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CPI estima que mina rendeu US$ 2 bi

FSP, Brasil, p. A7
20 de Abr de 2004

CPI estima que mina rendeu US$ 2 bi

Da reportagem local

O presidente da CPI do Garimpo da Assembléia Legislativa de Rondônia, deputado Haroldo Santos (PP), 51, disse ontem que até US$ 2 bilhões em diamantes podem ter sido extraídos clandestinamente da terra indígena Roosevelt (RO) desde 1999.
Segundo ele, a cifra foi obtida pela comissão com base no relato de 30 garimpeiros e consultas a funcionários da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e da Funai (Fundação Nacional do Índio), policiais federais e militares do Exército que acompanham o assunto há mais de quatro anos.
O valor apontado pelo parlamentar é uma estimativa de difícil confirmação, porque os diamantes, em grande parte, são contrabandeados para fora do Brasil sem nenhum controle dos órgãos públicos, como a Receita Federal e o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral).
"Os índios não ficaram com nada. Só os caciques puderam comprar umas camionetes e armas", disse o deputado. Ele afirma que em apenas uma operação a Polícia Federal apreendeu 4.000 pedras retiradas de Roosevelt.
De acordo com o presidente da CPI, criada em 2003 para investigar assassinatos na área indígena e que teve participação de deputados de diferentes partidos (a relatoria foi do PT), os índios fizeram vários acordos com garimpeiros. A autorização para que o garimpeiro entrasse na área oscilava entre R$ 10 mil e R$ 300 mil.
Mas muitas vezes o índio acabava não permitindo a entrada. Segundo o deputado, diversos garimpeiros entraram na Justiça contra caciques reivindicando a devolução de R$ 1 milhão.
Em texto divulgado pela Funai no seu site na internet, o líder Nacoça Piu Cinta-Larga, presidente da Associação Pamaré do Povo Indígena Cinta-Larga, lamenta: "Com a descoberta do garimpo, a situação tem se tornado em parte muito mais difícil, porque se por um lado temos a dificuldade de trabalharmos para sustentar nosso povo, por outro lado somos perseguidos como se fôssemos bandidos condenados à morte".

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Índios recebem parte dos lucros dos garimpeiros

Da reportagem local

Os índios cinta-larga da terra indígena Roosevelt (RO) têm tido participação em lucros na extração de diamante. Os garimpeiros cooptaram líderes indígenas, oferecendo dinheiro para poder explorar a área. Há caciques hoje com camionetes Toyota, telefones via satélite e armas de fogo. Em 2003, os índios começaram a explorar um garimpo por conta própria.
O atual quadro de acirramento de conflitos começou a ser desenhado em 1999, quando a notícia da descoberta de novas minas de diamantes na terra indígena correu entre garimpeiros de várias partes do país.
Mas há denúncias de que os caciques continuam autorizando a entrada de garimpeiros, desde que paguem pedágio.
Além do diamante, a madeira também atrai invasores desde a década de 60, pelo menos. As riquezas da terra, entre os Estados de Rondônia e Mato Grosso, deram margem a inúmeros conflitos nas últimas décadas.
Um dos episódios mais graves foi o chamado "Massacre do Paralelo 11", ocorrido na cabeceira do rio Aripuanã em 1963. Com avião, empregados de uma empresa seringueira metralharam e jogaram bombas numa aldeia. O episódio inspirou um filme de Zelito Viana -"Avaeté, A Semente da Vingança" (1985).
Os cinta-larga vivem em quatro terras homologadas pela União, com uma extensão total de 2,7 milhões de hectares. Os primeiros relatos da existência de índios com as características dos cinta-larga datam de 1727, mas é de 1915 o que é considerado o primeiro relato preciso sobre a tribo.

FSP, 20/04/2004, Brasil, p. A7

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