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Cruzeiro quer controlar exportação da farinha

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: ANDRÉA ZÍLIO
18 de Ago de 2003

Produtores buscam melhorar qualidade do produto para ganhar mais espaço fora do Estado

A farinha produzida em Cruzeiro do Sul abastece, além de Rio Branco, cidades dos Estados de Rondônia, Amazonas e Mato Grosso. Mas não existe um controle de exportação porque, além da cooperativa, que reúne 13 associações, o produto passa pelas mãos de atravessadores. Este ano, o Sebrae, junto com o Senai e o governo do Estado, está investindo R$ 500 mil para melhorar a qualidade de higiene na fabricação da farinha, que é feita de forma manual. A prefeitura está em processo de construção de 100 casas de farinha, como primeiro passo para essa organização.

Com intuito de organizar o setor, a prefeitura firmou convênio com o Programa federal de Agricultura Familiar (Pronaf) e repassou material às comunidades, para construírem as casas. O convênio foi firmado no valor de R$ 363 mil. O programa que está sendo implantado na cidade desde 1999, engloba 23 comunidades. Cada casa de farinha irá funcionar com cinco famílias.

O secretário municipal de Agricultura, Souza Neto, diz que "a higiene tem de ser conquistada, para que futuramente seja criado um selo de qualidade para exportar o produto".

O Governo do Estado também construiu algumas dessas casas e entrou junto com o Sebrae na luta pela melhoria do produto. O Sebrae iniciou o projeto Farinha 10, em junho, aonde uma equipe de produtores e técnicos, estiveram no Paraná, um dos grandes produtores de farinha, para ver como trabalham. Constataram que mesmo com toda estrutura e maquinário, o sabor da farinha feita em Cruzeiro do Sul sai na frente.

Para que o setor cresça de forma organizada no Estado, é preciso que se chegue a essa qualidade de fabricação, para adquirir respaldo e ganhar espaço na exportação. Laiz Mappes, responsável pelo Sebrae em Cruzeiro, conta que para este ano o projeto disponibilizará um recurso de R$ 500 mil, sendo R$ 250 mil viabilizado pelo Sebrae e outros R$ 250 pelo Governo do Estado e Senai. "Só dá para trabalharmos no verão, devido à difícil locomoção aos lugares", diz Laiz.

QUALIDADE - O projeto Farinha 10 irá priorizar os produtores que trabalham em associações, nas casas de farinha do Estado e do município. Estão sendo dados cursos onde os consultores se deslocarão às casas de farinha para ver o processo e melhorar e ajustar a qualidade.

Na parte teórica, os agricultores serão deslocados até o Sebrae para receberem as aulas. "Precisamos ensinar apenas como se organizarem e a higiene com que terão de trabalhar. Pois em matéria de fazer farinha, eles são campeões", comenta Laiz.

Cada associação possui de 30 a 40 produtores. Ao total são 152 espalhadas no município. Laiz diz que se chegarem a sensibilizar ao menos 50% já é um grande progresso.

Cooperativa exporta 70 toneladas por mês

O único controle é feito da saída do produto é feito por meio da Cooperativa das Associações dos Seringueiros e Agricultores do Vale do Juruá (Casavaj), que agrega apenas 13 associações, com um total de 1. 200 pessoas. Hoje, a Casavaj apresenta o produto de qualidade em embalagens simples e sofisticadas, ao mercado de Manaus, Rio Branco, Porto Velho e Cuiabá.

O tesoureiro Roberto Carlos Lima, 30, conta que a cooperativa exige associações organizadas e com qualidade na produção. Só assim consegue desenvolver um bom trabalho, que obedece inclusive o critério de higiene.

A Casavaj exporta em torno de 60 toneladas de farinha em embalagens simples, o produto sai de R$ 0,95 a R$ 1,05 por mês.

Já com as embalagens sofisticadas, em latas e caixas, ao custo de R$ 2,90 a R$ 6,80, a cooperativa vende cerca de 1.500 quilos do produto.

As associações que compõe a Casavaj são de diversas localidades, entre elas a de Santa Bárbara e Belnorte, no quilômetro 307, e Nova Esperança, no ramal 2 da BR-364. Cada associado consegue ganhar por saca vendida R$ 28, R$ 3 a mais que os atravessadores. Além da farinha, a cooperativa exporta borracha, óleo de copaíba e mel de abelha. Mas Roberto fala que o potencial mesmo é a farinha.

Produtores não vendem aos atravessadores

O colono João Ferreira, 50, morador da colônia Moirapiranga, não aceita vender seu produto aos atravessadores. A qualidade de seu produto lhe permite decidir a quem vender. Conhecido pelos consumidores de Cruzeiro do Sul, ele vende a retalho. A lata, que tem 13 kg, custa R$ 15 reais. Uma saca de farinha, sairia a R$ 60, preço que os chamados marreteiros não pagariam. "Faço no quintal de casa, com meus sete filhos e minha mulher, nas quintas e sextas. No sábado, venho vender na cidade. O caminhão que traz a gente cobra 3 reais de passagem e 1,50 por saca de farinha. A casa de farinha fica longe de casa e não tenho transporte para participar. Seria bom uma associação bem organizada", conta.

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