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Dados de desmate, só após reunião com Lula

OESP, Vida, p. A30
05 de Jul de 2008

Dados de desmate, só após reunião com Lula
Números de maio, gerados pelo Inpe, estão atrasados

Cristina Amorim e Felipe Werneck

Os dados de maio do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), gerados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), serão divulgados ao público apenas depois de sua exposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o instituto, a demanda partiu do Planalto.

A divulgação está atrasada, uma vez que normalmente a informação fica disponível no site do Deter (www.obt.inpe.br/deter) cerca de 15 dias depois do fim do mês. Dessa forma, os números de maio sairão somente quando os de junho deveriam ser colocados no ar. O Inpe não confirma se dados dos dois meses passados podem ser divulgados em conjunto.

Maio é um mês de tradicional alta em relação aos primeiros meses do ano na dinâmica do desmatamento da Amazônia, pois marca o início do período de seca, quando o corte é mais fácil.

Um sistema independente de observação do desmate, gerido pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), indicou um aumento de 88,5% no desmatamento de maio em comparação com abril. Ainda assim, ele foi 26% menor ante maio de 2007.

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, admitiu ontem, no Rio, que a chefia da Casa Civil "pediu para segurar" a divulgação dos números do Inpe. "Sou favorável à transparência total e absoluta. Espero que sejam divulgados na próxima semana, até porque não há razão para isso, e pode gerar uma apreensão na imprensa, justificada", disse Minc, que pretende reunir-se na terça-feira com a ministra-chefe Dilma Rousseff para discutir o "plano de divulgação". "Todo mês é divulgado, e um mês não é, o que você vai imaginar? Que o dado é ruim, o que por acaso não é", declarou. Ele disse que viu os dados do Deter "que não são ruins, não há aumento em relação ao mês passado nem (em relação) ao mesmo mês do outro ano (2007)", mas não está autorizado a divulgá-los.

A divulgação dos dados de maio, que apresentaram aumento, também sofreu atraso. Na ocasião, ao comentar números ainda parciais, Minc criticou o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), aliado do governo, citado como um dos responsáveis pela alta da devastação.

Ontem, durante a inauguração do Museu do Meio Ambiente, no Jardim Botânico do Rio, o ministro disse não ter entendido a razão pela qual a Casa Civil teria tomado a decisão. Negou, porém, a hipótese de censura. "Não há essa possibilidade", declarou. Segundo ele, a Casa Civil está "querendo entender as informações daqui e dali". "A iniciativa não foi minha. A explicação que me deram foi a de que, como tinha informações diferentes sobre o mesmo assunto, o objetivo seria uniformizar e compatibilizar esses dados com os de outros órgãos como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)", disse o ministro. "Acho razoável, desde que não haja descontinuidade desses dados, porque poderia eventualmente gerar um efeito negativo."

No fim do mês, Minc afirmou que a taxa de desmatamento de 2008 será maior do que a de 2007 - ele estima entre 14 mil e 15 mil km2, especialmente graças à alta das cotações das commodities gado e soja. Em 2007, o índice foi de 11 mil km2.

OESP, 05/07/2008, Vida, p. A30

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