VOLTAR

Cresce apoio da Igreja à ocupação

A Tarde
Autor: ADILSON FONSÊCA
01 de Jul de 2007

Índios e integrantes do MST (Movimento dos Sem Terra) que permanecem acampados no canteiro de obras do canal do Eixo Norte da transposição, a 18 km da cidade de Cabrobó, em Pernambuco, receberam ontem apoio da Igreja.

Os bispos das dioceses de Juazeiro, na Bahia, D. José Geraldo da Cruz, e de Floresta, em Pernambuco, D. Adriano Ciocca, juntamente com padres das cidades de Poço Redondo, Sergipe, e Paulo Afonso, na Bahia, além de Cabrobó, foram levar solidariedade aos manifestantes e ao bispo da Diocese de Barra (BA), D. Luiz Flávio Cappio,
que permaneceu no acampamento dos manifestantes montado na beira do Rio São Francisco, local onde será construído o canal da transposição.

Falando aos manifestantes, o bispo de Floresta disse que a luta pela preservação do Rio São Francisco e contra a transposição de suas águas deve ser uma luta de todo nordestino. "Não podemos nos esquecer de que a natureza é uma dádiva de Deus e o homem não pode destruí-la em troca de projetos que vão de encontro à sua própria
natureza", disse. Ele reiterou apoio ao bispo de Barra e disse que espera que a situação seja resolvida sem conflitos.

Já o padre de Cabrobó, município onde será implantado o canal do Eixo Norte da transposição, Nicolau Clark, ressaltou que "a Igreja sempre se solidariza com as lutas populares dos mais fracos contra a opressão".

O frei Enock Salvador, da igreja de Poço Redondo, em Sergipe, foi mais enfático. Para ele, a região do Baixo Médio São Francisco é a mais degradada. Não é porque o governo quer a transposição que ela deve ser feita. Basta se olhar para o rio e se descobrir que em muitas regiões já não há mais peixes. "Por isso temos que popularizar esta luta aqui em Cabrobó".

MANIFESTAÇÃO - No final da manhã de ontem, os índios trukás, que vivem na Ilha de Assunção, no município de Cabrobó, fizeram uma manifestação para protestar contra a transposição do Rio São Francisco e lembrar da morte de dois índios - um deles cacique e irmão do atual cacique da tribo - em 30 de junho de 2005.

A manifestação, seguida de passeata, percorreu algumas ruas da cidade e foi acompanhada pela população, dividida entre o apoio à obra da transposição e crítica ao projeto do governo federal.

A manifestação percorreu o interior da aldeia, onde vivem 4.200 índios divididos em 25 tribos, e atravessou a ponte que separa a ilha da cidade de Cabrobó, passando por algumas ruas do centro da cidade.

Para o cacique dos trukás, Aurivan Santos Barros (Neguinho), a lembrança do crime, até o momento insolúvel, e a cobrança por punição aos envolvidos fazem parte da atual luta contra a transposição.

"A nossa luta é permanente por nossos direitos. Ao tempo em que denunciamos a discriminação do nosso povo, lutamos pelas nossas terras", acentuou.

OCUPAÇÃO - Até ontem, já eram 1.600 pessoas ocupando a área do canal da transposição, nos arredores de Cabrobó, vindos da Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Sergipe, Alagoas e Ceará. Em contrapartida, o efetivo do Exército, posicionado a seis quilômetros de distância, na antiga Fazenda Mãe Rosa, está em torno de 140 homens, incluindo
soldados do 2o Batalhão de Engenharia de Construção, vindo de Teresina (PI) e do 72o Batalhão de Infantaria Motorizada, vindo de Petrolina (PE).

A reintegração da área ocupada, feita pelo Ministério da Integração Nacional, foi deferida pelo juiz da 20ª Vara Federal, Giorgius Argentini, desde a sexta-feira, mas até ontem a retirada dos ocupantes não tinha sido feita pela Polícia Federal. No despacho, o juiz determina que a desocupação da área seja feita pela Polícia Federal, com a fiscalização da Funai (Fundação Nacional de Apoio ao Índio).

Os índios trukás, que se dizem donos da terra por onde passará o canal da transposição, pretendem permanecer na área, ocupada desde a última terça-feira, onde já iniciaram o plantio de sementes e a construção de casas de taipa.

Conforme explicou o cacique Aurivan Neguinho, caso sejam obrigados a deixar o local, por força de decisão judicial, não oferecerão resistência, mas retornarão à briga para que se faça nova demarcação da área e incluí-la como terras indígenas.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.