VOLTAR

Crime na rede

CB, Brasil, p. 8
01 de Mai de 2007

Crime na rede

Ullisses Campbell
Da equipe do Correio

Depois dos casos de apologia às drogas, incentivo à pedofilia e racismo, o Orkut, maior página de relacionamentos da internet, será investigado agora por suspeita de crimes ambientais. A Polícia Federal vai abrir inquérito para apurar a venda ilegal de animais em comunidades do site. Investigações preliminares já identificaram internautas e sítios virtuais que estariam negociando serpentes, lagartos e pássaros silvestres. A maior parte dos envolvidos estaria em São Paulo.
O animal mais valioso à venda no Orkut é uma sucuri amazônica (Eunectes boidae), oferecida por US$ 900. O usuário que faz a oferta garante que a serpente foi capturada no Suriname, mas o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) avisa que vender animais silvestres da fauna brasileira é crime inafiançável, cuja pena varia de seis meses a três anos de cadeia, além de multa. "O tráfico de animal tem a mesma dinâmica do tráfico de drogas. Quem compra estimula a caça e a oferta", explica o técnico do Ibama de Manaus, Carlos Guedes.
Em 2002, a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), uma organização não-governamental, entregou ao Ministério Público Federal um dossiê contendo mais de 5 mil anúncios postados em sites de compra e venda de todo tipo e variação de animais silvestres. A Polícia Federal conseguiu inibir esse mercado, já que a maioria das ofertas estava publicada em sites nacionais. No entanto, os traficantes de animais teriam descoberto no Orkut um verdadeiro paraíso para a prática de crimes e os anúncios migraram para o site de relacionamento. "Já identificamos várias comunidades e denunciamos para a Polícia Federal", diz o coordenador-geral da Renctas, Dener Giovanini.
Segundo o delegado Álvaro Palharim, chefe da Divisão de Prevenção a Crimes contra o Meio Ambiente, o principal problema no combate aos crimes ambientais na internet é o anonimato. Trata-se da mesma queixa feita por policiais que investigam outros crimes cometidos no mundo virtual. Na semana passada, a Superintendência da PF, em Brasília, enviou informações ao órgão em São Paulo para tentar desbaratar uma quadrilha que oferece lagartos e cobras da fauna brasileira na internet. "No Orkut, os criminosos vendem todos os tipos de animais silvestres", atesta Palharim. Inquéritos recentes abertos pela PF investigam araras que são vendidas no Orkut a US$ 300. As aves, segundo os anúncios, estão em municípios da Bahia e do Rio Grande do Sul.
Leilão
A partir dos Estados Unidos, colecionadores estariam vendendo todo tipo de fauna e artefatos, possivelmente retirados clandestinamente da selva amazônica. O site de leilão E-bay, uma espécie de Mercado Livre norte-americano, oferece aves, peixes, insetos, fósseis e cascas de árvores. Os animais podem ser comercializados vivos ou empalhados.
Um dos anúncios oferece um fóssil de peixe, que teria sido encontrado no Ceará, com cerca de 110 milhões de anos. Segundo a descrição, trata-se da espécie Dastilbe (Dastilbe crandalli). "É um fóssil muito bonito", diz o vendedor, que está na cidade de Tucson, no Arizona.
Por enquanto, nenhum lance foi dado.
O E-bay também oferece um outro peixe fossilizado numa pedra, retirado da Chapada do Ararie (CE). O vendedor garante que o animal tem mais de 115 milhões de anos. "Infelizmente não sei o nome do peixe fossilizado", diz o vendedor, que não se identifica. O fóssil está na cidade de Simi Valley, Califórnia. Do Ceará há ainda, à venda no site norte-americano, fósseis de barata a US$ 34,90, e de outros 10 insetos a US$ 24,90, cada. No total, o E-bay tem à venda 57 fósseis brasileiros, todos do período Cretácio, entre árvores, peixes, e 32 espécies de borboletas.
A Polícia Federal também está investigando o contrabando de fósseis do Brasil. Para Dener Giovanini, da Renctas, ao levar um animal fossilizado do Brasil para o exterior, o patrimônio nacional acaba sendo saqueado. "O governo brasileiro deveria pedir ajuda ao governo dos países em que essas peças são comercializadas", sugere. A maior dificuldade para localizar os criminosos do Orkut, no entanto, seria justamente a falta de colaboração das próprias multinacionais que administram os sites.
No site de leilão E-bay, a oferta de animais e artefatos da Amazônia que mais chama a atenção é vendida por um colecionador que mora no estado norte-americano de Connecticut. Ele pôs à venda por US$ 10 milhões (lance inicial) "uma vasta coleção de artefatos da América do Sul". Ao detalhar os produtos, o anônimo diz que há muitas borboletas, besouros, peles de cobra (a maioria empalhada), além de material indígena, como cestas, armas, máscaras, jóias, cocares, apitos, instrumentos musicais e vários itens fossilizados.
Oferece ainda milhares de fotos do dia-a-dia dos índios da Floresta Amazônica. O vendedor diz que, quem comprar, poderá montar um grande museu com produtos da Amazônia. "Essa coleção é o trabalho de muitos anos vivendo, conhecendo e compreendendo os índios da região amazônica. Foram necessários 20 anos para trazer as peças aos Estados Unidos e todas são legais, comprovadas por documentos da alfândega norte-americana", garante o vendedor. Ele só não diz o mais importante: se a alfândega brasileira liberou a coleção.

Comercio virtual
Veja os principais animais vendidos na internet

Borboleta (Rhopolocera)
No sita de leilão E-bay, a borboleta mais oferecida é a da família Rhopalocera, típicas da Amazônia. Tem asas esverdeadas para camuflar-se dos predadores. Nos Estados Unidos, colecionadores chegam a pagar US$ 800 em leilões virtuais por um exemplar da espécie.

Jibóia (Boa constrictor)
É o segundo tipo de serpente mais encontrada no Brasil, chegando a medir 3m de comprimento. Na Internet, pode ser encontrada por US$ 300. Vive em toda a América do Sul. No Brasil, pode ser encontrada principalmente na Amazônia e Mata Atlântica. Têm hábitos noturnos e prefere esconder-se na copa das árvores mais altas. Apesar de ser réptil, uma corrente de cientistas defende que esse animal deve ser reclassificado, pois está comprovado que, no final da gestação do ovo, o embrião recebe os nutrientes necessários do sangue da mãe, características dos vivíparos, como os mamíferos.

Borboleta (Papilionidae)
A segunda borboleta brasileira mais vendida nos sues norte-americanos pertence à família Papilionidae. É considerada uma das mais bonitas do mundo. Pode ser encontrada em toda a América do Sul, mas é mais fácil de ser capturada na Amazônia.
Nos sues de leilão, o lance inicial nos EUA é US$ 400.

Largatixa-leopardo (Eublepharis mocularius)
Réptil de 22cm comum no Oriente Médio. É comercializado na internet por traficantes brasileiros a US$ 100. Apresenta manchas na pele com as cores amarela, roxa, azul e preta. Adapta-se em aquários. Alimenta-se de insetos, como baratas e grilos. É uma das espécies preferidas de quem mora em apartamento. Apesar de ser exótico, é proibido comercializá-lo em território nacional.

Sucuri (Eunectes boidae)
Conhecida mundialmente como anaconda, a sucuri é a maior cobra brasileira, chegando a medir 8m de comprimento. Tem força suficiente para matar uma pessoa esmagada. As maiores espécies vivem em áreas alagadas da Amazônia. Nos sues clandestinos, chegam a ser vendidas por US$ 900. No meio científico, essa cobra chama a atenção por ter as mandíbulas dotadas de ligamentos altamente elásticos, o que lhe permite separar amplamente os maxilares inferiores e superiores do crânio. Estes ligamentos flexíveis permitem engolir animais muito grandes, como capivaras e novilhos.

Cobra d'água (Liophis miliaris)
É uma das serpentes mais dóceis da Amazônia Possui uma coloração que varia de acordo com a região onde é encontrada Na Mata Atlântica, assume um padrão amarelo com preto, enquanto no cerrado é mais comum o esverdeado com preto. Mede cerca de 60cm. Caça em lagoas e pequenos rios geralmente pela manhã. Alimenta-se de pequenos anfíbios e peixes. No Orkut, a Polícia Federal encontrou exemplares sendo comercializados por US$ 400.

CB, 01/05/2007, Brasil, p. 8

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.