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A crise da água

JT, Editoriais, p. A3
05 de Fev de 2004

A crise da água

A estiagem e a resistência do governo do Estado em adotar o racionamento - o que pode ter agravado a situação - colocaram na ordem do dia o sério problema do abastecimento de água na Grande São Paulo. Apesar das advertências que há meses vários técnicos respeitados vêm fazendo sobre a necessidade de adotar logo o racionamento, só agora o secretário de Energia e Recursos Hídricos, Mauro Arce, chegou à conclusão de que "não dá mais para ficar esperando".
Os temporais que nos últimos dias provocaram inundações na capital se concentraram em alguns pontos da região metropolitana, não atingindo as cabeceiras dos rios responsáveis por seu sistema de abastecimento, especialmente o Cantareira. O nível deste subiu apenas 0,2 ponto porcentual, passando de 5,3% para 5,5%. Portanto, o racionamento, cujo adiamento muitos atribuem a razões políticas, não pode mais ser adiado.
Mas ele só vai evitar o pior, no curtíssimo prazo. Daí a importância de o governo implementar o quanto antes o Plano Diretor de Abastecimento de Água da Região Metropolitana de São Paulo. Numa primeira etapa, como mostrou Arce em declarações ao jornal Valor Econômico, devem ser executadas obras de menor envergadura destinadas a garantir o fornecimento de mais 15 metros cúbicos por segundo até 2015 e evitar o colapso do sistema. Entre elas estão a construção de duas represas - Biritiba e Paraitinga - e a ampliação da Represa de Taiçupeba no Alto Tietê.
O que vai mesmo garantir o abastecimento até 2025, quando a população da região metropolitana deve chegar a 22 milhões de habitantes, contudo, são obras de grande vulto, destinadas a captar água em bacias distantes. Até agora, a melhor opção em estudo parece ser uma adutora de 280 quilômetros para trazer 10 m3/s de água do médio Tietê, na altura de Barra Bonita, a um custo de R$ 1,8 bilhão. A outra é trazer 30 m3/s do baixo Juquiá, na Bacia Ribeira do Iguape, no sul do Estado, obra calculada em R$ 1,5 bilhão. Embora neste caso a água seja de melhor qualidade, seu custo pode tornar inviável essa opção. É que o custo com energia para trazer a água para a capital, situada a cerca de 800 metros acima do nível do mar, é de R$ 35,1 milhões por ano no caso do médio Tietê e de R$ 131,7 milhões no do baixo Juquiá.
Embora se trate de uma obra cara, é preciso começar a executá-la o mais rapidamente possível, pois ela é também demorada e o constante agravamento da situação do abastecimento na Grande São Paulo não permite delongas.

JT, 05/02/2004, Editoriais, p. A3

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