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A cultura está sendo resgatada aos poucos

A Gazeta - Cuiabá - MT
16 de Abr de 2001

O local onde hoje é a reserva umutina, uma área de 24 mil hectares, também serviu, nas décadas de 30 e 40, para o funcionamento de um escola para índios, que ensinava apenas a cultura branca. Foi assim que, aos poucos, os índios foram esquecendo de seu primeiro idioma, desaprendendo seu artesanato entre outras formas culturais. Muitas outras etnias foram levadas para lá, estima-se que mais de oito diferentes, como os bakairi e os terena, entre outros, que se misturaram aos umutina. Hoje, a mesma escola ainda funciona e, embora preserve nome do passado, Otaviano Calmon, que era chefe de curso daquele tempo, tem um propósito bem diferente: promover o resgate cultural dos umutina. Dentro desse ideal, três passos de uma dança antiga já foram resgatados. Do artesanato, os mais jovens estão aprendendo a fazer peças em madeira, em folhas de palmeira e argila. "O artesanato passou 25 anos em total silêncio", conta a professora Maria Alice de Souza Cupudunepá. Ela diz, orgulhosa, que todos os índios da aldeia são alfabetizados, mas segundo uma cartilha índia. "Procuramos inserir elementos que pertencem à nossa cultura", comenta ela. Ao completarem a quarta série, os índios saem para estudar em escolas públicas de Barra dos Bugres. "Antes, eles tinham vergonha de estudar junto a outros alunos, mas hoje não existe mais isso. Principalmente em função do trabalho desenvolvido em prol da integração das duas culturas, o que gerou a aceitação dos alunos da cidade com relação aos alunos índios", explica a professora. Outras conquistas dos umutina estão relacionadas às condições de saúde da aldeia. Desde 1992, todas as pessoas da tribo tem acesso à água tratada, por meio da construção de poços artesianos. Há três anos, eles também comemoraram as obras de saneamento básico, e as casas passaram a ser munidas de fossas assépticas. Além disso, muitos são enfermeiros, o que garante a saúde de boa parte da população. Segundo explica o cacique Jeovanil Amajunepá, apenas os casos mais graves são levados para hospitais de Barra dos Bugres. É dessa forma, portanto, que vivem os jovens da aldeia umutina, em uma luta incessante para manter viva a memória de seus antepassados. Eles ocupam uma posição no mínimo esquisita. São desamparados pelo conhecimento dos mais velhos, mas também estranhos aos olhos brancos. São meio que órfãos -- que ensaiam os primeiros passos para voltar às suas origens, por muito tempo esquecidas.

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