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Culto à beleza traz lucros para o Brasil

OESP, Economia, p. B34
25 de Ago de 2007

Culto à beleza traz lucros para o Brasil
País exporta quase US$ 500 milhões por ano em produtos de beleza

Andrew Downie

A devoção de longa data do Brasil à beleza corporal - seja gastando fortunas em cosméticos, emagrecendo para caber em minúsculos trajes de banho ou exibindo um corpo depilado a cera - está compensando.

As exportações de produtos de beleza do país vêm aumentando rapidamente nos últimos anos. Em 2006, as empresas brasileiras exportaram US$ 484 milhões em cosméticos, artigos de higiene pessoal e fragrâncias, disse João Basilio da Silva, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abhpec). Isso representou um aumento de 152% em relação a 2001.

Num mercado varejista ávido pela palavra "natural", o abundante suprimento de óleos naturais, frutas e extratos de plantas do país tem desempenhado um papel essencial, também, no aumento das vendas.

A Amazônia brasileira tem cerca de 13 mil espécies de plantas, segundo a agência de pesquisa agrícola Embrapa. Somente uma minúscula fração dessas plantas foram analisadas totalmente e atualmente menos de 1% fornece ingredientes ativos para cosméticos.

Durante anos, os povos indígenas da Amazônia têm exaltado as frutas pelas suas qualidades especiais. O fruto do guaraná, por exemplo, é conhecido como estimulante. O cupuaçu é uma fonte de óleo saudada pelas suas qualidades emolientes. O açaí, outra fruta, tem alto teor de antioxidantes e é rica em energia. E o maracujá é usado no Brasil todo para acalmar os nervos. Todos estão sendo usados para fazer cosméticos.

Os produtores brasileiros acreditam que a "brasilidade" desses ingredientes é um fator importante para a elevação das vendas. Executivos da indústria no Brasil dizem que os produtos do país são vistos de alguma forma como mais puros do que de outros produtos de outras partes do mundo.

"Se você pegar uma rosa da Amazônia e uma rosa do interior da França, a brasileira será menos poluída", disse Eduardo Rauen, diretor comercial da Amazônia Natural, uma empresa que espera que suas exportações cresçam de 35% a 50% este ano. "A Amazônia é mais natural e este é um argumento de venda. " Os executivos dizem que a imagem dos brasileiros como um povo saudável e atraente tem ajudado as vendas.

"Aqui, no Brasil, associamos a beleza à sensualidade, aroma", disse Arthur Grynbaum, vice-presidente executivo do Boticário, a maior operação de franquia de produtos de beleza do mundo, cujas vendas no exterior estão aumentando a uma média de 20% ao ano.

MISCIGENAÇÃO

Um outro fator igualmente importante é a rica história de miscigenação racial do Brasil. A mistura de sangue europeu, indígena, africano e japonês criou uma nação onde podemos encontrar todos os tons de pele, tipos de cabelo e formatos de corpo concebíveis. Os fabricantes de produtos de beleza precisam atender atodos, o que significa que, independentemente de qual seja o alvo no exterior, eles têm um produto adequado.

O óleo de murumuru "é um hidratante poderoso e serve para pessoas com cabelo encaracolado, vivam eles no Brasil, na China ou nos Estados Unidos", disse Alessandro Carlucci, diretor-presidente da Natura, a maior empresa de vendas diretas do Brasil, com 23% do mercado doméstico.

"A China tem poucas pessoas com cabelo encaracolado, portanto o murumuru não venderá bem lá", disse Carlucci. "Mas graças à diversidade de nossos ingredientes ativos, podemos oferecer benefícios a diferentes países e etnias."

O principal destino para os produtos de beleza brasileiros ainda é a América do Sul, que absorve 61% das exportações. Com um mercado doméstico de 188 milhões de pessoas, economias de escala permitem ao Brasil produzir a custo mais baixos que seus vizinhos. Isso levou algumas empresas a fecharem suas operações em países como Chile, Uruguai e Bolívia e transferirem sua produção para o Brasil. E, no governo do presidente Lula, o Brasil expandiu seus horizontes de exportação. Rússia, Cuba e Angola surgiram como importantes clientes.

Este esforço tem sido ajudado pela Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), um órgão governamental que, desde 2003, vem se dedicando a criar e diversificar mercados externos para produtos brasileiros. Em conjunto com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, a Apex tem pago para dezenas de empresas brasileiras de pequeno e médio porte exporem em feiras internacionais por todo o globo.

Essa assistência permitiu que a empresária Veronika Rezzani promovesse sua linha de produtos, baseada na caipirinha. "A ajuda da Apex foi fundamental", disse Veronika. "Eles me ajudaram a pagar minha ida a minha primeira feira internacional em Bolonha." Hoje, ela negocia contratos com distribuidores da Dinamarca, Finlândia, Noruega, Portugal, Suécia e Grã-Bretanha.

OESP, 25/08/2007, Economia, p. B34

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