VOLTAR

Da teoria para a pratica

CB, Brasil, p.9
24 de Jan de 2005

Da teoria para a prática
Universitários chegam aos municípios amazonenses selecionados para o programa, onde vão diagnosticar problemas e sugerir soluções
Sandro Lima
Enviado especial
Tabatinga (AM) — Os estudantes universitários do Projeto Rondon começaram a conhecer de perto a dura realidade amazônica. Após alguns dias de adaptação, treinamento e palestras em Manaus, as 40 equipes estão se deslocando para as 11 cidades e dois distritos selecionados pelo Comando do Exército. Nestas localidades, os estudantes terão uma semana para diagnosticar os principais problemas e propor soluções. As sugestões e projetos para melhorar a vida das comunidades ribeirinhas estarão em relatórios que serão entregues ao governo federal em fevereiro.
No último fim-de-semana, três equipes — PUC do Rio Grande do Sul e as Universidades Federais de Manaus e Mato Grosso — já começaram os trabalhos em Benjamin Constant, cidade de 27 mil habitantes que fica a 30 minutos de barco de Tabatinga. Os estudantes participaram de reuniões na prefeitura para receber informações sobre o município e traçar uma estratégia de ação. Antes mesmo de ir a campo, eles já puderam perceber, pelo relato dos funcionários da prefeitura, os graves problemas que a comunidade local enfrenta.
Um dos principais problemas de Benjamin Constant é a baixa qualidade da água e as péssimas condições de higiene. O resultado é a proliferação de doenças e o alto de número de crianças que sofrem de diarréia. A prefeitura não dispõe de estatísticas, mas segundo seus funcionários, a mortalidade infantil é alta no município. Outro grave problema que afeta a cidade é o lixo, que se acumula no perímetro urbano e não tem tratamento.O Rondon vem para fazer o diagnóstico das nossas necessidades. Precisamos muito disso”, afirmou a prefeito de Benjamin Constant, José Maria da Silva Junior (PP). Tanto o prefeito quanto a população estão animados com a chegada dos rondonistas. Eles têm a esperança de que os projetos a serem apresentados pelos estudantes, sugerindo ações para melhorar a vida dos ribeirinhos, sejam concretizados em breve.
A dona de casa Jacqueline de Araújo, 26, é uma das moradoras que aguarda a ajuda dos rondonistas. Jacqueline é a síntese da população de Benjamin Constant. Vive em uma pequena casa de madeira muito simples e sem esgoto tratado. A renda, inferior a um salário mínimo, não é suficiente para uma dieta adequada. O filho mais novo, Samuel, de cinco meses, já teve diarréia. O mesmo ocorreu com sua outra filha, Adriana, 6 anos. Jacqueline ainda não conhece os projeto, mas disse que se os estudantes de outra região vêm para ajudar a gente acho que vai ser bom. Tomara que eles ajudem a melhorar nossa vida”.
Falta de médicos
A falta de médicos aflige Benjamin Constant. De acordo com o prefeito, mesmo com o salário de R$ 6 mil pago pela prefeitura, mais uma complementação de quase R$ 5 mil feita pelo governo do Estado, há apenas um médico na cidade. Os médicos não querem vir para cá porque aqui não tem shopping”, reclama o prefeito. Se não fosse pela presença de médicos estrangeiros, o funcionamento do pequeno hospital do município estaria inviabilizado. Há na cidade dois médicos peruanos, dois colombianos e um cubano. Como eles não têm registro, fazem o atendimento e os laudos são assinados pelo médico brasileiro.
Uma das esperanças do prefeito é que os rondonistas reativem o campus avançado que havia na cidade nos anos 70, e que assim mais profissionais de saúde possam ir a Benjamin Constant prestar atendimento à população. Os primeiros rondonistas chegaram à cidade em 1972. Dois anos depois, foi inaugurado um campus avançado da PUC-RS. Com o fim do projeto, nos anos 80, o campus foi desativado.
Além da reativação do campus, o prefeito pedirá ajuda aos alunos que auxiliem a prefeitura a fazer um plano diretor. Estamos crescendo de maneira desordenada e um plano diretor será importante”, afirmou. Quando tinha 9 anos, vi a implementação do projeto pela primeira vez na cidade. Ver os alunos voltando vinte anos depois é emocionante”, conta o prefeito. Seguindo o general Gilberto Arantes, coordenador do Projeto Rondon, todas as equipes já estão trabalhando e não ocorreu nenhum problema grave. Alguns estudantes tiveram problemas com a alimentação e com o calor, mas eles já estão melhor. Tudo está correndo bem e assim será até o final da primeira etapa”, afirmou. Em fevereiro, o general Arantes irá ao Palácio do Planalto levar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva os relatórios dos alunos e tratar da segunda etapa do projeto.
A equipe viajou a convite do Ministério da Defesa

CB, 24/01/2005, p. 9

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.