abril, três tipos de autuações do Ibama, por funcionar sem licença, explorar área de vegetação nativa e impedir a regeneração dessa vegetação.

As multas somam R$ 88,5 milhões. A empresa foi notificada a tirar o gado de áreas embargadas (17 mil hectares) e terá de fazer isso até agosto.

O fato de Dantas estar na mira da Justiça não é, para o diretor do DNPM, João César de Freitas, empecilho para ele requerer áreas de pesquisa: - Qualquer brasileiro tem direito de entrar com um pedido no órgão.

Dos 20 projetos da GME4, cinco são prioritários e estão em estágio avançado: minério de ferro no Piauí, na Bahia e em Minas Gerais, além de pesquisa com níquel em Goiás e fosfato no Mato Grosso do Sul.

O Globo, 26/07/2009, Economia, p. 26

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