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Crescimento do contigente de índios nos últimos cinco anos foi maior que o da média brasileira, que é de 1,6%

Folha de São Paulo - São Paulo - SP
Autor: Noeli Menezes e Claudio Angelo
24 de Mar de 2001

População indígena cresce 3,5% ao ano

Os povos indígenas estão crescendo mais do que a população brasileira em geral. Segundo levantamento da organização não-governamental ISA (Instituto Socioambiental), a maioria das etnias indígenas tem crescido 3,5% ao ano, mais do que a média de 1,6% (IBGE) estimada para o período de 1996 a 2000 para a população em geral. A pesquisa da entidade é baseada em estimativas feitas por estudiosos, antropólogos, demógrafos e profissionais de saúde e consta no livro "Povos Indígenas no Brasil 1996/2000", que será lançado no dia 2 de abril. De acordo com o ISA, não há censo oficial para as populações indígenas. O livro faz um balanço do estado de saúde dos índios brasileiros, incluindo estimativas populacionais, terras demarcadas ou homologadas e fatos relevantes ocorridos nos últimos cinco anos. Todas as 216 nações indígenas do país, somadas, têm hoje cerca de 350 mil pessoas. Isso mostra que o número de índios continua a crescer depois de ser reduzido a pouco mais de um terço do contigente atual no início do século 20. O crescimento populacional, segundo os registros, deve-se à diminuição da mortalidade, notadamente a infantil, e ao aumento da natalidade. A média tem sido de quatro filhos por mulher. Alguns povos, no entanto, seguem o caminho dos tupinambás: pelo menos 12 nações estão na linha vermelha da extinção demográfica. Só no final do ano passado, 3% da população dos arauetés morreu de catapora, por falta de vacinação, informa o instituto. Na área da educação, o ISA acredita que pode contabilizar uma série de avanços. Segundo censo escolar indígena do Ministério da Educação, existem 1.666 escolas em áreas indígenas. São 4.000 professores lecionando nessas escolas, sendo 956 não-índios. Mas pouco se sabe sobre o perfil desses professores. No que se refere às demarcações de terras indígenas, segundo o ISA, a principal pendência é o caso da área indígena Raposa-Serra do Sol, no nordeste de Roraima. Identificada pela Funai em 1993 com uma extensão aproximada de 1,8 milhões de hectares, é a mais populosa entre as terras indígenas não demarcadas. "Povos Indígenas no Brasil 1996/ 2000" Instituto Socioambiental Preço: R$ 52 Lançamento: 2 de abril, na Fnac, na av. Pedroso de Moraes, 858, São Paulo

85% das línguas foram extintas

Depois de 500 anos, 85% das línguas indígenas foram extintas e, das 180 existentes hoje, a média de falantes por língua é de menos de 200 pessoas. Esses dados foram compilados pela linguista e antropóloga Bruna Franchetto e receberam um capítulo especial no livro "Povos Indígenas no Brasil 1996/2000", uma publicação do ISA (Instituto Socioambiental). Segundo Bruna, no contexto sul-americano, o Brasil é o país com a maior densidade linguística, ou seja, diversidade genética, e com uma das mais baixas concentrações de população por língua. O livro, que procura mostrar um "outro lado" dos 500 anos do Descobrimento, traz 12 narrativas de índios sobre a origem do mundo e a chegada dos brancos. Para Davi Kopenawa, 1500 aconteceu no ano de 1959. Foi quando os brancos chegaram ao território ianomâmi pela primeira vez. Sua mãe temia que os brancos fossem ladrões de crianças e o escondia sob um cesto. "Tinha medo da fumaça de seus cigarros e do cheiro de sua gasolina. Tudo me assustava", conta o ianomâmi, hoje com 45 anos. Nem sempre as datas e os fatos são claros como na narrativa confortavelmente linear de Kopenawa, que aprendeu a falar para os brancos de tanto ter de enfrentá-los. A maior parte dos relatos é cheia de idas e vindas típicas da tradição oral (como diz o desâna Luiz Gomes Lana, "nosso saber não está nos livros"). Nenhum relato reproduzido no livro é mais preciso, no entanto, que o do célebre chefe tupinambá Momboré-Uaçu, que "descobriu" os brancos pouco tempo depois de os brancos terem descoberto os tupinambás, em 1612. "Vi a chegada dos peró (portugueses) em Pernambuco e Potiú; e começaram eles como vós, franceses, fazeis agora", conta. "Não creio, entretanto, que tenhais o mesmo fito que os peró; aliás isso não me atemoriza, pois velho como estou nada temo. Digo apenas o que vi com meus olhos."

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