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Créditos de carbono já dão lucro

OESP, Economia, p. B16
28 de Jun de 2006

Créditos de carbono já dão lucro
Projetos de energia limpa trazem retorno para as empresas que apostaram nesse mercado

Andrea Vialli

O mercado de créditos de carbono, que teve sinal verde com a ratificação do Protocolo de Kyoto, em fevereiro de 2005, abriu amplas possibilidades para empresas brasileiras com projetos na área de energias limpas. Agora, elas começam a ganhar dinheiro com a negociação desses créditos, ao mesmo tempo em que o País atrai a atenção de investidores estrangeiros interessados em aportar recursos em projetos de energia limpa.

Um exemplo é Peter Sweatman, especialista em créditos de carbono que veio ao Brasil prospectar investimentos na área. O executivo dirige um fundo de capital de risco britânico, o Climate Change Capital, que vai investir de 50 milhões a 100 milhões, no período de 2 a 4 anos, em projetos brasileiros. "Hoje, o mercado de carbono já movimenta US$ 10 bilhões em todo o mundo, e esse número deve dobrar no ano que vem. A expectativa é que 20% disso venha de projetos brasileiros", afirma Sweatman.

Algumas empresas já fecharam contratos. O consórcio formado pela Biogás, o Unibanco e a Prefeitura de São Paulo - que opera a usina termelétrica do Aterro Bandeirantes, em São Paulo - fechou um acordo para vender 1 milhão de toneladas de carbono equivalente para o banco alemão KFW. O gás metano capturado no aterro é queimado e gera energia elétrica, evitando que o gás, um dos causadores do efeito estufa, vaze para a atmosfera.

O valor do contrato não foi revelado, mas estima-se que vá render em torno de 20 milhões para o Brasil. "Vai depender da cotação da tonelada de carbono no mercado internacional, que tem oscilado entre 15 e 25", diz Manoel Antonio Avelino, diretor de desenvolvimento da Arcadis Logos, acionista da Biogás.

A Sadia também concretizou a venda de 2,7 milhões de toneladas de carbono equivalente para o fundo European Carbon Fund, formado por dois bancos europeus. O negócio deve resultar num retorno imediato para a empresa de R$ 90 milhões. O projeto da empresa prevê a captação de metano nas criações de suínos de 3 mil produtores integrados, que serão os beneficiados diretos dos recursos provenientes da negociação, afirma Gilberto Xandó, diretor do Instituto Sadia de Sustentabilidade. "Inserimos o pequeno sitiante no mercado de carbono, e da mesma forma vamos reinvestir nessas propriedades", diz. O programa prevê a negociação de 15 milhões de toneladas de carbono num período de dez anos.

VICE-LIDERANÇA
O Brasil foi o primeiro país no mundo a ter projetos de geração de créditos de carbono aprovados pelo comitê executivo da ONU que trata do tema. Hoje, há 223 projetos aprovados, sendo que 21% são brasileiros, em áreas como co-geração de energia, aterros sanitários e siderurgia. Mas o País perdeu a liderança para a Índia, dona de 31% dos projetos, a maioria deles feitos por uma única empresa, a multissetorial Tata. A China também avança, com menos projetos (7%), mas de grande volume.

De acordo com Marco Antonio Fujihara, sócio do Instituto Totum, que presta consultoria na área de elaboração e negociação de créditos de carbono, há pelo menos 50 fundos na Europa e Japão dispostos a investir em projetos brasileiros, mas muitos ainda não sabem em que empresas colocar recursos.

"Queremos organizar o mercado dos vendedores de crédito de carbono no Brasil, que ainda está muito disperso", diz Fujihara. O consultor estuda uma aproximação com projetos da China e da Índia, para que seja oferecido um "pool" de projetos aos investidores. "O Brasil não pode entrar nesse mercado de modo amador."

A multinacional do setor químico Rhodia é outra que está de olho nesse mercado: acaba de criar uma divisão de consultoria dentro da subsidiária Rhodia Energy, para auxiliar empresas que querem desenvolver projetos de carbono. A nova divisão terá o apoio do grupo financeiro Societé Generale.

OESP, 28/06/2006, Economia, p. B16

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