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Cúpula do clima chega ao fim sem acordos

O Globo, Ciência e Vida, p. 45
18 de Dez de 2004

Cúpula do clima chega ao fim sem acordos

Países ricos e em desenvolvimento não se entendem e esperam a entrada em vigor do Protocolo de Kioto
Após duas semanas de debates, acabou ontem com mais promessas do que compromissos a 10ª Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP-10. Segundo admitiu a secretária-executiva do evento, Joke Waller-Hunter, "a principal função da convenção foi fortalecer a nova fase criada pela ratificação do Protocolo de Kioto", que entra em vigor em 16 de fevereiro de 2005.
Apesar do otimismo da secretária-executiva, as negociações refletiram as divergências entre países industrializados e em desenvolvimento. Até a noite de ontem, os 189 países participantes sequer haviam decidido onde será realizada a próxima convenção. Uma das propostas mais polêmicas foi a de realizar, a partir de 2005, seminários para discutir o que será feito após 2012 para reduzir as emissões de gases-estufa.
Os Estados Unidos, que respondem por cerca de 40% das emissões de CO2 mas se recusam a ratificar Kioto, não admitiram, sequer, falar sobre o cenário pós-protocolo. Já os países da União Européia (UE), insistiram, em vão, na necessidade de iniciar a negociação de um novo protocolo.
A UE quer que países em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia, assumam compromissos para reduzir suas emissões depois de 2012. A pressão exercida pelos europeus foi enfrentada com firmeza pelos governos do G-77. A posição do Brasil é que esses países não podem ser responsabilizados por problemas causados pelos ricos há cem anos.

Corpo a Corpo
Enele Sopoaga
'Somos vítimas do aquecimento global'
Tuvalu é um pequeno país formado por nove ilhas, localizado no sul do Oceano Pacífico. A elevação do nível do mar já contaminou a água potável do país e ameaça apagá-lo do mapa. Sua parte mais alta está a apenas cinco metros do nível do mar. Segundo o representante de Tuvalu na ONU, Enele Sopoaga, duas mil famílias já deixaram as ilhas.
O que o senhor sente ao negociar com os EUA, que são os maiores poluidores, mas não aceitam reduzir suas emissões?
Enele Sopoaga: Sinto-me decepcionado. Somos vítimas do aquecimento global. Temos provas contundentes do impacto das mudanças climáticas em pequenos países em desenvolvimento, como Tuvalu. E, apesar disso, não existe um compromisso político forte para enfrentar este problema.
A decepção predomina?
Sopoaga: Decepção e medo, porque o aquecimento global ameaça a segurança de nossos povos. A vida dos habitantes de pequenas ilhas corre sério perigo. Espero que os países desenvolvidos consigam entender isso.
O que o senhor diria a Bush?
Sopoaga: Por favor, seja homem! Temos de negociar juntos. As mudanças climáticas representam um problema muito mais grave do que o terrorismo, porque afetam todo o planeta. (Janaína Figueiredo)

O Globo, 18/12/2004, Ciência e Vida, p. 45

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