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Cultura do reuso se difunde no Pais

GM, Saneamento & Meio Ambiente, p.A7
10 de Mai de 2004

Cultura do reuso se difunde no País
Escassez, cobrança pelo uso e regulamentação estimulam novos empreendimentos. O reuso da água começa a ganhar força em diversas atividades que prescindem de água potável e abre um potencial mercado para empresas que oferecem tecnologias de reaproveitamento. Os problemas relacionados ao uso e disponibilidade dos recursos hídricos, compartilhados pelos países latino-americanos, e as soluções possíveis, que incluem iniciativas como o reuso da água, serão tema da terceira edição do Acquasur, encontro latino-americano sobre água e desenvolvimento sustentável, que começou ontem, em Buenos Aires, Argentina. O evento está sendo realizado pela Associação Latino-Americana da Indústria de Cloro, Álcalis e Derivados (Clorosur), com apoio de en-tidades como a Associação Interamericana de Engenharia Sanitária e Ambiental (Aidis) e Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e organismos científicos. O reuso da água como alternativa no gerenciamento dos recursos hídricos já havia sido discutido na última edição do encontro, realizado em 2000 em Fortalzeza (CE). Nesta edição, serão abordadas a experiência mexicana de recarga de aqüíferos com água de reuso e as iniciativas brasileiras, que aos poucos se disseminam entre prefeituras, indústrias e condomínios. "O México é um dos países em que se está sendo dada maior atenção à questão do reuso. A Cidade do México está literalmente afundando porque se retira mais água subterrânea do que seria recomendável, e a recarga dos aqüíferos com água de reuso é apontada como solução", afirma Horst Otterstetter, professor de saúde ambiental de Universidade de Georgetown em Washington (EUA) e presidente da Aidis. Regulamentação O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) elabora a primeira resolução brasileira para regulamentar o reuso, que deverá estar pronta em outubro. "Será a princípio uma regulação em âmbito federal e depois deverá considerar a divisão territorial por bacias hidrográficas", explica Ivanildo Hespanhol, presidente do Centro Internacional de Referência em Reuso de Água (Cirra) e professor titular da Escola Politécnica de Engenharia da Universidade de São Paulo (USP) e um dos integrantes do grupo que trabalha na elaboração da resolução. Entre as possibilidades de reuso que serão abordadas na Argentina, estão a agrícola, industrial, para usos urbanos não potáveis, aqüicultura, recarga de aqüíferos e ambiental, na recuperação de florestas. A atividade agrícola é uma das maiores consumidoras - no Brasil, 70% da água captada dos mananciais serve a fins de irrigação - o reuso pode acrescentar vantagens ambientais, como a diminuição da pressão sobre os rios; e aumento da produtividade, pois a água de reuso pode conter nutrientes e matéria orgânica. De acordo com Hespanhol, as principais com-panhias de saneamento já fazem estudos de viabilidade para vender a água proveniente de estações de tratamento de esgoto (ETEs) para produtores agrícolas. "O espírito do reuso começa a tomar corpo no Brasil. Uma vez regulamentada, a alternativa deverá expandir-se para outras atividades", afirma o professor. Em São Paulo, é crescente o número de empresas que estão atentas para as possibilidades do reuso. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) prepara em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA) um manual de reuso para as indústrias, dividido por setores produtivos, a começar do químico, petroquímico, siderurgia, celulose e papel e alimentício. "Historicamente, a indústria nunca se preocupou com a gestão da água, considerada um recurso natural barato. A mentalidade está mudando, pois hoje o uso da água está sujeito a outorga e cobrança pela captação e tratamento", afirma Hespanhol. A unidade da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo (SP) utiliza atualmente 3.300 m³/dia de água de reuso em 12 torres de resfriamento. Deste volume, 23% se perdem na evaporação. "O custo da água de reuso é pelo menos 50% menor do que o preço da água fornecida pelas companhias de saneamento", enfatiza Hespanhol. O Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, que atualmente possui dois terminais e atende 14 milhões de passageiros ao ano, deverá incorporar o reaproveitamento da água no terceiro terminal, que está em fase de projeto. A princípio, 31% da água que será usado nas atividades do terminal, como lavagem de pistas e descargas sanitárias serão reciclados. A Prefeitura de Santo André foi a primeira do ABC Paulista a comprar água de reuso da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), proveniente da estação de tratamento de esgotos do ABC (ETE-ABC), em 2002. Atualmente o consumo está em torno de 60 m³ a 90 m³/dia, mas o Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André (Semasa) já possui reservatórios com capacidade para armazenar até 110 m³. De acordo com Milton Joseph, engenheiro assistente do departamento de manutenção e operação do Semasa, a perspectiva é de aumentar a capacidade em mais 40 m³ até o final do ano. A água, retirada da ETE por caminhões-tanques, serve para fins como lavagem de veículos da frota, desobstrução de bocas-de-lobo, limpeza de galerias pluviais e redes de esgoto e regas de jardins e praças. O preço pago à Sabesp é de R$ 0,36 por m³, em média 50% menor do que a água fornecida pela rede de abastecimento. Tecnologia alemã O aproveitamento da água da chuva para uso industrial ou doméstico é um conceito ainda pouco difundido no País, mas aos poucos vai sendo incorporado por arquitetos, construtores e gestores da indústria. Com vistas a explorar esse potencial de mercado surgiu a AquaStock, empresa especializada em fornecer soluções em aproveitamento da água da chuva. "Notamos um imenso potencial de mercado, devido aos problemas de abastecimento nas regiões metropolitanas e aos custos cada vez mais altos da água", afirma Joaquim Rondon, sócio proprietário da AquaStock. A empresa entrou no mercado há dois anos, com R$ 30 mil de capital inicial. "O primeiro ano foi dedicado à pesquisa e desenvolvimento, quando percebemos que não há nada muito específico para captação da água da chuva no Brasil, ao contrário de países como a Alemanha", afirma Rondon. A estratégia da empresa é integrar equipamentos hidráulicos já disponíveis no mercado, como bombas, reservatórios, calhas e coletores e filtros especificamente desenhados para captação pluvial, fabricados pela alemã Wisy. De acordo com Rondon, os filtros convencionais existentes no mercado não são eficientes para captação da água da chuva, pois acumulam resíduos sólidos e entopem com facilidade. O modelo alemão traz uma peneira que, disposta como um anel em volta do cano, retém os sólidos e os direciona para as galerias de águas pluviais. O rendimento da captação é da ordem de 90%, e a água pode ser usada para usos externos ou internos, como em bacias sanitárias. Para isso, são necessárias adaptações na estrutura interna das tubulações. Para este ano, a empresa pretende aumentar os investimentos, com o objetivo de reforçar a estrutura de vendas, ampliar os estoques e agregar mais serviços. Além da instalação dos equipamentos, a AquaStock realiza a especificação e o dimensionamento do projeto. Um "kit" simples para residência custa de R$ 2.500 a R$ 3.000, mas os preços variam conforme as dimensões e complexidade do projeto. Entre os clientes, figuram a Cebrace, fabricante de vidros do grupo Saint Gobain e a construtora DP Engenharia. kicker: Aeroporto de Cumbica vai reciclar 31% da água, em lavagem de pistas
GM, 10/05/2004, p. A7

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