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Cresce apreensão de animais traficados

FSP, Cotidiano, p. C5
16 de Out de 2007

Cresce apreensão de animais traficados
Até setembro, foram encontrados com traficantes 33 mil animais no Estado de SP; número supera totais de 2006 e de 2005
Pássaros são a categoria preferida dos traficantes; "de cada dez animais traficados, só um sobrevive", afirma ambientalista

Afra Balazina
Da reportagem local

Só até setembro deste ano, as apreensões de animais vítimas do tráfico já superam os totais dos anos de 2005 e 2006 no Estado de São Paulo. Foram 33 mil animais. No ano passado inteiro, o número foi de 30,2 mil e, em 2005, de 25,1 mil.
Um relatório da Polícia Militar Ambiental que acaba de ser concluído mostra que também aumentou, em 332,6%, a quantidade de autos de infração ao comparar 2006 com 2005. Foram feitos mais bloqueios policiais -9.204 contra 5.513-, e mais veículos foram fiscalizados -59,9 mil contra 37,2 mil.
Pelo segundo ano consecutivo, considerando os rankings de 2005 e 2006, o canário-da-terra-verdadeiro, de cor amarela, foi o animal vítima de tráfico mais apreendido no Estado. Em 2006, foram apreendidas 5.630 aves dessa espécie.
Em segundo lugar da lista de apreensões de 2006, vem o coleirinho, com 2.730 exemplares, e, em terceiro, o picharro, com 2.148. Segundo a Polícia Militar Ambiental de São Paulo, os pássaros são o principal alvo dos traficantes, por serem fáceis de ser transportados e terem apelo de vendas.
Na madrugada da última quinta, a Polícia Rodoviária Federal deteve um homem e apreendeu com ele 21 filhotes de papagaios-verdadeiros dentro de uma mala. Alguns bichos não tinham mais nenhuma pena no corpo. O criminoso estava na rodovia Presidente Dutra, sentido Campinas-Rio de Janeiro. Os animais foram levados para um criadouro em Lorena (188 km de SP).
Em março deste ano, na região de Araraquara (273 km de SP), 160 pássaros-pretos foram encontrados numa caixa apertada de arame e madeira, debaixo do banco traseiro de um Uno. Alguns tinham asas e rabos cortados.
De acordo com Marcelo Robis Nassaro, tenente da PM que exerce o cargo de porta-voz da Polícia Militar Ambiental, apesar de os dados mostrarem um avanço da fiscalização no Estado, para acabar com o tráfico é necessário investir mais em educação ambiental. "Não adianta fazer apenas operações. É preciso convencer as pessoas, principalmente as crianças, de que não se deve ter animais silvestres em casa."
Ele considera positivo, entretanto, o fato de as denúncias terem aumentado -passaram de 17,5 mil, em 2005, para 26,5 mil, em 2006. "As pessoas precisam entender que o tráfico de animais é como o tráfico de drogas. Com as denúncias, as ações são mais certeiras, e o resultado, mais garantido."
Nesta semana, sete equipes da Polícia Militar Ambiental começam a visitar escolas públicas e privadas para dar aulas de educação ambiental. Eles abordarão o tráfico de animais e distribuirão quebra-cabeças com desenhos dos bichos mais traficados.
Na opinião de Dener Giovanini, coordenador-geral da Renctas (ONG que combate o tráfico de animais), o trabalho de fiscalização, apesar de importante, é como "enxugar gelo". "Mais relevante é evitar que o animal seja retirado da natureza, pois, quando isso acontece, dificilmente ele volta. O governo não tem dinheiro para fazer o transporte de volta, e os bichos ficam debilitados e muitas vezes morrem."
E afirma ser necessário "acabar com a cultura da gaiola no país". "De cada dez animais traficados, apenas um sobrevive. Quem gosta de bichos e quer ter animal silvestre em casa precisa saber o que está por trás disso e ter consciência de quantas mortes são causadas. É uma atitude egoísta."
Segundo Giovanini, mesmo com a morte de muitos bichos, infelizmente a atividade ainda é lucrativa. "Eles compram um papagaio por R$ 2 e vendem por R$ 300".
Outra dificuldade em evitar o tráfico de animais, segundo ambientalistas e a polícia ambiental, é o fato de que as pessoas flagradas com animais silvestres não vão para a cadeia.
A pena máxima para quem trafica é de um ano e meio de detenção -e os crimes com pena de até quatro anos de detenção são considerados de menor poder ofensivo. Assim, os traficantes normalmente prestam serviços comunitários ou doam cestas básicas.

FSP, 16/10/2007, Cotidiano, p. C5

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