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Crianças índias morrem em aldeia de SP

FSP, Cotidiano, p.C6
14 de Out de 2005

Crianças índias morrem em aldeia de SP
Lideranças indígenas afirmam que mortes ocorreram após equipe da Unifesp deixar de prestar atendimento por falta de pagamento

Uma criança de um ano e nove meses e dois bebês recém-nascidos morreram nesta semana na aldeia indígena guarani Tekoa Pyau, no Jaraguá, na zona oeste da cidade de São Paulo.
Lideranças locais dizem que as mortes poderiam ter sido evitadas se os médicos mantidos através de um convênio entre a prefeitura paulistana e a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) estivessem na aldeia -há um mês eles não aparecem na região por falta de pagamento. A Unifesp confirma a informação.
Os recém-nascidos faleceram no início da semana. Um deles teve problemas no parto, feito na aldeia com o auxílio de uma parteira índia. O outro ainda foi levado a um hospital da região, mas morreu logo depois.
A terceira morte ocorreu na noite de terça-feira. Manoela, de um ano e nove meses, foi levada de tarde ao Hospital Pirituba, onde os médicos diagnosticaram um caso de pneumonia.
De lá, a transferiram para o Hospital da Vila Nova Cachoeirinha. "Tentaram tirar água dos pulmões dela, mas a pequena não resistiu e morreu", disse o tio da criança, Maurício da Silva. Ela foi enterrada anteontem.
A aldeia Tekoa Pyau (que significa Aldeia Nova em tupi guarani), com 210 moradores, sendo 97 crianças de até 7 anos de idade, contava diariamente com o apoio de um médico, um dentista, um enfermeiro e uma auxiliar de enfermagem.
Equipe
Essa equipe atuava desde o segundo semestre do ano passado, em função de um convênio firmado entre a Secretaria Municipal da Saúde, a Unifesp, a Fundação Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e a Associação Estadual dos Rondonistas de Santa Catarina, segundo informações da administração José Serra (PSDB).
A secretaria informou, por meio de nota à imprensa, que o contrato não foi rescindido e que as partes se reunirão amanhã para "discutir as medidas necessárias para sua melhor continuidade". Mas não soube dizer o motivo de os médicos não terem trabalhado na tribo no último mês.
A assessoria de imprensa da Unifesp disse ontem à noite que há problemas no fluxo de pagamento há cerca de nove meses. Mas que apenas no último mês, sem receber a verba prevista da prefeitura, a universidade interrompeu o repasse do salário dos funcionários -motivo pelo qual o serviço teria cessado.
A Unifesp disse ainda que a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) também estaria envolvida no convênio. A Folha não localizou a assessoria do órgão, ligado ao governo federal, na noite de ontem.
Evandro Tupã Mirim, 22, um dos líderes da Takoa Pyau e membro do Conselho dos Povos Indígenas do Estado de São Paulo, acredita que a presença dos médicos na tribo poderia ter evitado a morte das crianças.
"É um absurdo terem interrompido o convênio justamente num momento em que passamos por graves problemas de saúde. Hoje já levamos três crianças para o hospital e há outras doentes na tribo", afirmou.
Segundo ele, a última morte de uma criança na Takoa Pyau havia sido registrada em junho de 2004. "Precisamos de médicos com urgência para evitar novas mortes por aqui", disse Tupã Mirim.

FSP, 14/10/2005, p. C6.

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