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Corumbá IV terá função múltipla

CB, Cidades, p. 24
27 de Ago de 2004

Corumbá IV terá função múltipla
Orçada em R$ 500 milhões, hidrelétrica vai garantir o abastecimento de água e gerar energia elétrica. Reservatório, cinco vezes maior que o Lago Paranoá, deve começar a encher a partir de outubro

Renato Alves
Da equipe do Correio

Com um reservatório cinco vezes maior do que o Lago Paranoá e que ocupará terras de cinco municípios goianos, Corumbá IV é a maior hidrelétrica de aproveitamento múltiplo em construção no país. Orçada em R$ 500 milhões, além de gerar energia, a usina terá papel fundamental no abastecimento de água do Distrito Federal e Entorno, garantindo água para a região nos próximos 100 anos.
Com conclusão prevista para abril, a obra é marcada por números expressivos. A quantidade de água a ser represada (3,7 bilhões de m³) é suficiente para atender a 40 milhões de pessoas - quase 20 vezes a população do DF. De concreto, serão gastos 90 mil m³. ''Um estádio de futebol como o Maracanã tem de 20 mil a 22 mil m³'', estima o engenheiro Murilo Menicucci, responsável por toda a parte de concreto de Corumbá IV.
Para começar as obras da barragem, em julho do ano passado, foi desviado o curso do Rio Corumbá, afluente do Rio Parnaíba, a 40 km do município de Luziânia (GO). O rio está canalizado em um túnel de 800 metros de extensão, a 80 metros de profundidade, que passa sob um morro e termina na casa de máquinas da hidrelétrica.
A força da água dentro do tubo - com vazão de 395 m³/segundo - é que alimentará as duas turbinas que estão sendo montadas por uma empresa alemã. Girando, as turbinas produzirão a energia elétrica. Para que o Rio Corumbá não seque em seu curso após a represa, será aberto o que os engenheiros chamam de ''vazão sanitária'', um espaço que permite a saída de até 12 m³ de água/segundo.
O rio foi desviado, mas ainda não está represado. Para isso, os engenheiros esperam a conclusão da barragem e o período de chuvas. A barragem, que terá 1.290 metros de extensão e altura máxima de 76 metros, recebe caminhões e mais caminhões de terra todos os dias. A previsão é que ela fique pronta em setembro.
O reservatório deve começar a encher no dia 1o de outubro. Os técnicos esperam por chuvas a partir de novembro. ''Se for mantido o índice dos últimos anos, em seis meses o lago (com até 150 metros de profundidade) estará cheio'', explica Menicucci. Quando o volume ameaçar ultrapassar a altura da barragem, as comportas do vertedouro serão abertas para vazar a quantidade de água excedente, que irá direto para o rio.
Rede independente
Pelos planos dos responsáveis por Corumbá IV, a usina começará a produzir energia em julho do ano que vem. A hidrelétrica abastecerá 25% das casas e empresas do DF e Entorno. Hoje, como em quase todo o país, a energia consumida pelo DF é toda interligada por meio de Furnas, empresa estatal controlada pelo governo federal. Em caso de pane em uma parte da rede de Furnas, por mais distante que esteja de Brasília, a capital do país corre o risco de sofrer um blecaute. Corumbá IV será a única usina hidrelétrica ligada à CEB e isso trará uma certa tranqüilidade aos consumidores brasilienses, segundo o presidente da companhia, Rogério Villas Boas. ''Poderemos garantir o abastecimento ininterrupto do poder central do país'', ressalta.
De todos os números de Corumbá IV, o que mais impressiona é justamente o menor. Depois que a usina estiver concluída, serão necessários apenas seis técnicos para mantê-la funcionando. ''Haverá mais vigilantes na hidrelétrica do que técnicos, pois a produção de energia será controlada pelos computadores da CEB, em Brasília'', explica Menicucci.

Corumbá
Licença pendente

Quando a barragem de Corumbá IV ficar pronta e o lago começar a encher, serão alagadas terras dos municípios goianos de Luziânia, Alexânia, Abadiânia, Santo Antônio do Descoberto e Silvânia. O reservatório atingirá 631 propriedades rurais. ''Metade das desapropriações foi feita de forma amigável. A outra metade está na Justiça'', diz o presidente da Corumbá Concessões, Manuel Faustino, responsável pela obra. Só com as desapropriações, foram gastos até agora R$ 25 milhões.
Outro entrave para a conclusão da hidrelétrica é a falta da licença de instalação, concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Os construtores foram obrigados pela Justiça a substituir a licença de instalação, concedida pela Agência Ambiental de Goiás, pela do Ibama.
Com a mudança do órgão ambiental fiscalizador, a Corumbá Concessões teve de assinar um Termo de Ajustamento de Conduta com o Ministério Público Federal e o MP de Goiás. A empresa se comprometeu a enviar informações ao Ibama para a concessão da nova licença. Das 42 exigências, seis são imprescindíveis para a expedição do documento. A empresa atendeu a cinco delas. Só falta uma, segundo a assessoria de comunicação do Ibama. Trata-se do das águas e as comunidades estudo que indica o impacto do empreendimento na região. O Ibama quer saber como ficarão as populações de peixes, os remanescentes florestais, a qualidade das águas e as comunidades ribeirinhas.

CB, 27/08/2004, Cidades, p. 24

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