VOLTAR

Crime pode ter tido mais um mandante

O Globo, O Pais, p.12
24 de Fev de 2005

Crime pode ter tido mais de um mandante

ALTAMIRA (PA). As investigações da Polícia Federal sobre a morte da missionária apontam para a possibilidade de haver mais de um mandante do assassinato. Até agora, o único fazendeiro apontado como o autor intelectual do crime é Bida. Mas a PF acredita que madeireiros e grileiros de terra podem ter criado uma espécie de consórcio para cometer o crime.

— Trabalhamos com várias hipóteses e esta é uma delas — disse o delegado Walame Fialho Machado, que preside o inquérito da Polícia Federal.

Pelo menos dois grandes proprietários de terra estão sob investigação. Ambos chegaram a ser presos no escândalo da Sudam. Um é alvo de 40 dos 80 inquéritos abertos na PF para apurar desvios de recursos, obtidos em financiamentos milionários.

Na lista de outros possíveis mandantes constam nomes de pessoas que, durante os últimos anos, aparecem em documentos e cartas enviadas pela própria irmã Dorothy, pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e por entidades ligadas à luta pelos direitos humanos para autoridades estaduais e federais.

Bida pode estar em Goiás ou Mato Grosso

A Polícia Federal acredita, porém, que para se ter a certeza do envolvimento de outros fazendeiros será necessário prender Bida. A PF não acredita que os dois pistoleiros presos e que confessaram o crime, Rayfran Sales e Clodoaldo Batista, tenham informação sobre outros mandantes. O único que poderia ter essa informação é Amair Feijoli da Cunha, o Tato, acusado de ser o intermediário. Mas, no seu depoimento, ele sequer admite envolvimento no crime.

As buscas pelo fazendeiro Vitalmiro, o Bida, já não se restringem mais ao estado do Pará. A Polícia Federal está trabalhando com a possibilidade de o fazendeiro estar em Goiás ou Mato Grosso.

Protesto contra morte de freira no Rio

Cerca de 200 integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST) e do movimento dos sem-teto, estudantes, ecologistas e militantes de esquerda fizeram um protesto ontem em frente à Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro pedindo justiça no caso do assassinato da missionária americana Dorothy Stang. Os manifestantes carregaram a faixa Dorothy, você vive” e gritaram slogans de protesto contra a morte da freira.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Pará, Ophir Cavalcante Junior, encaminhou ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, pedido de proteção ao frade francês Henry dez Roziers. A OAB acredita que o religioso, que mora em Xinguara (PA) e atua como advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT), será a próxima vítima de pistoleiros no estado.

Diante da gravidade das denúncias e considerando o trabalho voltado à defesa dos direitos humanos desenvolvido pelo religioso e advogado naquela região, solicito especial empenho de Vossa Excelência no sentido de dar proteção à vida do mesmo,” escreveu Ophir Cavalcante Junior ao ministro.

Exército ocupa Tucuruí

ALTAMIRA (PA). O Exército ocupou a usina hidrelétrica de Tucuruí, no Pará. A ocupação começou no fim da tarde de terça-feira e foi ordenada pelo comando central da Operação Pacajá, sediado em Altamira, após receber a informação de que integrantes do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) estariam planejando interromper o funcionamento da usina.

O risco de interrupção do fornecimento de energia fez o Exército agir rapidamente. Foram enviados para Tucuruí pelo menos 230 homens, dos quais 200 são do 23 Esquadrão de Cavalaria de Selva, de Tucuruí. O efetivo foi reforçado por um pelotão do 52 Batalhão de Infantaria de Selva, em Marabá.

Em visita às instalações do Exército em Anapu, o comandante militar da Amazônia, general Cláudio Figueiredo, disse que, até agora, o governo não repassou verba extra para custear a operação na região. O general afirmou que a Operação Pacajá custará R$ 1 milhão por mês, incluindo gastos com o apoio logístico de carros e aviões e as despesas com efetivo. O comandante ressalvou que a continuidade da operação dependerá da liberação de recursos.

— Precisamos de pelo menos um mês para ficarmos aqui e realizar o que pretendemos, mas tudo depende de recursos e de decisão de escalão superior. Ainda não recebemos (verba extra), mas vamos receber, com certeza.

Presidente do TJ do Pará questiona federalização

Ismael Machado

BELÉM. Enquanto o Ministério Público do Pará ainda busca reunir material que comprove a necessidade de o caso Dorothy Stang ser federalizado, o presidente do Tribunal de Justiça do Pará, Milton Nobre disse ontem que o estado tem estrutura e competência para cuidar do episódio.

Para Nobre, se o caso for federalizado, o processo vai demorar mais, porque a União não possui a mesma estrutura que o estado. O ouvidor agrário estadual, desembargador Otávio Maciel, também já se disse contrário à federalização.

No Ministério Público, o esforço é para que o processo passe para a esfera federal. O procurador da República Felício Pontes está em Brasília para lutar pela federalização. Ele já se reuniu com o procurador-geral da República Cláudio Fonteles, que prometeu empenho na mudança de esfera.

Segundo Pontes, os projetos de desenvolvimento sustentável são programas do governo federal. Dorothy defendia os direitos humanos dos colonos, e, por isso, sua morte é um crime contra os direitos humanos. E há, no entendimento da procuradoria, omissão do estado em relação aos conflitos agrário no Pará.

O Globo, 24/02/2005, p. 12

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.