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Coptrix e a realidade das discussões ambientais

www.cdb.gov.br
28 de Mar de 2006

Coptrix e a realidade das discussões ambientais
Evento faz analogia ao filme Matrix para mostrar o que estaria por trás dos debates sobre diversidade biológica

Marina Koçouski

(Pinhais, PR, 28/03/2006) Na trilogia Matrix, o que pode ser considerado real não é de fato a "realidade" que as pessoas vivem. Aqui na 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8), o Instituto Socioambiental (ISA), uma das mais importantes organizações ambientalistas do Brasil, elaborou o Coptrix, evento paralelo que acontece nesta terça e quarta-feira, no Fórum Global da Sociedade Civil, que pretende mostrar o "mundo real" por trás dos temas da COP8 e seus problemas.

Para o biólogo Fernando Mathias, do ISA, há diversas "encruzilhadas" nas discussões da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) e suas revisões ao longo dos anos. "As reuniões são muito distantes da realidade e pouco têm contribuído para a conservação da biodiversidade. A cada edição do evento aumentam os impasses, que vão se arrastando", exemplifica.

Ele diz que aspectos econômicos determinam as diferentes velocidades na negociação de acordos entre países, além de criarem laços de dependência entre países pobres e ricos. Outro problema é que a noção de repartição de benefícios reforçaria ainda mais o mercantilismo, favorecendo aqueles que podem pagar mais, numa relação de troca. Em relação aos conhecimentos dos povos tradicionais, explica, a noção de patenteamento que começa a surgir nas comunidades pode bloquear a livre circulação das informações entre os membros e, portanto, a continuidade da transmissão dessas informações.

Nurit Rachel Bensusan, consultora da WWF-Brasil, diz que a CDB, firmada em 1992, não conseguiu, após 14 anos, formalizar instrumentos efetivos de implementação. "Os programas temáticos, exceto de áreas protegidas, não possuem metas nem cronogramas definidos de aplicação", considera. Ela acredita que a tomada de decisões, na forma de consenso entre todos os países, ajuda a emperrar as negociações. Também a necessidade de aproximação com o setor privado, que destrói a biodiversidade, pode significar maiores dependências ou concessões. Nurit avalia que o setor empresarial faz um grande lobby e também nas negociações diárias que faz com cada governo.

Sobre a situação dos países megadiversos, em desenvolvimento, a alemã Christine Von Weitzsacker, da Ecoropa, diz que há uma sutil penetração de regras de mercado internacional para facilitar o acesso aos recursos destes países. Por outro lado, há regras restritas como o Tratado Sobre Direitos de Propriedade Intelectual (Trips), da Organização Mundial do Comércio (OMC), para patentear microorganismos, processos biológicos e microbiológicos.

"A influência do poder econômico está no discurso de que é preciso estar de acordo com este mundo neoliberal. No caso, o meio ambiente estaria emperrando o desenvolvimento. Os setores governamentais de comércio e agricultura pressionam os ministérios de Meio Ambiente", avalia Christine. Apesar disso, ela tem uma posição positiva em relação à CDB. "É um espaço que ajuda a despertar consciências. Muitos países ainda não têm uma noção clara sobre a importância da biodiversidade. A convenção aproxima os ministérios do meio ambiente de todo mundo", conclui.

Serviço
Lançamento de livro - Foi lançado nesta terça-feira, durante a Coptrix, o livro "Encruzilhadas das Modernidades: Debates sobre Biodiversidade, Tecnociência e Cultura", que faz parte da série "Documentos do ISA", Instituto Socioambiental, que tem como organizadores Fernando Mathias e Henry de Novion. O livro, de 395 páginas, é resultado de um seminário realizado em 2005, que contou com a participação de ONGs, indígenas, quilombolas, andirobeiras, raizeiros, representantes governamentais do Brasil e outros países. O trabalho trata do tema acesso a recursos genéticos, repartição de benefícios e proteção de conhecimentos tradicionais.

www.cdb.gov.br, 28/03/2006

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