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Cores, nomes

FSP, Revista da Folha, p. 14-18
25 de Fev de 2005

Cores, nomes
Bichos, índios e prédios históricos numa viagem pela diversidade da floresta amazônica

por Roberto de Oliveira

Um labirinto interminável de rios, lagos e igarapés rabisca o verde exuberante da Amazônia. Quem vai à floresta busca seus encantos: mata, bichos, índios e água que parece não acabar mais. Faz tempo que aquela vasta diversidade de espécies deixou de ser destino de naturalistas, aventureiros e viajantes excêntricos, sobretudo estrangeiros com espírito Indiana Jones.

O terreno fértil da ficção acaba por aí. Da janela do avião, campos abertos por motosserras, tratores e queimadas dão espaço à invasão de lavouras de soja e pecuária. São manchas que embaralham os olhos e ameaçam trocar o superlativo da maior floresta tropical do mundo pelo diminutivo.

Sobrevoar a mata dá uma ansiedade danada, mas forte mesmo é a sensação amarga de que a floresta começa a emitir sinais claros de que agoniza, principalmente nas regiões de Mato Grosso e Pará, entre as mais devastadas.

Em tempos de aquecimento global e ameaça de derrubada de árvores, ainda há o que apreciar -mesmo que ninguém saiba durante quanto tempo. Portanto é melhor se apressar. A principal porta de entrada da floresta é Manaus. Da capital do Amazonas, partem excursões pelos rios Negro e Solimões. Rica em folclore e história, a cidade, com cerca de 1,5 milhão de habitantes, encravada entre rios e mato verde, por si só já vale a viagem.

Para mergulhar no clima amazônico, comece pelo Mercado Municipal Adolpho Lisboa, réplica do antigo parisiense Les Halles. Não espere pela exuberância e pela diversidade do Mercado Ver-o-Peso de Belém (PA). Nem por isso o centro de compras manauense deixa de ser pitoresco e ter sua graça.

Cores, cheiros, plantas, peixes, um mundo exuberante se revela de frente para o rio Negro, em meio ao calor úmido que beira o insuportável. Não desista. Inaugurado em 1882, o mercado sempre foi o principal centro de compra e venda de produtos típicos da Amazônia na capital amazonense.

Artesanato indígena, frutas típicas, carnes, poções caseiras que prometem curar desde mau-olhado até dor-de-corno, instrumentos musicais, zarabatanas, sementes. Um aperitivo caprichoso do que o visitante encontrará pela frente.

A poucos metros dali, o exótico dá espaço ao exuberante. Mesmo os mais exigentes se curvam à beleza do Teatro Amazonas, o maior expoente das construções históricas de Manaus, legado histórico deixado pelo milionário ciclo da borracha, entre os séculos 19 e 20.

Inaugurado em 1896, o teatro é uma das obras mais importantes da arquitetura neoclássica brasileira. O material de construção foi importado da Europa, excluindo-se aí a macacaúba e o jacarandá, madeiras retiradas da floresta e usadas em poltronas e parte do piso.

Do lado de fora, a construção chama a atenção. A cúpula, por exemplo, é revestida com 20 mil telhas vitrificadas, nas cores da bandeira brasileira.

Dentro, no teto e nas paredes, pinturas do italiano Domênico de Angelis, que buscou inspiração na região. No salão nobre, foram encaixadas 12 mil peças no assoalho. Os lustres, de cristal, vieram de Murano (Itália). O pano de boca do palco retrata o famoso encontro das águas do Negro e Solimões.

Esse belo manifesto da natureza é outro passeio disputadíssimo. Turistas do mundo inteiro viajam ao Amazonas para apreciar a união dos dois rios, que ocorre a cerca de 12 km de Manaus.

Lado a lado, as águas barrentas do Solimões e as escuras do Negro correm sem se misturar por aproximadamente 6 km, formando o Amazonas, o maior rio do mundo em extensão e volume.

Hóspede da selva
Quem chega por Manaus, o caminho para os hotéis de selva da região amazônica é feito pelo Negro. Em dias de banzeiro, a agitação vagarosa e em pequenas ondas, aliada à imensidão d'água, lembra o mar, chacoalhando o visitante para lá e para cá.

Há diferentes opções de hospedagem, concentradas às margens do rio e de seus afluentes, oferecidas aos turistas que procuram conhecer a floresta. Se o seu barato são hotéis rústicos, existem os de madeira, cobertos de palha. Para quem está atrás de conforto, os de alvenaria predominam. Há aqueles construídos sobre balsas ou ainda suspensos em palafitas erguidas em meio aos igapós (terras alagáveis).

Para quem pretende aproveitar os encantos da mata e os da cidade grande, uma dica é o novo Tiwa Amazonas. Ele fica às margens do rio Negro, do outro lado de Manaus. São 62 apartamentos com varandas sobre um lago natural, onde vivem peixes e jacarés.

A piscina foi construída de frente para o rio. O hotel dispõe de uma estação própria de tratamento de esgoto que reduz o impacto ambiental de todo o empreendimento.

Na programação, o Tiwa não se difere de outros hotéis de selva. Alguns programas valem a pena. Um deles leva 30 minutos. Subindo o Negro, o visitante chega a uma "filial" da tribo dos Dessanos. Vale registrar que um quarto da Amazônia é de terra indígena.

Pertinho de Manaus, os índios Dessanos mantêm, às margens do rio, uma área de agricultura de subsistência e um espaço destinado a apresentações turísticas. Dentro de uma imensa oca, cerca de 30 integrantes, entre eles crianças, mulheres e idosos, dançam, brincam, celebram e ainda levam os visitantes para a roda. No final, do lado de fora da palhoça, suvenires feitos pela própria tribo estão à venda.

No lugar da dança, uma família de ribeirinhos, que vive de frente para o rio Negro, recepciona os visitantes com pratos locais em um outro programa oferecido aos hóspedes. Castanha-do-pará, açaí e guaraná predominam no cardápio de doces e salgados.

Se der sorte, no caminho de volta ao hotel, é possível assistir ao espetáculo de botos cor-de-rosa e tucuxis dando piruetas no ar. Mas não espere cruzar com uma onça no caminho ou avistar antas, veados e ariranhas fazendo graça, esses bichos, sabiamente, não são chegados à presença humana. Bem diferente da macaca-aranha Shakira, 2, que recepciona e adora "acompanhar" as atividades dos hóspedes do Tiwa.

É provável que uma algazarra de pássaros te desperte bem cedo na cama. Um bom momento para aproveitar o embalo e encarar uma caminhada nas areias do Negro e ver o nascer do sol no meio do rio, acompanhado de Lara e Cabeção, um casal de araras-vermelhas que também vive no hotel -tanto as aves como a macaca foram trazidas pelo Ibama para reintrodução na selva.

A trilha percorre um caminho de mata fechada, onde outros sons insólitos deixam o visitante atento, e passa por um cemitério ribeirinho. Repelente nessa hora é indispensável.

Por incrível que pareça, a população de carapanãs, como são chamados por lá mosquitos, pernilongos e cia., às margens do rio Negro é praticamente pífia, por conta do grau de acidez da água. Quando ela é branca e mais barrenta, caso dos rios Solimões e Amazonas, aí, sim, esses insetos fazem a festa.

Uma coisa é certa: voltar para casa com umas picadinhas pelo corpo faz parte do pacote de visitar a região da bacia amazônica, responsável pela produção de cerca de 20% do oxigênio da Terra. Respire fundo e relaxe.

Roberto de Oliveira viajou a convite do Tiwa Amazonas Ecoresort.

Quem leva

Facility Turismo, tel. 4437-3211 (www.facilitytour.com.br). A partir de R$ 1.898. Inclui aéreo, traslados, três noites de hospedagem no hotel de selva Tiwa Amazonas Ecoresort em apto. duplo com pensão completa, passeios, mochila e seguro-viagem.

Filadélfia Turismo, tel. 6442-8000 (www.filadelfiaturismo.com.br). A partir de R$ 1.998. Inclui aéreo, traslados, três noites no hotel de selva Jungle Palace em apto. duplo com pensão completa, passeios, mochila e seguro-viagem.

Terra Mundi Viagens, tel. 3898-0168 (www.terramundi. com.br). A partir de R$ 2.098. Inclui aéreo, traslados, três noites de hospedagem no hotel de selva Ariaú Amazon Towers em apto. duplo com pensão completa, passeios, mochila de caminhada e seguro-viagem.

FSP, 25/02/2005, Revista da Folha, p. 14-18

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