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Corpo de guia do Ibama é encontrado

FSP, Cotidiano, p. C8
17 de Nov de 2006

Corpo de guia do Ibama é encontrado
José Santos Cruz integrava equipe que foi atacada a tiros, por caçadores ilegais de tartarugas, em um rio em Roraima
Sobreviventes afirmaram que foram surpreendidos por quatro homens em outro barco; criminosos ainda não foram localizados

Kátia Brasil

Uma equipe de resgate do Corpo de Bombeiros localizou na tarde de ontem o corpo do colaborador do Ibama José Santos Cruz, conhecido como Pimenta. O corpo estava boiando no rio Branco, em Caracaraí (172 km de Boa Vista).
Pimenta integrava uma equipe do Ibama de cinco pessoas, atacada a tiros na terça por caçadores ilegais de tartarugas, quando navegava pelo rio Água Boa do Univini, afluente do rio Branco (sul de Roraima). Seu corpo foi encontrado a 300 metros do local do ataque.
A equipe -responsável por projeto de preservação de quelônios (tartarugas, cágados e jabutis) no período de reprodução- estava na área desde o dia 6. Desarmados, seus integrantes se deslocavam sem escolta por praias fluviais marcando covas de desova dos animais.
Além de Pimenta, estavam na voadeira (pequeno barco a vapor) do Ibama o veterinário Raimundo Pereira Cruz (ferido na perna), o chefe do escritório do Ibama em Caracaraí, José Silva Araújo (ferido na orelha), e os colaboradores Josué Silva (ferido no abdômen, braço esquerdo, mãos e virilha) e Adaías Corrêa (ileso). Outros dois colaboradores estavam no acampamento do grupo, próximo ao local da emboscada.
Colaboradores do Ibama na região -como Pimenta- são moradores contratados para marcar covas de tartarugas. Pimenta trabalhava nessa função havia seis anos -usava um colete do órgão no momento da emboscada. Viúvo, deixou seis filhos, segundo seu irmão Aldemir Santos Cruz, 27.
O irmão de Pimenta disse que a família irá pedir indenização ao Ibama na Justiça. "Vamos pedir indenização porque os filhos dele não podem ficar desamparados."
Dois sobreviventes da emboscada -Raimundo Cruz e Josué Silva- relataram ontem como foi o ataque. Disseram que foram surpreendidos, em uma curva do rio, por quatro homens em outro barco. Apenas um atirou, com uma espingarda de caça calibre 20.
Mesmo ferido gravemente por um tiro no peito, Pimenta foi levado pelos caçadores na voadeira do Ibama, que ainda não foi localizada. Os outros caíram na água.
"Fomos pegos de surpresa. Quando nos aproximamos da curva do rio, eles [caçadores] estavam com o barco parado. Caí na água assim que atiraram em mim", disse, por telefone, de Caracaraí, Raimundo Cruz. Após o atentado, o veterinário se escondeu no mato e foi encontrado por fiscais da Femact (órgão ambiental de Roraima) na noite de terça-feira.
Segundo o veterinário, Pimenta foi ferido brutalmente. "Ele foi atingido à queima-roupa. Foi uma execução. Eles tinham intenção de matar muitos mais", disse.
Cruz disse que a equipe não havia tido problemas com caçadores. "O Ibama é uma ameaça para eles. Tinham certeza que não éramos fiscais e sabiam que estávamos desarmados."
A Polícia Federal investiga o caso. Os autores da emboscada não foram localizados ontem.

FSP, 17/11/2006, Cotidiano, p. C8

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