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Corpo de garimpeiro morto é identificado

CB, Brasil, p.16
13 de Abr de 2004

Corpo de garimpeiro morto é identificado

Ullisses Campbell
Da equipe do Correio

A Polícia Científica de Rondônia identificou ontem um dos três corpos dos garimpeiros mortos em conflitos com índios da tribo Cinta-Larga. É Francisco das Chagas Alves Saraiva, 41 anos, natural do Maranhão. Os outros dois corpos, resgatados pela Polícia Federal, no domingo, em avançado estado de decomposição, serão identificados pela arcada dentária. Francisco faz parte da lista de 20 pessoas desaparecidas em conflito com índios, segundo o Sindicato dos Garimpeiros.

Nos últimos três anos (2001/2004), a Polícia Civil do estado contabilizou 36 mortes de garimpeiros só nas reservas dos Cinta-Larga. Segundo o delegado Raimundo Mendes, foram abertos 23 inquéritos para apurar mortes de garimpeiros e nenhum índio foi preso até agora. Nesse período, o único índio Cinta-Larga preso estava com uma pistola automática de nove milímetros e foi detido por porte ilegal de arma, conta o delegado.

Raimundo Mendes reclama que os técnicos da Polícia Civil enfrentam muitas dificuldades para investigar a morte dos garimpeiros porque os policiais só entram nas aldeias com autorização prévia da Fundação Nacional do Índio (Funai). Na maioria das vezes, a autorização sai em dois dias. Quando a gente entra nas aldeias, os índios acusados não estão mais nas aldeias, conta o delegado. As aldeias são tão grandes que espalham-se pelos municípios de Pimenta Bueno e Espigão do Oeste.

Pane

A morte dos três garimpeiros identificados ontem é investigada pela Polícia Federal. Segundo o superintendente da PF em Rondônia, Marco Aurélio Moura, há a possibilidade de 20 corpos estarem escondidos na selva. As buscas foram interrompidas ontem pela manhã e retornaram à tarde por conta de uma pane no avião da PF e das fortes chuvas que caem na região de Espigão DOeste, onde ocorreu o conflito.

Por causa das dificuldades enfrentadas até pela PF, o juiz federal João Carlos Caberon de Oliveira determinou, por meio de medida cautelar, que a Funai faça em caráter de urgência uma força-tarefa para acompanhar o trabalho da PF. A medida judicial atende a um pedido do Ministério Público Federal, que classificou a situação na reserva indígena de Roosevelt, dos Cinta-Larga, como tensa e violenta.

No centro dos conflitos armados entre garimpeiros e índios em Rondônia está a extração clandestina de diamantes em minas localizadas dentro das reservas indígenas. Segundo o delegado do Sindicato dos Garimpeiros de Rondônia, Gilton Muniz Simões, os conflitos começaram depois que os Cinta-Larga resolveram cobrar pedágio dos garimpeiros em troca da permissão para lavra.

Simões diz que os índios cobram valores que variam entre R$ 10 e R$ 100 mil para as cooperativas de garimpeiros entrarem com máquinas para extrair a pedra preciosa. Com o passar do tempo, os índios expulsam os garimpeiros para que paguem novos pedágios ao entrarem na reserva novamente. Nem todos saem e a permanência nas reservas gera violência, escreveram os investigadores nos inquéritos policiais sobre as mortes de garimpeiros.

O diretor da Funai em Rondônia, Aurélio Santos, nega que a instituição obstrua o trabalho da polícia. As lideranças dos Cinta-Largas foram contactadas por telefone pelo Correio, mas não quiseram comentar as acusações.

CB, 13/04/2004, Brasil, p. 16

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