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Criancas receberao material para diferentes realidades

OESP, Vida, p.A14
16 de Mai de 2005

Crianças receberão material para diferentes realidades
Região, cultura e etnias pautam a formulação de livros didáticos e a formação de professores no País
Renata Cafardo O livro aqui fala da história, da literatura, da música do interior paulista. No sertão nordestino, ele percorre Estado por Estado para que as crianças aprendam sobre a natureza que pode ser vista da janela. São exemplos da chamada educação contextualizada, conceito que ganha força no País. Livros e outros materiais didáticos passam a levar em consideração a região e a cultura de quem aprende. É o ensino se ajustando ao aluno.
Estudantes de 7.ª e 8.ª séries de 890 escolas estaduais de São Paulo vão receber esta semana kits com livros paradidáticos, DVD, jogos e almanaques sobre a chamada "cultura caipira". "É uma maneira de trabalhar a sua identidade e fazer o aluno entender o porquê de um determinado hábito, jeito de falar ou comida", diz uma das coordenadoras do projeto Terra Paulista/Jovens no Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), Lidia Izecson de Carvalho. A ONG tem o apoio da Unesco e do governo do Estado. "As pessoas acham que em São Paulo não há riquezas culturais, só em Minas, na Bahia."
Os dez livros cuidadosamente ilustrados são divididos por temas como costumes, moradias, famílias, celebrações, artesanatos, literatura, entre outros. De Jeca Tatu a Chitãozinho e Xororó, o material tenta explicar e amenizar o preconceito com o termo caipira. Fala da vasta produção literária paulista, da importância da economia cafeeira, da arquitetura no Estado desde os tempos do Brasil Colônia. Jogos de tabuleiro em que os alunos podem refazer caminhos dos Bandeirantes ou dos índios compõem o projeto. Na semana passada, professores e coordenadores da rede foram capacitados para usar o novo material.
Na educação indígena, o Ministério da Educação (MEC) decidiu gastar este ano R$ 11 milhões, produzindo materiais específicos e formando professores para um ensino bilíngüe - português e a língua nativa de cada povo. Outros R$ 5 milhões vão para a construção de escolas indígenas. "Existe uma névoa no cotidiano escolar que não permite enxergar a riqueza cultural", diz o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, Ricardo Henriques. Livros, CD-ROM, vídeos e jogos vão recuperar a história oral, falar dos mitos e da literatura dos povos. O Brasil tem hoje quase 150 mil índios freqüentando escolas.
Outro foco do governo federal é uma educação contextualizada para as crianças dos 850 quilombos do País. "Os materiais didáticos não são universais. Não adianta explicar a maré para uma comunidade de pescadores da mesma maneira que se ensina para crianças de Mato Grosso, por exemplo, que nunca viram o mar", diz a educadora da Universidade de São Paulo (USP), Silvia Colello. Ela, no entanto, alerta para o risco de levar o ensino para o extremo oposto. "A criança não pode passar a pensar que o seu mundo é o limite para o que ela pode aprender."
SEMI-ÁRIDO
"A questão é abrir e não fechar", explica Josemar da Silva Martins, consultor do livro didático Conhecendo o Semi-Árido, Educação e Contexto. A primeira versão do livro, preparado para as crianças de 3.ª e 4.ª séries dos 11 Estados que compõem a região, está pronto. Um dos objetivos é o de acabar com um conjunto de estereótipos - povo faminto, seca, pobreza - quando se fala em sertão. A iniciativa tem o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e será apresentada ao MEC para que possa fazer parte do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), catálogo de livros avaliados pelo governo que podem ser usados nas escolas do País.
O livro é estruturado a partir da história de uma formiguinha que está a procura do seu formigueiro. No trajeto, ela vai passando pelas cidades do semi-árido e discutindo as características naturais e históricas da região. Passa por Canudos, conhece um tatu na Serra da Capivara, banha-se no Rio São Francisco. "O livro pode ser usado em qualquer disciplina, como um material a mais", diz a professora Claudia Maisa Antunes Lins, uma das autoras. "A educação contextualizada dá sentido às áreas do conhecimento, faz com que o aluno entenda o motivo de estar aprendendo aquilo", completa.
"É importante mostrar o valor positivo das diferenças frente ao valor negativo das desigualdades", diz o secretário Henriques. Para ele, a contextualização acaba funcionando como uma boa estratégia de inclusão. "Os materiais sobre literatura indígena, por exemplo, podem ser usados também para o ensino em outras regiões. É uma maneira de quebrar com o exotismo que ronda alguns povos."

OESP, 16/05/2005, p. A14

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