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Criação de reserva não prevê a tradicional criação de búfalos

O Liberal-Belém-PA
28 de Jun de 2005

A criação de centenas de búfalos por 70% das 2.500 famílias que vivem dentro da reserva extrativista de 1,3 milhão de hectares "Verde Para Sempre", em Porto de Moz, no sudoeste do Pará, virou um problema para o governo federal. No ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto de criação da reserva sem atentar para um detalhe da lei sobre a matéria, que agora está provocando dores de cabeça nos técnicos do governo e, principalmente, nas famílias residentes no interior da área: além de ser proibida a extração de madeira por empresas da região, também não é permitida a permanência de animais de grande porte, como o búfalo.

Contraditória, a mesma lei observa que deve haver respeito às atividades tradicionais dos moradores. E como há pessoas em Porto de Moz que se utilizam há 40 anos da criação de búfalos em áreas de várzea como principal fonte de renda para sobreviver, o problema é saber se esses animais devem ou não permanecer no local. O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Brasília, Luciano Matos, entende que o decreto que criou a reserva não poderia ignorar essa realidade.

Matos, porém, não vê nisso um impasse. Pelo contrário, com o apoio do Conselho Nacional de Populações Tradicionais (CNPT), órgão vinculado ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), acredita numa solução conciliatória para permitir a continuidade da exploração da bubalinocultura na reserva. "O CNPT tem a visão de que aquilo não pode ser retirado e já procurou a Embrapa para fazermos um trabalho conjunto", explicou. Com a tecnologia que possui para trabalhar com questões dessa natureza, a Embrapa aceitou montar uma estratégia ao lado do CNPT, que inclui a criação de planos de manejo do búfalo em várzea, além de um diagnóstico sócio-ambiental.

Dúvida- Mesmo que a Prefeitura de Porto de Moz esteja pleiteando na Justiça a redução do tamanho da reserva, que ficaria bem menor do que é hoje, Matos sustenta que isso não deve se constituir num empecilho à permanência dos búfalos nas várzeas da região. Ainda assim, ele teme que o governo federal se mantenha inflexível na estratégia de não determinar usos de animais de grande porte por comunidades nas áreas de influência da BR-163 (Santarém-Cuiabá) e da Terra do Meio. "Isso está muito presente na agenda do governo", resumiu.

O que fazer, então, para compatibilizar a "agenda federal" com a necessidade de sobrevivência das famílias residentes há décadas dentro da reserva? Uma das alternativas seria trabalhar o problema das marombas - criatórios de madeira onde ficam os búfalos durante o inverno. As famílias sabem que isso é um problema que provoca doenças nos animais com conseqüências sobre os humanos. "Lá não tem só búfalos, mas também cachorros, galinhas, porcos, um problema de zoonoses". As comunidades sabem que as marombas, como estão, não poderão continuar.

Proteção - A outra preocupação é com o pasto nativo, que está sendo prejudicado pelo sobrepastoreio. Com isso, proliferam as ervas daninhas que prejudicam a longevidade dos búfalos. Uma das soluções seria levar os animais para as partes mais altas durante a época das chuvas, abandonando de vez as marombas.
(-O Liberal-Belém-PA-28/06/05)

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