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Cresce dependência de chuva para 2015

Valor Econômico, Brasil, p. A6
23 de Jul de 2014

Cresce dependência de chuva para 2015

Rodrigo Polito
Do Rio

Passada a temporada de chuvas e com os reservatórios ainda em níveis baixos, o ano de 2014 deve terminar sem melhoras visíveis e com riscos de problemas de abastecimento que podem ficar de herança para 2015. A julgar pelos cenários traçados ontem pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o próximo ano deve começar ainda com grande dependência de um elemento imponderável: as chuvas.
Para eliminar completamente o risco de déficit de energia em 2015, seria preciso que o nível de armazenamento dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste alcançasse 43% em novembro deste ano. Se atingir esse nível, pode chover o menor volume da série histórica no próximo verão que o suprimento estará garantido para 2015.
Para atingir essa marca, no entanto, seria necessário ocorrer um volume de chuvas 16% acima da média histórica de julho a novembro deste ano, algo que, observado o histórico dos últimos anos, não é provável.
O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, porém, afirmou ontem, que mesmo com os reservatórios bem abaixo deste nível de segurança, não haverá problemas. "Não [é um problema] porque [a estimativa de 43%] é para suportar [o sistema] no período úmido, se houver a pior hidrologia do histórico, ou seja, pior do que aconteceu este ano", disse Chipp, durante seminário, no Rio. Entre novembro de 2013 e abril de 2014, o volume de chuvas alcançou 57% da média histórica para o período. "Este ano foi uma escassez, quase que a pior [hidrologia] do histórico".
No seu pior cenário, que parte da premissa de que os reservatórios das usinas das duas regiões estarão com 18,5% de armazenamento em novembro deste ano, o ONS calcula que será necessário chover 77% da média histórica, entre novembro e abril, no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, para garantir o suprimento de energia em 2015. Chipp, porém, disse que esse indicador é "conservador".
Com essas projeções, o nível de estoque das usinas do Sudeste/Centro-Oeste, que concentram 70% da capacidade de armazenamento do país, chegaria a 45% em abril de 2015. Esse patamar, segundo o executivo, garante o abastecimento do sistema no próximo ano, mesmo que ocorra o pior histórico de chuvas no período seco de 2015. Nesse caso, porém, os reservatórios chegariam a novembro do próximo ano com nível preocupante entre 10% e 15%.
A previsão atual do ONS é que os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste cheguem ao fim de julho, três meses antes do término do período seco, com 33,3% de estoque. Os lagos das usinas estão hoje com 34,7%, com queda de 1,6 ponto no acumulado do mês. Em julho de 2013, o estoque era de 62,1%
Segundo o diretor do ONS, está prevista a entrada de uma frente fria no fim de semana, o que pode aumentar a ocorrência de chuvas. "Tem entrado praticamente uma frente fria por semana", disse.
"Ao longo deste ano pode ocorrer chuvas com certa variabilidade, mas os preços vão se manter em patamares elevados e as térmicas vão continuar despachadas", afirmou o gerente de regulação da comercializadora Safira Energia, Fábio Luiz Cuberos. "O cenário de 2015 vai depender muito do que ocorrer no próximo verão. Por enquanto, os institutos [meteorológicos] falam que o volume de chuvas se dará na normalidade. ".
Com relação ao Nordeste, o ONS estima chegar a novembro com 14,7% de estoque nas usinas. O diretor do ONS explicou que o fenômeno climático "El Niño", que causa incidência maior de chuvas na região Sul e na parte sul da região Sudeste, deve ocorrer com mais intensidade nos próximos meses, alcançando o seu pico em outubro.
Segundo o ONS, o volume de chuvas no Sul em julho deve ser 67% acima do histórico para o período. O problema é que a região responde por apenas 7% da capacidade de armazenamento do sistema. Os lagos das usinas do Sul estão com 92,6% de estoque.

Térmicas serão acionadas mesmo sem estiagem

Rodrigo Polito
Do Rio

O acionamento das termelétricas será mais acentuado no futuro, mesmo em anos em que o regime de chuvas seja próximo à média histórica. De acordo com o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, as térmicas só deverão ser desativadas nos anos em que a hidrologia for superior à média.
"O despacho térmico mais acentuado, mesmo para anos hidrológicos próximos à média, deverá constituir o novo paradigma da operação futura" afirmou ontem Chipp, em seminário, no Rio. "Eu chamava [o sistema elétrico brasileiro] de hidrotérmico. Agora é termo-hídrico. Com a matriz que temos hoje não tem jeito", completou.
Para este ano, a expectativa do operador é manter todas as térmicas disponíveis acionadas continuamente. A geração termelétrica deverá ser superior a 15 mil megawatts (MW) médios de agosto até dezembro. "O grande problema desse modelo é a imprevisibilidade. Estamos em um sistema em que os resultados são muito voláteis, muito dependentes da afluência [chuva]", disse Chipp.
Para o coordenador do Grupo de Estudos do Setor de Energia Elétrica (Gesel) da UFRJ, Nivalde Castro, a operação contínua das térmicas sobrecarrega financeiramente o setor elétrico. "Pelo lado físico, a operação do sistema está indo bem. O problema é que o PLD [sigla de Preço de Liquidação de Diferenças, o preço spot de energia] alto está acirrando a crise financeira do setor", explicou ele, que defende mudanças na metodologia de formação do preço spot.
A expectativa do ONS é que o custo marginal de operação, que baliza a formação do PLD, fique entre R$ 500 por megawatt-hora (MWh) e R$ 630/MWh até o fim do ano. "Mesmo se os reservatórios chegarem a um nível mais tranquilo, o governo vai despachar térmicas. O setor não suporta financeiramente o PLD alto", disse Castro.
O diretor do ONS também voltou a defender a realização de estudos para promover leilões de energia específicos por fonte ou por região do país. Segundo ele, os modelos dos leilões atuais não consideram externalidades das fontes de geração e o sinal locacional correto do empreendimento.
Chipp propôs ainda reforços na interligação elétrica entre as regiões Norte e Sul. "Não podemos mais nos dar ao luxo de termos limitações nas interligações".

Valor Econômico, 23/07/2014, Brasil, p. A6

http://www.valor.com.br/brasil/3622618/cresce-dependencia-de-chuva-para…

http://www.valor.com.br/brasil/3622620/termicas-serao-acionadas-mesmo-s…

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