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Coroa Vermelha está virando favela

A Tarde-Salvador-BA
23 de Nov de 2003

O processo de favelização de Coroa Vermelha preocupa autoridades e moradores e está
motivando a criação de um conselho para administrar o local onde foi
rezada a primeira missa no Brasil.

O problema vem desde 1999, quando a comunidade indígena pataxó de
Coroa Vermelha recebeu um grande contingente de índios da região, em
busca da sobrevivência.

Muitos deles abandonaram as lojas do centro comercial para montar
suas barracas nas calçadas, ou na Praça do Cruzeiro, mais perto do
fluxo turístico. Outros, em busca de moradia, construíram barracas e
casas de forma desordenada, nas margens do Rio Mutary.

ÍNDIOS RECONHECEM - "A situação na Coroa é crítica, nasci num lugar
maravilhoso e hoje me sinto machucada, mas a culpa do que aconteceu
não foi só do índio", ressaltou a vereadora Luzia Pataxó. O índio
Peroá diz que "não é fácil ver um sítio histórico transformado em
favela, com barracas montadas em local onde não poderia, pelos
próprios índios" salientou o presidente da Cooperativa Pataxó.

Existe ainda a suspeita da presença irregular de não-índios no local,
por isso, "uma das preocupações é realizar um censo indígena na
região, inclusive para tirar os não-índios das aldeias", informou o
chefe do Núcleo de Apoio da Funai em Porto Seguro, José Valério Silva
Matos. Os recursos financeiros para finalizar a obra de reorganização
da Coroa Vermelha já foram destinados pelos governos federal e
estadual, mas a administração do local deverá ser feita de forma
conjunta, por órgãos públicos e comunidade indígena.

DEMARCAÇÃO - Uma das principais obras realizadas durante as
comemorações dos 500 Anos do Brasil foi a reorganização do terminal
turístico da Coroa Vermelha. Após a demarcação da área como terra
indígena Pataxó, todo o local foi reurbanizado, sendo construído o
Museu Indígena, Centro Comercial Indígena e uma gigantesca cruz em
aço e granito, e outras, tudo coordenado pelo então ministro do
Turismo Raphael Greca.

Aos poucos as intenções de tornar a Coroa Vermelha um dos principais
pontos turísticos do País esbarraram na realidade da administração de
uma área com vários donos.

É zona urbana com todos os problemas de infra-estrutura, limpeza,
iluminação, água, esgoto, e segurança, de competência dos governos
estadual e municipal. É reserva indígena com todos os direitos de
posse dos índios assegurados pelo governo federal aos Pataxó.

E é parte integrante do patrimônio histórico da Costa do
Descobrimento, apontado como local da primeira missa celebrada no
Brasil, em 26 de abril de 1500 por frei Henrique de Coimbra, citado,
inclusive, na Carta de Pero Vaz de Caminha.

O conselho quer conciliar a sobrevivência dos índios pataxós com a
preservação ambiental e patrimonial, além de administrar as
potencialidades turísticas de Coroa Vermelha. Esse assunto foi
discutido numa reunião com representantes do Instituto Nacional do
Patrimônio Histórico (Iphan); da comunidade indígena Pataxó; da
Prefeitura de Santa Cruz Cabrália e da Funai.

A importância da preservação em parceria com as comunidades
residentes foi destacada pelos representantes do Iphan: "A Coroa
Vermelha é um patrimônio cultural de toda a Nação, o Brasil nasceu
aqui. Mas é fruto da sociedade, tem que gerar uma cadeia produtiva
com as populações locais", argumentou o superintendente do Iphan na
Bahia, Frederico Mendonça. "A Coroa Vermelha pode voltar a ser
bonita", acredita o novo gerente da 9ª sub-regional do órgão, Luiz
Villa.

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